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Aquele dia mal tinha começado e Reverie era o único aluno que se encontrava atrasado na reunião matinal de seu dormitório.
O jovem de cabelos e olhos de um castanho tão escuro parecia que iria dormir de pé a qualquer momento, todas as palavras do líder sobre o começo da semana não se fixaram em sua cabeça e tudo que mais queria era o que todos queriam...
Serem liberados para tomar o café da manhã.
Quando a hora finalmente chegou, para seu infortúnio, teria que esperar...
Foi impedido de acompanhar todos os outros colegas por alguém o segurar a sua vestimenta por trás, ele já sabia quem é e não seria uma boa ideia contrariar.

- Céus, não me diga que você vai assim? - Opinou o rapaz loiro que o impediu, seus olhos ametistas pareciam lhe jogar farpas em desaprovação, assim como a entonação de sua voz. - Não, vem cá.

Nem desobedeceu, apenas acompanhou o garoto de cabeça baixa. A única coisa que ignorou é alguns olhares de alunos que o viam ir na direção oposta.
Provavelmente porque eles queriam ter a metade da atenção que ele tem do Vil, que nunca pediu pro mesmo para ter.
Não levou muito tempo para entrarem no quarto do loiro e ter ele insistindo que se arrume direito. Ao ser incapaz de fazer o que foi pedido, Vil se aborreceu, pegou a cadeira da sua escrivaninha e o mandou sentar. O garoto apenas obedeceu desistente com uma expressão de incômodo e logo já sentia seu cabelo à mercê das mãos do outro.
Reverie sentiu um imenso sentimento de culpa por ser um peso.

- Reverie. - A bela voz sempre com um tom sério o chamou a atenção, saindo dos pensamentos indesejados. - Fui duro demais?

- Não, eu... Eu sinto muito. - O garoto o responde entristecido, abaixando a cabeça novamente.

- Não. - Após negar, a mão de Vil levantou a cabeça do garoto, o fazendo lhe encarar novamente. - Eu que sinto muito.

Faz quase um mês que Reverie nota que o belo rapaz mudou suas atitudes sobre sua pessoa.
No início, Vil o detestava só por existir, afinal, ele é tudo que o loiro julga ser uma grande ofensa.
Apesar de não ser o líder, simplesmente decidiu que iria encher o saco de Reverie para honrar a Pomefiore. Porque um dormitório tão antigo e importante merece seu devido respeito.
Pra falar a verdade, o coitado não faz ideia o porque está aqui também.
O loiro só mudou a atitude logo após dizer o que pensava sobre a beleza dele, desde então parece estar tentando ser mais cuidadoso e gentil. Como se realmente se importasse com sua pessoa.
Mas ele é mais um entre milhões, não é possível que o cara amoleceu por tal coisa, certo?
Entretanto, a companhia do modelo não lhe incomodava.
Depois de receber uma borrifada de perfume, foi liberado para comer o café da manhã.

- Nada de jejum. Você vai comer, se eu ver de novo que só pegou um leite com chocolate e dormir na mesa do refeitório... - Claro, tinha que dar um aviso. Por que não? - Eu vou puxar sua orelha e seu almoço vai ser só sopa e salada por uma semana. Você entendeu?

Parece até uma mãe.

Finalmente, agora o dia realmente pode começar.

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Em meio às atividades do dia, Reverie se encontra nas atividades de seu clube e costuma ficar na maior parte sozinho.
Tendo suas dificuldades para socializar com outros colegas que não seja o professor responsável pelo clube, um rapaz de cabelos esverdeados, Trey, às vezes tenta aproximá-lo da turma...
Mas nunca dá certo.
O garoto se encontrava a cuidar das plantas que havia plantado no jardim botânico. De forma lenta e despreocupada, apenas tentando seu melhor pra não acabar as matando sem querer, enquanto imagina como seria suas flores quando amadurecerem.
Até que uma mão apontando para uma das plantas aparece de repente.

- Essa aqui não gosta muito de sol. - Quando o garoto foi ver quem seria, o sujeito lhe deu um imenso sorriso. - Bonjour!

Os olhos castanhos encaravam bem abertos um outro loiro de olhos verdes, cheio de sardas e pontos avermelhados na pele por causa do sol.
Mas todo mundo sabia que é Rook Hunt quando via o chapéu.
A insistência e companhia de Vil teve a consequência de atrair o "caçador do Savanaclaw", a curiosidade do sujeito a sua pessoa foi apenas porque estes dois parecem ter criado uma amizade.
Não se importava com a estranheza que assusta a maioria dos membros do dormitório do rei das feras, apenas a mania de aparecer de fininho tão de repente pra soltar sua opinião quando nem foi pedido, é o que lhe incomodava um pouco.

- Eu vou... Colocá-la em um lugar com mais sombra, então. - Lentamente, pegou uma pázinha pra começar a retirar a planta que foi apontada, até voltar a encarar Rook. - Obrigado, Rook.

- Que isso, é sempre bom ajudar.

Silenciosamente Reverie mudou a posição do broto e enquanto Rook apenas lhe observava de forma sorridente.
Ao terminar, se sentindo desconfortável, encarou o caçador para questionar.

- Você quer falar algo comigo...?

- Que bela fita você está usando hoje.

Claro que o garoto estranhou esse comentário, até parar pra pensar. Retirou a sua luva de laboratório cheia de terra, tocou nos fios próximos à nuca e sentindo algo como uma fita de veludo.
Tendo a realização que mal tinha sentido Vil fazer o laço quando se perdeu em pensamentos negativos horas atrás.

- Um azul profundo quanto as profundezas do oceano ou a cor mais bela do anoitecer... Beauté! - Rook dá sua opinião com um tom animado. - Engraçado você não ter notado até agora. Foi a primeira coisa que eu vi à distância, como um pequeno passarinho a passear pelo gramado. Você realmente me surpreende com a sua falta de atenção, Monsieur Découragé.

Após saber o que está prendendo o seu cabelo e sua cor, logo volta a vestir novamente a luva que tirou. - Veio até aqui pra ver isso de perto?

- Oh non. Mesmo sendo tão encantador, eu vim para ver um amigo do meu amigo.

Reverie levou seu tempo para processar as palavras de Rook. - Amigo...?

- Huuum? - O loiro levantou uma sobrancelha em surpresa, estranhando. Só para voltar a falar com o sorriso de sempre. - Oui! Você é tão tapado quanto uma papillon de nuit cega pela luz. Ele te descreveu tão bem, é difícil não achar engraçado.

Honestamente o de cabelos castanhos não sabe nem a metade das palavras que o outro garoto estava falando. Só sabia que claramente não são elogios e suspirou fundo em ver alguém rindo da sua cara.

- Si désolé... Eu me lembro que na última vez que conversamos, você disse que gosta de musicais. Eu queria compartilhar algumas músicas com você. - Ao falar isso, Rook tirou seu celular do bolso.

- Provavelmente eu não vou conhecer nem a metade do que você já ouviu. - Comentou Reverie, no fundo levemente surpreso por aquele garoto querer se enturmar com sua pessoa. - Eu queria ouvir, mas... Eu preciso continuar os meus afazeres.

O caçador simplesmente se aproxima, ficando quase grudado ao seu lado com a tela iniciando algum tipo de vídeo. - Você pode continuar, enquanto ouve! - Ele é conhecido por ser muito insistente e uma pessoa tão desistente quanto Reverie não ia conseguir afastá-lo de forma alguma. - Esse aqui é sobre uma garota que se torna a quarta integrante de um trio popular da escola, enquanto o par dela o segundo protagonista é um garoto de casaco preto-

- Eu sei que musical é esse! - Reverie quase grita de emoção, pela primeira vez no dia ele parece animado. Completamente esquecendo das plantas por hora e vendo a tela do celular. - Eu adoro essa música!

- Eu também!

Pela primeira vez, os ânimos de Rook influenciaram o garoto com a expressão sempre triste. Tanto que apesar da vergonha a insistência do outro o fez até cantar junto.
Infelizmente atraindo a atenção de alguém que não parece muito contente.

- Olha só, nós temos dois garotinhos maus por aqui...

Ao ouvir a voz do professor Crewel, Reverie começou a chorar por dentro, porque era exatamente isso que ele queria evitar.
A alegria durou tão pouco tempo.
O castigo recebido era ficar tirando as ervas daninhas e larvas não desejadas de algumas plantas do local, enquanto que Rook insistia em ficar e recebeu advertência três vezes. Na terceira o líder foi chamado, Reverie ao ver a cena parecia que o cara estava com o maior mal humor que esse mundo já viu.
E Rook não parava de gritar "Roi du Leon", a cada vez que dizia isso, parecia que uma parte do líder do Savanaclaw morria por dentro.

Sentimentos por uma Rainha - Episódio 0Where stories live. Discover now