O jantar de noivado

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Eu sempre tive um dom estranho, posso ouvir pensamentos desde que olhe nos olhos das pessoas. É uma merda, na verdade, escuto o que não quero e quase sempre me decepcionou ou pior, traumatizo, quando escuto os pensamentos obscenos do meu irmão mais velho. Um pervertido desajustado que namora a muralha de gelo do ártico.

E por que eu desabafando com um caderno? Talvez, eu seja maluco, mas hoje tem um jantar na casa do namorado do meu irmão idiota. E o que tem demais? Bem, eu tenho que olhar nos olhos do Lan Qiren e não me entendam mal, o homem culto e refinado, um empresário dono da maior produtora de alimentos orgânicos do país, odeia o Wei Wuxian e quase internou o próprio sobrinho, pela má escolha de parceiro.

Eu tenho que olhar em seus olhos e ouvir seus pensamentos, pois desviar o olhar seria uma grande falta de educação. Eu também não posso fugir desse jantar, são apenas eu, minha irmã e o Wei Wuxian vivos na família, nossos pais morreram quando ainda estávamos no colégio. E como ela se casou com a família Jin que é dona da construtora que construí quase os grandes empreendimentos da cidade, ela viaja com meu cunhado e não tem como comparecer, em outras palavras, sobrou apenas eu como a única representação da família para o Wei Wuxian.

E por mais que eu queira dizer que ele é um renegado, ainda não posso fugir. Então somente me resta ouvir os pensamentos desprezíveis do senhor Lan contra o Wei Wuxian e fingir que não é comigo. Que saco!

O meu dom já me ajudou, não posso ser hipócrita, posso desvendar os truques de qualquer um apenas olhando nos seus olhos, e dizem que os olhos é a janela da alma e que eles nunca mentem.

Eu, Jiang Wanyin, no alto dos meus trinta e dois anos, não acredito nisso. Pessoas habilidosas podem enganar alguém olhando no fundo dos olhos das suas vítimas, mas ninguém me engana, eu ouso seus pensamentos e desejos obscuros, e quase sempre ando com um boné cobrindo meu rosto e olhos quando não quero ouvir pensamentos de ninguém.

O mais triste desse poder são as traições, alguém em quem confio ou penso ser meu amigo, quando olho nos seus olhos posso ver as suas verdadeiras cores e quase sempre me decepciono e essa, talvez, seja a explicação do porque ainda sou um homem virgem que nunca beijou, pois quando descubro os pensamentos dos outros ao meu respeito acaba me causando nojo e decepção. Não há como escapar do meu dom ou encontra alguém que não tenha maus pensamentos e índole duvidosa. E para não me decepcionar prefiro ficar sozinho, pois meu trabalho como fotógrafo de aventuras me mantém ocupado, pois eu viajo muito, não o suficiente para me livrar das enrascadas que o Wei Wuxian me apronta.

Então me arrumo e encaro essa noite em família; fingido está confortável naquela casa cheia de pompa, etiqueta e muita censura moral, um inferno que apenas eu seriei capaz de ouvir, pois apenas eu ouvirei como está as coisas na verdade, sem disfarces ou eufemismo falsos envolto em etiqueta e maneirismo cavalheiresco.

Fecho meu caderno e me visto, claro, tranco com dez cadeados, o Wei Wuxian é um bisbilhoteiro infame e não quero ele tenha conhecimento dos meus pensamentos.

Coloco um terno preto de alta costura bem aliado, acho que meu bumbum que é ridiculamente redondo, ficou mais acentuado, felizmente vou a um lugar em que palhaços não vão me assediar, então tudo bem. E para quem não entendeu: eu sou gay, mas não espalho por aí, se espalhasse seria pior, apenas ouvir pensamentos maldosos dos outros ao meu respeito, me deixa com nojo. Outro problema de ter um dom como o meu é que me relacionar fica difícil, pois ao olhar nos olhos de alguém consigo ver suas intensões reais. É igual um teste drive, e nunca vou comprar um automóvel que sei que tem falhas graves.

Por isso sou fotógrafo profissional de aventura, arrisco minha vida por um click incrível e único e graças às ações da minha família em outras empresas, eu posso me dar ao luxo de fazer o que quiser e ainda lucra com isso. Pode parecer macabro ou depressivo, mas quando pulo de um avião ou me arrisco com animais selvagens ou em corredeiras mortais, o que procuro é me acidentar ou talvez morrer fazendo o que gosto.

Olhos ReveladoresWhere stories live. Discover now