XI

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Elis ficou completamente sem palavras. Não sabia o que dizer. Não tinha o que dizer. Então começou a questionar se realmente ouvira o que achava que tinha escutado.

Não. Não podia ser. Vicenzo Bravo não teria falado o que ela achava que ele tinha falado.

- Creio que eu não tenha entendido.

- Creio que você entendeu muito bem, Elis. Só não pego a sua irmã para viver comigo se você for no lugar dela.

- Mas isso é ultrajante. Eu não vou ser sua amante.

- Posso fazer uma concessão. Sua irmã seria minha amante porque já está casada, mas você seria minha esposa. Casaríamos no papel e na igreja como manda o figurino.

- Eu não posso aceitar isso.

- Então você decidiu o futuro de todos nós. Não se preocupe: quando eu e Aimée estivermos juntos, seu precioso Lúcio pode ficar com você.

- Você me dá nojo.

Ele riu, mas o sorriso não lhe chegava aos olhos.

- Ou será você  ou será a mulher do seu precioso Lúcio. Eu dou até o meio-dia do domingo para a senhorita pensar. Agora tenho que ir, Esmeralda me espera. - então deu um sorriso verdadeiro.- Nos encontramos na missa do domingo para ouvir o seu sim.

Então saiu. Elis sentou na cama. Estava atônita. Por que ele iria querer casar-se com ela se estava apaixonado por Aimée? O que estava se passando na mente daquele homem?

A porta do quarto foi aberta e Elis nem ao menos notou.

- Srta. Elis. - falou a moça um tanto assustada. - Desculpe-me, pensei que não havia ninguém. Eu vim limpar, mas volto outra hora.

- Não é necessário. - disse levantando-se. - Eu já estava de saída.

Elis seguiu até a porta. Estava ainda muito nervosa. Vicenzo Bravo tinha o poder de desestabilizá-la. Precisava pensar. Precisava pôr em ordem seus pensamentos para decidir o que fazer. Olhou para a moça arrumando a cama.

- Você me faria um favor? - perguntou chamando a atenção da funcionária da casa.

A mocinha de pele muito escura que não parecia ter mais de quinze anos olhou para Elis com um sorriso de bonitos dentes brancos.

- Certamente, senhorita.

Elis sorriu para a moça de volta. Ela parecia extremamente feliz apesar das óbvias desventuras da vida que provavelmente passa por ter nascido num país racista e onde a abolição da escravatura era ainda tão recente.

- Eu preciso de um banho quente, vc poderia providenciar. - a menina arregalou os olhos.

- Mas está um calor dos infernos, senhorita. - vendo o que tinha falado, colocou a mão na boca. - Desculpe, senhorita, eu vou providenciar sim.

- Obrigada. - sorriu e dirigiu-se para o quarto que estava destinado a ela.

Realmente estava muito quente no Rio de Janeiro, mas ela precisava pensar e fazer isso numa banheira quentinha era certamente uma escolha segura.

Era uma vez... um Selvagem (FINALIZADO)Where stories live. Discover now