XXXIV

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Os dias voltaram a transcorrer normalmente. Sem Esmeralda na cozinha, Elis pôde demonstrar seus dotes culinários. As horas que passava pensando em outras coisas, a livrava algumas horas de sofrer por seu bebê. Algumas horas da tarde, Vicenzo a acompanhava nas cavalgadas pela fazenda. Brisa era muito mansa e já estava bem acostumada à sua dona. Algumas vezes eles ficavam no escritório de Vicenzo, onde ele lia em italiano e a ensinava sua língua materna.

A barriga de Ana Laura já estava bem dilatada. Ela e Tomé estavam muito felizes, mas a família Pontes de Miranda ainda não os tinha aceitado. Se é que isso aconteceria algum dia. Dona Catarina sempre ia visitar a filha. Aimée estava cada vez mais reclusa. E Elis não a via desde que perdera o bebê. Dona Catarina falava que Aimée estava depressiva porque não conseguia engravidar. Elis foi visitá-la mesmo contra a vontade do marido. Mas Vicenzo a acompanhou.

- Boa tarde. - Elis falou ao chegar na fazenda dos Pontes de Miranda. Somente os pais de Lúcio estavam na sala.

- Boa tarde, querida. - a senhora da casa se levantou para falar com Elis e cumprimentá-la com um abraço caloroso.

- Como a senhora está, madrinha?- falou, educada, mesmo diante do que a madrinha já tinha lhe feito.

- Estou tão infeliz, minha filha. - falou baixo para o marido não escurar. Vicenzo já havia se sentado a convite do senhor Pontes de Miranda. - Minha vida sem minha filhinha está sendo tão desanimadora. Ela sempre me fez tanta raiva, mas viver sem ela está sendo horrível.

- A senhora pode reverter isso, madrinha.

Ela olhou de soslaio para o marido.

- O pai dela não aceita em hipótese alguma. Disse que não terá um neto negrinho. E eu sofro tanto com isso. Apesar de que será de cor, é meu neto. Sangue do meu sangue.

Elis queria revirar os olhos, mas se conteve.

- Madrinha, onde está Aimée? Eu vim vê-la.

- Está no quarto. Ela vive trancada naquele quarto ultimamente. E eu não reclamo. Muito melhor é ficar sem vê-la ou ouvir a sua voz. Depois de tudo o que ela fez.

- Por favor, madrinha. - as duas olharam ao redor para ver se eram ouvidas. - Eu posso vê-la? - a mulher assentiu. - Ela está só? - assentiu novamente.

- Eu acompanho você.

- Vicenzo? - chamou o marido. - A madrinha vai me acompanhar até o quarto de minha irmã. - ela percebeu o desagrado dele. - Ela está só. - então assentiu.

A madrinha foi até o quarto de Aimée e do filho reclamando da vida. De Ana Laura que não pensou nela quando fugiu. Do marido. Até de Lúcio que sempre fora um filho exemplar. Bateram na porta e logo entraram. Elis não estava preparada pra o que tinha diante dos seus olhos. Aimée deitada na cama. Parecia sem vida. Ainda era bela, claro, mas sem nenhum brilho no olhar. Estava apática.

- Elis? - ela falou, surpresa. E se sentou na cama.

- Olá, Aimée. - Elis se aproximou.

- Sente-se aqui. - bateu na cama, ao lado dela.

Elis sentou-se de frente para ela. E sem que esperasse, Aimée deu-lhe um abraço. E mais inesperado ainda, começou a chorar.

Era uma vez... um Selvagem (FINALIZADO)Where stories live. Discover now