João 15:13

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Shannon abriu o mapa com a planta do lugar. Memorizou entradas e saídas, possíveis desvios, números de galpões... Repassou na mente cada detalhe do plano. Naquela noite, um contrabandista de antiguidades iria fazer uma entrega nas docas. A mercadoria?

"Se eu estiver certo," disse Vincent às irmãs guerreiras, "é uma relíquia sagrada que pertence ao Vaticano.

"Mas o que essa relíquia tem a ver com a OCS"?, questionou Beatrice.

"Não sei. Mas a ordem veio de cima e, pra terem nos convocado, imagino que eles queiram discrição".

Mas Vincent estava mentindo. Conhecedor do mercado negro de antiguidades, ele sabia que o objeto daquela transação era nada menos que a couraça da armadura de Adriel, 'perdida' desde a Segunda Guerra. Uma quantidade considerável de divinium, que não poderia jamais cair em mãos inescrupulosas (de novo). Mas, e as mãos de Vincent? Ele não as teria sujas de sangue? "É por um bem maior", repetiu para si mesmo, tentando justificar o que estava prestes a fazer. Enquanto isso...

"Está na hora", avisou Mary.

Shannon espantou um mau pressentimento e fez sinal positivo com a cabeça. Depois conferiu as armas, beijou o medalhão que sempre carregava e partiu para a missão. Embora a cada minuto estivesse mais perto de descobrir que seria a última.

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Haziel costumava ignorar boatos. "Fofoca de anjo... era só o que me faltava". Mas se o rumor que vinha circulando nos últimos dias tivesse algum fundamento, então Adriel estava perigosamente se aproximando da liberdade. Preso há quase 1000 anos, ele havia encontrado uma maneira de se comunicar com o exterior. E, uma vez livre, as consequências seriam inimagináveis. Lutaria contra Samael, ou os dois voltariam a se aliar? "Não, isso não pode acontecer", pensou. "Eu sei que Uliel não vai gostar, mas 'tá' na hora de eu fazer outra visita aos humanos".

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Jillian tomou uma dose de whisky e olhou o relógio pela terceira vez, quando o som de uma notificação no smartphone trouxe a mensagem que ela esperava.

"Eles já estão a caminho das docas", falou para Kristian, referindo-se à equipe de mercenários contratados para receber a mercadoria.

Em breve, a Arq-Tech estaria em posse de sua aquisição mais valiosa. E Michael, mais próximo de sua cura. No entanto, o que a dra. Salvius ignorava era que na equipe de Mr. Macready havia um infiltrado, sob as ordens do padre Vincent. Não para roubar o divinium, mas para executar seu plano sórdido: eliminar a 'Warrior Nun'. E assim, quando Shannon se aproximou do container, onde uma bomba havia sido cuidadosamente instalada, o homem nas sombras levou o dedo ao botão do detonador. Quase que simultaneamente, Haziel se materializou a poucos metros dali, mas fora da visão de todos, fazendo o divinium reagir e potencializar ainda mais a explosão que veio em seguida. Como era de se esperar, Shannon recebeu o maior impacto e foi arremessada para longe.

"Abortar"!, gritou Lilith.

E, enquanto Mary retirava Shannon da linha de tiro, Beatrice e as outras lhe davam cobertura. Ainda próximo ao local, e escondido atrás de outro container, Haziel se curou dos ferimentos usando o próprio halo. Mas sabia que não devia mais contar com esse poder. Não se quisesse continuar com o plano. Pois, do contrário, Uliel acabaria rastreando sua assinatura energética. E certamente tentaria impedi-lo de cumprir seu propósito. Então, ergueu a mão sobre a cabeça, segurou o halo com força e o introduziu dentro do peito. A partir daquele momento, andaria disfarçado entre os humanos.

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Não foram apenas os homens de Mr. Macready que seguiram as irmãs guerreiras até a igreja para onde fugiram. Haziel também não as perdera de vista. Acompanhou em segredo cada passo delas, enquanto carregavam Shannon gravemente ferida. E não havia mais tempo. "É só pegar o halo e dar o fora", repetiu o pensamento de mais cedo, quando havia decidido ir à Terra. Mas agora ali, assistindo àquela humana morrer nos braços de sua amiga... Haziel deteve-se atrás de uma coluna, observando-as como se estudasse seu comportamento. O sofrimento de Mary, a resignação de Shannon, a lucidez de Beatrice, e Lilith... sendo Lilith. O sentimento que as conectava despertou algo nele. De repente, se sentiu culpado. "Se eu não tivesse aparecido, talvez a força da explosão não fosse o bastante para matá-la", ponderou em silêncio. "E talvez se eu...". Mas não chegou a concluir. Outra bomba explodiu naquele exato instante, desencadeando os eventos que levariam uma certa garota tetraplégica a se tornar a nova 'halo bearer' e voltar à vida.

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Depois da batalha entre Uliel e Samael, em que ambos saíram feridos, houve uma trégua na guerra do Outro Lado. Pelo menos foi no que Ava acreditou. Há dias sem qualquer notícia de Uliel, ela apenas sabia que os portais na Terra haviam retrocedido, os desastres haviam cessado. E até o Cardeal Constant, eleito o novo Papa, já demonstrava algum otimismo em seu último pronunciamento. Mesmo assim, ele encarregou Vincent de restabelecer as bases da OCS nos países onde Adriel as havia eliminado. Tarefa a que o padre, em busca de redenção, jurou dedicar todo o seu empenho. Viajando ao redor do mundo, recrutando irmãs guerreiras para a Ordem, atento ao mínimo vestígio de atividade sobrenatural. Mas eram tempos de incerteza. E de um pesado silêncio, que Ava conhecia bem. Olhava para o céu naquela manhã, quando Beatrice se aproximou, tentando adivinhar o que ela estaria pensando. O sol brilhava e não havia sinal de chuva. Mas aquele silêncio... Ava suspirou e disse:

"Vem vindo uma tempestade".

ENVOLE-MOIWhere stories live. Discover now