ENVOLE-MOI

Filipenses 4:13

As novas 'halobearers', Beatrice e Lilith não faziam ideia dos poderes que haviam adquirido. Nem mesmo Ava, que já conhecia bem a sensação de portar o halo, tinha a noção exata de quantas habilidades ainda estava por descobrir. Mas era preciso agir rápido, porque Samael já reunia forças para atacar novamente.

Lado a lado, as três irmãs se concentraram ao máximo, ativando suas auras (vermelha, azul e amarelo-fogo).

"Lembrem-se do que o Haziel falou", orientou Ava. "O coração e a mente devem se conectar ao halo".

E assim, quando Samael lançou o primeiro golpe, elas conseguiram resistir. Quase que por instinto, Bea ergueu um campo de força. Lilith repeliu a rajada de cristais negros com o vento de suas asas. E Ava bloqueou o impacto usando simplesmente uma das mãos. "Impossível"!, pensou Samael. "Ele está enfraquecido", pensaram elas. Enquanto a luta prosseguia, Lilith ouviu quando Beatrice reclamou. "Que hora pra aprender a usar o halo"!

"Nós não temos escolha", respondeu Lilith.

Bea estranhou, porque não havia dito aquilo em voz alta. Mas logo entendeu o que havia acontecido. "Você está lendo minha mente", insistiu, sem verbalizar.

"Consegue me ouvir"?, Lilith experimentou se comunicar com ela em pensamento. E ouvindo uma resposta afirmativa, descobriu que a telepatia era um de seus novos poderes. Bem, dela e de Beatrice. Quanto mais a batalha avançava, mais Samael perdia força. Até as armas humanas da OCS já lhe causavam algum dano, embora ele ainda fosse capaz de se curar. Então se lembrou da coroa de espinhos. Estava em posse dela há algum tempo, desde que Joana foi imobilizada por Haziel e em seguida levada ao covil por uma gárgula. Se conseguisse chegar perto o bastante para usar essa arma contra Ava, Samael poderia matá-la sem resistência. Afinal, ela era a única que o preocupava. E se tudo o que Reya havia contado fosse verdade, ele tinha razões mais do que suficientes para temer que Ava o derrotasse. Mas antes que ele executasse qualquer movimento, Camila teve uma ideia.

"Vamos rezar".

"É sério"?, questionou Mary.

"Ela tem razão", interferiu Yasmine. "Se o Adriel 'roubava' as nossas preces porque isso o fortalecia..."

"Nós podemos enviá-las para as 'Warrior Nuns'", completou a Madre Superiora.

Camila assentiu.

E ao perceber o que as irmãs guerreiras estavam fazendo, Lilith foi buscar na memória algo que Haziel havia dito enquanto a consolava. "E eu vejo todas vocês sempre dispostas a darem a vida umas pelas outras... Há um poder tão grande nisso". Com a voz dele ainda ecoando em sua mente, Lilith recapitulou mais uma vez cada palavra.

"Sacrifício, Bea", pensou ela, transmitindo a mensagem. "Um dia o Aslan... quer dizer, o Haziel, me falou sobre o poder do sacrifício".

Sem responder, Beatrice apenas olhou para Lilith, tentando compreender o que exatamente ela planejava.

"Vamos canalizar toda a nossa energia para a Ava".

"E se isso nos matar...", completou Bea, também em pensamento.

"Sacrifício".

Partindo para ao ataque, Samael lançou mão da coroa de espinhos, que trazia presa à sua armadura. Mas Ava não se intimidou. Permitiu que ele se aproximasse o bastante para tentar imobilizá-la. Reação que o pegou de surpresa. E quando ele descobriu que coroa já não funcionava contra ela, era tarde demais.

"Agora"!, avisou Lilith, usando de novo a telepatia.

Beatrice fez um sinal positivo com a cabeça. E mesmo sem muita certeza de como agir, ou se aquilo iria funcionar, as duas juntas conectaram mente e coração aos halos. Posicionadas atrás de Ava, estenderam as mãos no ar em direção a ela, enviando-lhe o máximo de energia. Com isso e o apoio das irmãs guerreiras, Ava se sentiu mais poderosa do que nunca. Tanto que, a um passo dela, Samael foi literalmente engolido por sua aura em chamas. E olhando-o nos olhos, ela aplicou seu golpe final, liberando toda a potência do halo. Nem Beatrice e Lilith saíram ilesas. Apesar da tentativa delas de erguer um campo de força para proteger a si e as irmãs, ninguém conseguiu se manter de pé. A onda de choque foi tão grande que arremessou todas para longe, derrubando até algumas paredes do 'Cat's Cradle'. Quando a poeira baixou, aos poucos as guerreiras foram se recompondo em meio a destruição. Amparando umas às outras, garantindo que ninguém havia se ferido com gravidade. E ainda ofegante, Ava permanecia no mesmo lugar. Diante dela, no chão, tudo o que restou do inimigo foi seu halo. Era o fim de Samael.

****

Yasmine recebeu o papiro que sua antiga Ordem lhe enviara. Nele continham profecias e mensagens secretas deixadas pelos egípcios há milhares de anos. Enquanto ela interpretava cada hieróglifo, alguém entrou no quarto.

"Haziel"?!, exclamou, meio pálida. "Como..."?

"O que vem do Eterno é eterno", respondeu ele, de um jeito enigmático.

"Então você está vivo"?

Desta vez Haziel apenas sorriu e deu as costas para ir embora.

"Espera, não vá".

Foi inútil ir atrás dele. Quando Yasmine atravessou a porta e olhou para os dois lados do corredor, já não havia ninguém. Assim, ela voltou para o quarto, aproximando-se novamente da mesa, onde estava o papiro. Mas não continuou a estudá-lo. Apenas cruzou os braços, respirou fundo e leu os últimos hieróglifos traduzidos: "Onde eu sou, tu perguntas. A resposta é quando". De repente, ela sentiu uma mão em seu ombro e tomou um susto.

"Acorda", chamou Camila. "Você estava sonhando e falando algo que eu não consegui entender direito".

Um pouco desorientada, Yasmine enxugou o suor na testa e olhou para a mesa, onde havia apenas o livro sobre o qual ela havia adormecido.