Há tempos longínquos no passado, pessoas começaram a nascer com misteriosos dons, poderes sobre-humanos ou mesmo corpos alterados seja por asas como as dos pássaros, chifres como os dos veados, olhos de cores jamais vistas como o vermelho das rosas...
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O orvalho gélido cutucava minha pele através das gramíneas recém banhadas pela chuva. Meus olhos miravam o céu salpicado de estrelas sem de fato vê-lo, e eu pouco me importava com o frio. Minha mente borbulhava em reflexões, impedindo que eu sequer me apercebesse que sentia frio. Naquela manhã, eu acabei por escutar a conversa entre meu pai e um convidado aparentemente importante.
- É inequívoca a inferência a respeito da movimentação de Oxford. Degash decerto conquistou seu apoio e planeja uma rápida e atroz investida contra nós. - Disse o convidado, irrequieto e ansioso.
- Degash é um reino decaído que não consegue lidar sequer com um quarto de nossos homens. Com isso, não temos o que fazer senão enfrentá-los prontamente. Oxford é um reino de especialidades marítimas, deficiente em conflitos terrestres, portanto, teremos certa vantagem se mantivermos distância dos mares. Ao mandarmos um exército volumoso e composto pelos melhores combatentes, não seremos derrotados. - Explanou meu pai, com uma serenidade contrastante em relação ao outro.
- O príncipe Alpheus irá comandar esse combate? Ele possui sob seu poder um exército extraordinário. Com seu auxílio nossas chances de vitória decerto serão muito potencializadas.
Meu pai ficou em silêncio por longos segundos.
- Essa é uma escolha que cabe a ele.
Não preciso ouvir sair da boca de Alpheus para saber que ele vai aceitar tamanha dor de cabeça. Como espiei esta conversa pela manhã, passei boa parte de meu precioso dia pesquisando esses reinos e as proximidades. O raquítico reino Degash intenta incorporar em seu território uma importante área econômica que até então era reconhecida como independente. Evidentemente que nosso reino não admitiria tal coisa. Com isso, Oxford resolve dar as caras a favor deste protótipo de nação, certamente para acertar as contas por antigas derrotas contra Inguz e depois usar Degash, agora então detentor dessa área, como bichinho de estimação. Decerto essa aliança fora firmada previamente, de outra maneira Degash não faria tal suicida atitude. Apesar do que meu pai disse, Oxford ainda tinha seus créditos bélicos mesmo sobre terra. Talvez não se equipare aos nossos poderes, mas... acho que eu estou pensando demais.
- Boa noite.
Sobressaltei-me. Sentei na grama num salto. Não creio que aquele brutamontes já me descobriu! Quando me dei conta, vi Alpheus acenando uma mão em minha direção. Respirei aliviado.
- Ah, é você.
- Pensou se tratar de Ainden? - Inquiriu com um pequeno sorriso esboçado em seu rosto.
Não respondi, apenas virei a face para o lado. Parando para pensar, se fosse Ainden acho que ele não começaria com algo educado como um "boa noite", e sim, pelo contrário, asseguraria-se de que eu nunca mais tenha a coragem de escapulir para o jardim e fazer da grama minha cama e do céu meu cobertor. Alpheus aproximou-se e sentou-se ao meu lado sobre as gramíneas úmidas.
