CAPÍTULO 38-INFERNO ASTRAL

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Mais uma vez, depois daquela última aparição rápida, Harley havia sumido.

Afastado de Ben e sempre fracassando na tentativa de  seguir as recomendações do amigo espírita, Edson percebeu que Ivete não partiria tão cedo.

Foi convidado para continuar frequentando o centro espírita do amigo, mas descobriu que Cristiano havia começado a frequentar o local, talvez ainda tentando se comunicar com Harley, concluiu.

Edson reconhecia que não estava preparado para reencontrar Cristiano...não enquanto ainda se sentia tão confuso quanto aos seus sentimentos...não enquanto ainda acreditava que ele estava iniciando um novo relacionamento com o tal de Maurício e aquilo o incomodasse tanto...Que cada um seguisse o seu caminho, era melhor, repetia para si mesmo.

Assim que assumiu o seu posto no novo canteiro de obras, percebeu que os funcionários estavam esperando por Ben e não por ele. Foi só quando foi comentar com Ben a surpresa dos rapazes  que Edson  ficou sabendo o que acontecera.

_Eu iria assumir este serviço e você ficaria aqui no meu lugar._informou Ben.

Edson ficou surpreso e começou a entender o porquê das dúvidas  de Cristiano, na última conversa que haviam tido. Provavelmente, ele ficara sabendo que ali mesmo o cunhado  teria subido de posto e obtido um salário maior. Talvez tivesse acreditado que ele se recusara a ficar no antigo emprego justamente porque não queria mais ficar ao lado dele... e no meio de uma equipe formada exclusivamente por homossexuais.

_Por que você não me falou que iria me dar o cargo de mestre de obras aí mesmo, Ben?

_Por quê? Teria mudado alguma coisa? Achei que você queria se afastar do Cristiano e do pessoal que havia feito fofoca com o seu nome.

Edson viu que realmente estava se contradizendo...aquela tinha sido a sua justificativa para ter pedido a transferência, Ben estava certo.

_Realmente, não teria mudado a minha decisão.

A atual equipe em que ele iria trabalhar logo se mostrou menos amistosa, dava pra ver que não pareciam dispostos a fazer amizade com o mestre de obras  e ele sentiu o impacto da falta da camaradagem e cumplicidade do grupo anterior. 

Era a primeira vez que ele iria trabalhar sem alguém conhecido no canteiro de obras...A maioria eram pedreiros que ele não conhecia nem de vista, mas, especialmente, eram pedreiros bem mais novos do que ele e com os quais  não conseguia manter um diálogo. Não conhecia aquelas gírias da geração que nascera mais de vinte  anos depois dele! No trabalho anterior, a faixa etária regulava com a de Edson. 

Ocupando um cargo de muita responsabilidade...longe de Cristiano...morando num local onde tinha somente o básico...atarefado demais para ver os filhos com mais frequência, ele estava sempre com o semblante fechado, sério demais para aquela galera cheia de juventude. Ficou  sabendo que o chamavam ironicamente  de tio sargentão! Achou melhor ignorar, para que não criassem mais ranço em relação a ele.

Ele decidiu focar em  mostrar serviço e optou por fazer o chefe linha dura,  tentando manter a disciplina e o respeito. Sentia-se contrariado e admitia  que não queria estar ali.

A pensão ficava em frente a um local onde tocavam pagode até tarde praticamente todos os dias, o que piorava as suas  noites de insônia.

_Não adianta ligar pra polícia, meu filho...O bar é do pai de um policial e ninguém vai registrar  a ocorrência. _explicou a dona da pensão conformada._Tome umas duas cervejas, cubra a cabeça com o travesseiro que você dorme.

NÃO ME CONTE SOBRE MIM!-Armando Scoth Lee-romance espírita gayWhere stories live. Discover now