XIX

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XIX

Annabeth tentava, sem sucesso algum, se concentrar no livro que lia em seu Kindle naquele dia. Suas costas doíam, estava completamente desconfortável na cama e havia um sentimento ruim pairando no ambiente que ela sequer sabia de onde vinha.

A primeira consulta com a psicóloga na tarde anterior havia mexido com Annabeth, era como se toda aquela exposição para outra pessoa estivesse pesando no humor dela. Mas Annie tentava se convencer de que tudo bem, alguns dias seriam bons, outros nem tanto, e que estava se esforçando ao máximo.

Estava mesmo, não estava?

Não imaginava, entretanto, que logo naquele momento que se sentia vulnerável iria receber uma chamada de vídeo de Grover. Muito menos que ele estaria logo ao lado do casal Luke e Thalia abraçados e sorrindo imensamente, fazendo o estômago de Annabeth revirar.

É claro que os amigos perceberam que havia algo de errado no segundo que ela atendeu a ligação, pelo seu tom de voz e sua expressão, e é claro também que insistiram no assunto até Annabeth dar uma resposta ríspida de que estava bem, e eles estavam perdendo tempo.

Odiava tratar os amigos daquela maneira.

Como se já não bastassem todas as mentiras e estar traindo a sua confiança, agora Annabeth os tratava com estupidez também? Era para este tipo de amizade que ela pretendia voltar em alguns meses, como se nada houvesse acontecido?

Sabia que as primeiras semanas longe da sua cidade natal foram difíceis para Grover tanto quanto foi para ela, se sentiam os dois muito sozinhos. Thalia e Luke agora viviam no seu mundinho de lua de mel, e Annabeth sentia uma dor imensa toda vez que conversava com o amigo, sabendo que ele precisava dela, e tinha de mentir sobre uma viagem dos sonhos que nunca aconteceria. Mas naquele momento, ele parecia tão feliz e entrosado com o casal, que Annabeth se questionou até se sentiam sua falta verdadeiramente. Aquele sorriso no rosto dos três, daqueles que ela tanto amava, era simplesmente tudo que Anna desejava, e se podiam sorrir daquela maneira sem ela por perto, então, talvez, ela nem devesse voltar e estragar tudo quando eles descobrissem o que estava fazendo.

Aqueles pensamentos doeram profundamente em Annabeth, mas ela estava aprendendo a não ser egoísta, de certa forma, e também aprenderia a lidar com a dor de deixar os outros irem se isso fosse melhor para eles. Tinham ótimas memórias juntos e odiaria que elas fossem apagadas por brigas e decepções, tudo por sua própria culpa.

Quando cansaram de tentar conversar com uma Annabeth esquiva e sem expressão, os amigos desligaram a chamada e deixaram a garota sozinha no silêncio do próprio quarto. Não sabia muito bem o que fazer, se não engolir a própria vontade de gritar.

Teria gritado sem parar, se pudesse, enquanto ainda estavam em chamada. Teria confessado em plenos pulmões todas as mentiras que havia contado aos amigos, e o quanto se arrependia delas no mesmo segundo em que terminava de falar.

A verdade é que Annie tinha menos vontade ainda de sair da cama naquele momento, mas de que adiantaria ficar ali, só sentindo raiva de si mesma? Tentou, primeiramente, o quarto dos irmãos, mas nenhum deles estava em casa. Ela devia ter imaginado, por todo aquele silêncio...

Pensou, mais uma vez, em voltar para debaixo das cobertas e ficar ali por todo o tempo que pudesse - mas não podia fazer isso. Tinha prometido para Lester, para sua psicóloga e para si própria que iria tentar. Foi então que viu Piper na varanda da casa de Jason do outro lado da rua, e sem pensar muito, Annabeth pegou as chaves e atravessou até lá. Chegou bem no momento em que Jason abria a porta, e ambos sorriram para ela.

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