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No outro dia, pude ter uma pequena noção de como é ser a esposa do capo

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No outro dia, pude ter uma pequena noção de como é ser a esposa do capo.
Logo cedo minha casa foi tomada por costureiras, vendedoras, cabeleireiras, todas muito bem informadas quanto aos gostos do meu noivo sobre o que devo vestir, usar, aparentar... E é claro que não poderia faltar um médico para além de atestar minha virgindade, coletar sangue e examinar cada centímetro do meu corpo em busca de alguma imperfeição que me fizesse menos digna. Confesso que ao final do dia torci por isso. Sei que parece loucura mas é exatamente assim que me sinto, louca, e por essa razão desejei que algum resultado fosse alarmante o suficiente para ter o noivado anulado.

Minhas esperanças ruíram quando dois dias depois fui comunicada por meu pai que o casamento seria no próximo final de semana. A seguir, recebi a visita de um famoso ateliê de vestidos de noiva. Não foi preciso escolher um modelo, o noivo o faria, a mim coube apenas ficar parada enquanto a costureira tirava as medidas.

Em frente ao espelho, pouco antes da cerimônia, encaro meu rosto sem reconhecer-me... Tantas coisas aconteceram em tão pouco tempo que sinto como se tivesse vivido vários anos... As noites mal dormidas cobram seu peso em escuras olheiras e a tristeza misturada à raiva me dão uma expressão irreconhecível.

Lanço um olhar para o vestido que devo colocar em seguida pensando que ele em nada se parece comigo.
Sempre sonhei em subir ao altar com um estilo sereia, decote coração, aplique de rendas e strass... Nada do que vejo nesse modelo rodado e cheio de babados, com mangas longas e bufantes, prestes a me engolir.
De repente uma ideia surge em minha mente e corro até o closet encontrando um macacão que comprei a última vez que fui ao shopping, meses atrás. Ele é lindo, em seda, na cor pérola, o que lhe da um leve brilho. O decote ombro a ombro e as costas nuas são os detalhes que fazem a diferença, pois a peça é lisa, sem adornos, justo no peito, mais largo nas pernas descendo reto até o chão. É perfeito, e me faz sentir um pouco mais como eu mesma.

Sorrio e com o ânimo renovado, faço uma bonita maquiagem e penteado dando graças por estar sozinha e termino de me arrumar partindo com o motorista logo em seguida.
Meus pais foram na frente, ansiosos em agradar o capo, creio que se eu aparecer nua, meu pai não se importará desde que ao final da cerimônia Enrico seja seu genro.

A igreja está praticamente vazia. Apesar de ter insistido em uma cerimônia religiosa tradicional, meu noivo quis fazer tudo muito discretamente, sem convidados, sem festa, sem lua de mel... Totalmente o oposto do seu primeiro casamento... Claro, ele amava Giovanna, quanto a mim...
Imagino todas as fofocas que irão surgir sobre isso, e as desculpas que terei que inventar justificando algo que ao menos entendo.

Não consigo esconder o prazer de ver o choque em seus rostos. Meu pai oferece-me o braço e me acompanha rumo ao altar. Ele nada diz porém não é necessário, quase consigo escutar os xingamentos que sua mente grita diretamente para mim. Claro que seu ápice dentro da organização não poderia ser estragado por um escândalo, além de que agora minha vida pertence ao meu marido. Somente Enrico terá o poder de me castigar por essa afronta.

Ao ser entregue ao homem que amo a tanto tempo, sinto os olhos arderem com lágrimas que me recuso a deixar cair.
Sonhei inúmeras vezes com esse momento... Meses atrás estava ali em um dos bancos chorando por vê-lo casar com outra... Devemos mesmo ter cuidado com o que desejamos, em um segundo tudo pode mudar...
Enrico está lindo e impecável em seu terno azul petróleo, meus olhos apaixonados dizem que dessa vez ele é um noivo ainda mais encantador do que em seu primeiro casamento. Sua mão grande e quente segura a minha fria e trêmula.
Não consigo não comparar, pois guardei na memória cada traço do seu rosto durante a outra cerimônia com Giovanna... Dessa vez é nítido o quanto Enrico está contrariado, frustrado, com raiva... Céus, eu não pedi nada disso, não foi assim que sonhei... Me chamando à realidade, seu aperto em meus dedos se intensifica, então o encaro, devolvendo a indignação.

O sacerdote inicia sua fala e todas as atenções se voltam para ele. Me permito viajar no momento, imagino tudo sendo perfeito como sempre sonhei. Lanço alguns olhares para o meu noivo mas ele é a estátua inegável da frieza.

- Pode beijar a noiva.

Essa frase me tira do transe em que estava, devolvendo os sentidos ao meu ser em um golpe duro. Beijar?
Enrico vira-se para mim e me obrigo a fazer o mesmo. Meu corpo treme tanto que deve ser impossível quem está ao redor não notar. Mecanicamente ele leva uma das mão à minha nuca e eu respondo instantâneamente arrepiando-me inteira. Ele percebe, pois seus olhos descem pelo meu colo antes de repousarem em minha boca.

Meu primeiro beijo. Com o homem que amo. Um sonho realizado. Que terminou rápido demais. Seus lábios ficaram sobre os meus tempo suficiente para que quem visse de fora testemunhasse o ocorrido, mas para mim foi tão pouco... Sua boca é macia, suave, doce...
Ao se afastar, vejo cruzar em seus olhos algo diferente, perturbador, mas que em seguida é engolido pela máscara do capo impiedoso.

Recebemos os cumprimentos ali mesmo. Meu pai só faltou lamber os sapatos de Enrico e minha mãe tinha um choro tão falso quanto a idade que ela aparenta.
Os dois homens que não conheço apertaram a mão do meu marido e fizerem um meneio de cabeça para mim. Em seguida tocando em minhas costas, Enrico me conduziu até a saída.

- Onde está seu vestido?

Ele perguntou assim que deu a partida no carro. Com tantas coisas que se pode dizer a sua mulher após a cerimônia, ele prefere exercer sua autoridade.

- Houve um problema com o zíper.

Se ele acreditou eu não sei, mas seguimos o restante do caminho em silêncio. A mansão Fiore, minha velha conhecida, parece diferente agora que a vejo sabendo que irei morar aqui para sempre.

Enrico abre a porta a faz sinal para que eu entre. Caminhamos lado a lado,  pelas escadas até o andar de cima. Meu marido para em frente a uma das portas e brevemente o vejo como aquele homem por quem me apaixonei anos atrás. Seu rosto fica levemente relaxado, quase constrangido e imagino que esse seja nosso quarto, o local onde após passar pelas portas serei dele de corpo também.
Quero pedir que seja gentil comigo mas sei que isso é inútil. Um homem pode tomar sua mulher como bem entender, apesar de crer que Enrico não é um monstro. Mesmo ele mostrando sua arrogância e rudeza, prefiro acreditar que tudo é um grande mal entendido, nada que uma conversa não resolva... Talvez mais alguns beijos...

- Esse é o seu quarto. Boa noite.

Sou deixada sozinha rapidamente. Enrico praticamente fugiu disparando para o andar de baixo.

Paixão MafiosaWhere stories live. Discover now