Capítulo 10

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|Amity Blight|

Se arrependimento matasse eu estaria morta. Meia hora recebendo um baita esporro de Emira pelo telefone me fez acordar pra vida e perceber aonde foi que eu me meti.

Gravaram tudo aquilo que fiz com Boscha e, já que o áudio do vídeo não conseguiu captar algumas de minhas falas, ela fez questão de espalhar para os quatro cantos do mundo que eu tenho algum tipo de relação com Luz.
A vadia fútil garantiu que iria anunciar uma interpretação equivocada das minhas palavras.

"E não se preocupe Boscha, que da Luz Noceda cuido eu".
Com o que eu estava na cabeça?!

Passei o dia de ontem lendo uma série de comentários maldosos no perfil de fofocas da faculdade pelo Twitter. Fiquei tão nervosa que pensei em fumar. Me contive muito pra isso não acontecer e impulsivamente joguei o único maço de cigarros que eu tinha no lixo, dando um fim naquilo que futuramente se tornaria um problema maior.

Grande parte das pessoas no Twitter colocavam a culpa em Luz, acho que deve ser para não terem que "escolher" entre Boscha e eu. Mesmo odiando a Noceda, tenho uma completa noção de que ela não tem relação nenhuma com essa história toda. Não é justo.

Hoje tive aula prática na faculdade, o que foi uma ótima distração para a minha cabeça, tirando os intrometidos dentro e fora do meu curso, é claro.

— Antes de começar a ler, eu tenho uma surpresa pra vocês! - As crianças entraram em euforia.
Formamos uma rodinha e nos sentamos no tapete felpudo que há no chão da salinha na biblioteca.

A chuva aumentava gradativamente lá fora, começando a trovejar.

— Trouxe docinho pra gente, tia Amity?- Um sorriso iluminou o rostinho de Pedro. Os nove pequenos ali restantes me olharam com expectativa.

— Dessa vez, não! Mas eu fiz uma coisa em mim e acho que vocês vão gostar... - Levo a mão até a touca na minha cabeça e a tiro para que eles possam ver o meu cabelo.

— Tia Amity! - Alice exclama e todos olham encantados, se aproximando para me verem de pertinho.

— Tia, o seu cabelo tem a cor do algodão doce que a mamãe comprou pra mim naquele dia! - Miguel leva suas mãozinhas até uma de minhas madeixas.

— Você é tipo uma fada! - Gabi diz maravilhada, fazendo meu sorriso se abrir ainda mais.

— Obrigada gente! - Agradeço levantando e olhando a pequena estante de livros ao lado da janela, buscando algum livro para ler.
Os barulhos dos trovões estavam mais altos e eu pude perceber que isso estava os deixando com um pouco medo.
— Quer saber? Nós não vamos ler. Um passarinho me contou que tem gente aqui que adora desenhar... Hoje, vocês vão desenhar na folhinha a coisa que vocês mais gostam. - Entrego as folhas e a caixinha com vários lápis de cor.

Depois de muita conversa, cantoria e várias risadas, já é hora de ir embora.
Me despeço de cada um com um abraço e um beijo na testa, vejo os desenhos que as crianças me mostram antes de sair pela porta.

A última a se despedir é a Gabi. Ela me entrega a folha e eu me surpreendo com o que vejo.

"vosE é a coIsa qUe Eu maiS gosto tiA AMITY" escrito no topo do papel em letras tortas, junto de um desenho meu com várias florzinhas coloridas ao redor.

— Eu também gosto muitíssimo de você, Gabi! Posso ficar com o desenho? Eu amei ele! - Torço instantaneamente  para que ela diga que sim.

— Pode sim. Tchau, tia! - Ela me abraça e sai correndo pela porta até o salão principal da biblioteca.

You again - LumityOnde histórias criam vida. Descubra agora