17 | ela me deixa mais tonta do que álcool

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Eu e Simone continuamos abraçadas no meio da sala de seu apartamento miúdo por um tempo que não fiz questão de medir.

Quando ela finalmente se afastou minimamente, talvez por estar constrangida, eu vi seu rosto cheio de lágrimas e deixei um sorriso triste aparecer, enquanto uso meus polegares para apagar os rastros do choro recente.

Santo deus... fazer mal a alguém assim deveria ser crime inafiançável e imprescritível.

Sério, deveria estar lá no código penal do universo.

— Eu disse que sou chorona... — Ela lembrou, deixando uma risada fraca dar as caras quando eu continuei secando seu rosto pacientemente.

— Você é um bebê adorável, Sisa. É isso que você é.

— Me chamou de bebê e de Sisa na mesma frase... — Ela apontou, baixinho. — Desse jeito eu vou me apaixonar por você, So.

Como assim ela ainda não é apaixonada por mim?

— Que nada. — É a resposta que dou, escondendo minha revolta incrédula por trás de um sorriso calmo.

Mas, sério, ela não está nem um pouquinho apaixonada, ainda? Nem um tico?

Simone fungou e usou as costas das mãos para secar as lágrimas, mas eu já fiz um bom trabalho em secar todas antes disso.

— Nós precisamos jantar... — Ela lembrou, olhando para sua cozinha. — Eu posso fazer alguma coisa para nós duas, mas não vai ser nada perto do seu padrão de refeições...

Ela se afastou um pouco, e não a impedi.

— Se seu jantar for tão gostoso quanto suas tortas, acho que vou ficar bem. — Respondi, caminhando até a janela da sala. Fico curiosa ao ver Keanu Reeves ali, no peitoril.

— É que eu não tenho muitos ingredientes, So... — Simone anunciou. Outra vez, ela parece envergonhada.

— Simone, você não precisa se preocupar com isso. — A tranquilizei, porque não precisa mesmo. Eu até me ofereceria para pagar alguma coisa pelo delivery, mas sei que ela não vai aceitar então fico calada.

De qualquer forma, mesmo que seja apenas arroz e feijão, o que ela fizer para nós vai ser suficiente. Até porque eu vim dormir em seu apartamento para passar mais tempo com ela, não em busca de uma refeição cinco estrelas.

— Mas, ei... por que o trocinho está na janela? — Pergunto, apontando para o cacto.

— Ah, ele precisa pegar bastante sol, então o deixo na janela durante o dia. Coloca ele no móvel da TV, por favor?

— Certo. — Eu não me opus e segurei o jarrinho com o fofinho antes de colocá-lo no lugar onde o vi nas duas vezes em que vim aqui, então me abaixei para olhá-lo de perto. — Desculpa por ter roubado sua mãe durante todo o dia, Keanu, mas vou abusar dela mais um pouco.

— Por favor, Soraya, pode abusar. — Simone respondeu, explodindo numa gargalhada gostosa.

Eu rolei meus olhos com tédio e me aproximei, parando diante do balcão de madeira enquanto ela pega algumas coisas em sua geladeira.

— Quer ajuda? — Ofereço. — Eu sei ferver água.

— Não precisa. — Ela respondeu, deixou os ingredientes sobre o balcão da pia e depois parou do outro lado da mesa, de frente para mim.

Então espalmou as mãos na superfície lisa e se inclinou em minha direção, até deixar seu rosto bem próximo do meu e me roubar um beijo na bochecha.

AFRODITEWhere stories live. Discover now