Cap. 043 ⎯⎯ eu sou uma boa mentirosa

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Any G.
03.07.2019
São Paulo.

Desespero.

É tudo que eu sinto enquanto sou empurrada em uma cadeira de rodas para o quarto em que Joshua está.

Ele é meu doador.

E isso é tão inesperado e fora da realidade pra mim, que me sinto perdida e desesperada. Parece que eu estou em um sonho irreal, um sonho louco e um pouco perturbador.

E cada segundo que se passa, parece que dura uma eternidade. É como se o meu passado estivesse passando diante dos meus olhos, todos os meus erros me acertando como uma faca em meu coração.

Todo o ódio que eu sentia por ele, virando um ódio de mim mesma. E o ódio por isso tem um gosto amargo, que empesteia cada célula presente em minha boca.

Tudo que eu quero e fechar os meus olhos e apagar o meu passado, ou voltar pra ele e fazer tudo diferente. Eu quero chorar e chorar, quero chorar pra caralho.

E quando paramos de frente a última porta do corredor, eu fecho os meus olhos, sem coragem de encarar a pessoa que está por de trás da porta. Tenho vergonha, tenho ódio de mim por toda essa situação.

Quero cavar um buraco e me esconder lá dentro, me esconder de tudo e todos.

A porta foi aberta, e a cadeira que eu estava sentada dói arrastada. Fechei com mais força os meus olhos, prendendo o choro em minha garganta, e realmente não quero encará-lo, pois sei que se eu abrir os olhos o encontrarei sorrindo para mim.

E eu amo o seu sorri, mas o odeio nesse momento.

Com o ar preso em meus pulmões, eu os solto, com dificuldade e meio trêmulo. Na verdade, todo o meu corpo tremia de nervosismo e ansiedade.

Eu abro os meus olhos, mas eu não o encaro ainda, eu olho para as minhas mãos em meu colo, que segurava com toda força que eu tinha o lençol que estava sobre as minhas pernas.

Quando tomo coragem para ergue os meus olhos, eu o encontro sorrindo fraco para mim. E isso foi o bastante para que todo o restante do meu mundo desabasse por completo.

Colocando a mão no meu rosto eu deixei que o choro preso em minha garganta tomasse conta de mim. Era real, ele tinha realmente feito isso por mim... E puta merda, eu não merecia isso dele.

⎯⎯ caralho, não chora. ⎯ escutei ele reclamar, e minha cadeira foi arrastada para mais perto dele ⎯ puta merda, Gabrielly. Essa é a segunda vez que você chora na minha frente, e é melhor parar porque eu já percebi que odeio te ver chorando!

Eu continuei com minhas mãos em meu rosto, soluçando e tentando parar com as lágrimas e os soluços. Não tentei dizer nada a ele, pois eu sabia que em algum momento eu diria alguma merda. Então apenas permaneci calada, apenas soluçando e não sendo capaz de olha-lo nos olhos outra vez.

Josh por outro lado, continuo xingando e pedindo para mim parar de chorar. O doutor Alberto, que estava ao nosso lado, todo instante pedia por calma, repetindo sen parar que nós dois acabamos de fazer uma cirurgia.

⎯⎯ Any, por favor olha pra mim... ⎯ senti suas mãos sobre as minhas em meu rosto, escutei também o doutor reclamar ⎯ olhe pra mim, linda... não chore por favor.

Minhas mãos em meu rostos foram substituídas pelas suas, que erguia o meu rosto totalmente molhado, passando seus polegares repetidas vezes nas minhas bochechas. Meu olhar estava turvo, mas eu conseguia encherga-lo, mas só de encarar seus olhos incrivelmente azuis eu só sentia mais vontade de chorar.

𝘼𝙥𝙚𝙣𝙖𝙨 𝙉𝙚𝙜𝙤𝙘𝙞𝙤𝙨 ⟶ 𝗕𝗲𝗮𝘂𝗮𝗻𝘆Onde histórias criam vida. Descubra agora