PARTE UM RUBY  

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CAPÍTULO UM


Trabalhar em uma cafeteria, é tanto um quanto bom. Mais ou menos acho melhor. Mas não tenho escolha, quando se fala em sobreviver, a história é outra. Nunca tive alguém que me ajudasse em viver, nesse mundo. Nunca tenha talvez, e não quero ter. Acho as vezes uma perda de tempo, procurar alguém para que me preencha, mas talvez um dia eu pague minha língua.
O dia sempre é o mesmo, nunca muda. Quase os mesmos clientes vem aqui. Essa cafeteria é básica e pequena, ou melhor minha cafeteria é básica e pequena. E morar em uma cidade pequena, que as vezes é sem importância piora um pouco as coisas. Tive um pouco de sorte em minha vida, mesmo não tendo meus pais aqui comigo.
Eles morreram a dez anos atrás. Sofreram um acidente indo em direção à casa da minha avó paterna. Ela mora em São Paulo e no decorrer da estrada eles bateram com um outro carro. Eles morreram no acidente, não conseguiram nem ir ao hospital. E eu? Fiquei como um pequeno objeto de dez anos, passando por mão em mão. Como se fosse um brinquedo, quando não me queriam me davam para alguém diferente da família, mas ninguém queria uma criança, estranha e calada, com um luto eterno digamos assim.
Mas ao mesmo tempo, prefiro não me lembrar de....
Puta merda!
Uma cliente nova. Uma baita de cliente nova. Não sei se estou empolgado por ela ser uma nova cliente diferente dos outros que vem aqui, ou se estou empolgado pela beleza dela. Ela se veste bem, como uma pessoa importante. Se parecesse rica demais para essa cidade, ou é mais alguma mulher que não suporta ficar aqui e se veste bem para suprir esse desejo de sair dessa cidade.
Eu não a julgo, faria o mesmo.
Seus olhos verdes seguem sua cabeça olhando, por todos os lados da cafeteria. Estou até com vergonha. Seus passos estão pequenos e lentos, chegando mais perto do balcão. Sua atenção não está em mim e sim na cafeteria.
Mas meus olhos não param de fitá-la, ela puxou minha atenção para si. Seu corpo fica de costas para mim, e sua atenção ainda admira a cafeteria. Vejo seu cabelo e está bem arrumado, com ondulações perfeitas. E o pouco de brilho do sol que está entrando sobre as janelas, refletem um castanho lindo do seu cabelo.
Coço a nuca e bagunço um pouco meu cabelo que já é desarrumado desde que me entendo por gente. Levo a mão até o sininho e faço barulho chamando sua atenção para mim.
Ela leva um pequeno susto e se vira para mim. Olhando agora para ela deste ângulo ela é ainda mais linda. Seus olhos são verdes demais.
— O que você deseja? — pergunto olhando para sua boca.
— Eu só quero um café gelado, e um donut desse de chocolate — ela aponta para o donut.
Saio de perto dela e vou até a máquina de café. Pego um copo e coloco gelo, pego o caramelo e um pouco de chocolate em cauda. Coloco um pouco de leite, e pego o café e despejo sobre o copo.
Vou até ela e a entrego, pego o donut e coloco em um pratinho. Ela iria comer ali mesmo, será melhor ainda para que eu a veja por mais tempo. Quer dizer. Só até outro cliente chegar. Dou a ela o seu donut e volto para o balcão. Me viro e vejo ela novamente no balcão com um papel.
— Você está contratando? — pergunta ela.
— Estou. Você está interessada?
— Sim.
— Você pode começar amanhã?
— Ok.
— Sobre o salário e as demais coisas irei falar com você.
— Obrigada — ela me olha de relance e se levanta — Me chamo Ruby Gross.
Nome lindo e diferente, estou começando a gostar dela.
— Me chamo Stephan Black, é um prazer em conhecê-la — dou um sorrisinho de canto.

Seu sorriso não é tão descarado quanto o meu, mas vejo um pouco da sua euforia. Ela se vira e volta a comer, pego um guardanapo e escrevo meu número a ela, e escrevo “negócios”. Volto para o balcão e fico olhando para ela.
As portas se abrem e outro cliente aparece, logo atrás vem uma fila de gente. Irei perder a atenção dela, mas sinto que meus dias serão interessantes.

OBSESSÃO [+18]Where stories live. Discover now