PRÓLOGO

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DEZ ANOS ATRÁS.
-8° GRAUS CELSIUS.
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   Eu tinha sete anos quando vi os lobos pela primeira vez. Foi a coisa mais impressionante que já havia visto em toda minha vida.

   Minha casa fica um pouco afastada do resto da Cidade, dentro de uma pequena floresta de sinuosos pinheiros e Cedros, que durante praticamente metade do ano ficam cobertos por uma grossa camada de neve.

   Meu pai havia comprado um balanço para mim naquele ano. Ele queria colocá-lo no hall da casa, mas insisti para que ele o pusesse no nosso quintal, preso nos galhos de um dos Cedros, para que assim eu pudesse balançar o mais alto que conseguisse, e caso caísse, tivesse uma camada fofinha de neve para amortecer a queda (acho que depois de um tempo eu pulava de propósito só para sentir aquele friozinho na barriga durante a queda).

   Como geralmente fazia no final da tarde, lá estava eu no meu balanço. Minha mãe havia ido ao mercado e papai provavelmente estava na sala, trabalhando durante horas e mais horas no seu Notebook. Não que ele ficasse sem tempo para cuidar de mim. Já que mesmo trabalhando sete dias por semana, ele sempre tinha tempo para ser o melhor pai do mundo.

   Ignorando o vento congelante que batia contra meu rosto, continuei impulsionando meu corpo para frente e para trás para ir o mais longe e o mais alto que conseguia. Era impossível esconder o sorriso enorme que tomava meu rosto enquanto balançava mais rápido, mais rápido e mais rápido.

   Foi quando ouvi o som de passos rápidos quase inaudíveis vindo da floresta, em minha direção. Parei de impulsionar o corpo e esperei o balanço diminuir a velocidade por conta própria, até parar totalmente alguns segundos depois.

   Observei as sombras entre os troncos das árvores, ainda distantes demais para que eu conseguisse distinguir suas formas, embora a presença fosse surpreendente forte.

   — Oi.— sussurrei assim que pulei do balanço. Minhas pernas sumiram até os joelhos dentro da camada grossa de neve que cobria o chão. Eu enfiei as mãos dentro dos bolsos do meu casaco quentinho e dei alguns passos em direção ao emaranhado de árvores.

   — Oi.— repeti, forçando a visão para tentar ver alguma coisa além de vultos rápidos e silenciosos.

    Estava pronto para virar de costas e correr para casa, mas um grunhindo baixinho chamou minha atenção, fazendo-me continuar encarando a floresta com certa curiosidade.

   Assim que ele apareceu no meu campo de visão, me apaixonei instantaneamente por ele. Um pequeno lobo marrom (na época pensava que fosse um cachorro) veio trotando tranquilamente na minha direção.

   Apesar de ainda parecer um filhote, ele era surpreendentemente grande. Quase do tamanho de um cachorro já adulto.

   — hey garoto.— ajoelhei-me na neve e estendi a mão, encantado com o quão peludo e lindo ele era. Seus olhos eram de um impressionante azul turquesa, tão azul que praticamente brilhavam como estrelas contra o céu noturno.

   Ainda um pouco receoso, ele se aproximou de mim e cheirou minha mão. Eu soltei uma risada baixinha ao sentir sua língua quente e molhada entre meus dedos. Levantei a outra mão e tentei tocar seus pelos, mas ele se esquivou rapidamente e sentou nas patas traseiras, centímetros longe do meu alcance.

   — T-tudo bem Garoto, não vou te machucar.— murmurei para ele, que continuou me encarando fixamente. Eu engatinhei na neve em sua direção, torcendo em silêncio para não assusta-lo, então estendi o braço e toquei nos pelos fofinhos atrás da sua orelha.

   — vou te chamar de... Jack, você tem cara de Jack.— disse, sem me preocupar em esconder o enorme sorriso que tomou conta dos meus lábios. Um sentimento estranho de alegria misturada com excitação surgiu dentro de mim. Ele seria o meu parceiro dali para frente. Meu segredo.

   — Eu...— comecei a dizer, mas um rosnado alto vindo da floresta cortou minha voz. Olhei rapidamente em direção às árvores e dei de cara com quatro lobos enormes, bem maiores que Jack (bem maiores que qualquer cachorro que já havia visto) a poucos metros de distância, nos encarando fixamente.

   O lobo branco, que estava mais próximo de mim, rosnou mais uma vez. O som não era nada convidativo ou alegre, o que fez os pelos da minha nuca se eriçarem e com que eu tivesse vontade de sair correndo no mesmo instante.

   Jack levantou, mas não fez menção de se afastar de mim. Eu fiquei em pé e observei ele caminhar até ficar do meu lado. Seu dorso dava na minha cintura, mesmo que ele ainda fosse um filhote.

   Os lobos nos encararam por algum tempo. O branco, que parecia ser o líder, alternou seu olhar entre mim e Jack, antes de começar a caminhar em nossa direção, o que fez os outros três também o seguirem até nós. 

   Eles nos cercaram, e estaria mentindo se dissesse que não estava com um pouco de medo. Mas tudo que eles fizeram foi sentar sobre as patas traseiras e continuar nos encarando.

   — acho que fiz alguns amigos novos.— murmurei para mim mesmo, antes de sentar na neve com um sorriso travesso no rosto.



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QUANDO O INVERNO ACABAR Kde žijí příběhy. Začni objevovat