CAPÍTULO 02

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15° graus celsius
Sábado
9:27 da noite.
❄️❄️❄️

    Meus pais geralmente voltam para casa só nos fins de semana, feriados e uma vez ou outra ao longo da semana para dá uma passadinha e ver como estou. Minha mãe é enfermeira em um dos hospitais da cidade vizinha e meu pai tem um escritório de advocacia lá também. Eles compraram um pequeno apartamento à alguns anos para não ficarem voltando para cá todo santo dia, o que seria bem cansativo.

    Eles são os melhores pais do mundo, apesar de não passarmos tanto tempo juntos como gostaríamos. Me dou bem sozinho aqui, não tenho qualquer preocupação ou medo em ficar aqui só por ser um pouco mais afastado da Cidade, e agradeço bastante por eles não me obrigarem a ir morar de vez no apartamento.

    Os fins de semana são bem tranquilos, geralmente passamos o tempo em família, comendo na mesa, assistindo filmes juntos ou conversando. Mas como hoje meus pais não conseguiram vir, passei o dia todo jogado na sala assistindo séries na TV e comendo besteiras.

    Já são umas 9:30 da noite, e confesso que já estou com um pouco de sono. Uma chuva fina começa a cair, me fazendo soltar um suspiro tranquilo e sorrir para a casa vazia. Sempre adorei dormir com o barulhinho da chuva contra o telhado, e essa é a primeira chuva do verão, já que durante os últimos cinco meses tivemos apenas nevascas e chuvas de granizo.

    Cocei os olhos com as costas das mãos e levantei do sofá, ainda vestindo apenas meu pijama folgado que já está mudando de cor de tão velho. Ele é meu favorito, e não é porque o azul está quase se transformando num branco leitoso que vou me livrar dele.

    Desliguei a TV e joguei o controle remoto em cima do sofá, torcendo para que ele não pulasse e espatifasse no chão. O que felizmente não aconteceu.

      Depois de pegar o meu celular da mesinha da sala e tentar liga-lo, percebi que a bateria já havia morrido à bastante tempo, então o  coloquei de volta na mesinha e comecei a caminhar em direção às escadas, mas um som estridente quebrou o silêncio e me fez congelar no lugar.

    Alguém bateu na porta? Quem diabos estaria aqui numa hora dessas? Nessa chuva congelante?!

    Um calafrio subiu pela minha espinha quando a batida se repetiu.  Não consegui deixar de pensar em sexta-feira treze, pânico, a hora do pesadelo, halloween, psicose e os outros milhares de filmes de terror que já assisti.

    — Hey, I-igor...— uma voz melancólica e meio desesperada cortou o silêncio. Eu não conheci a voz, nunca a escutei na vida, mas ela é de certa forma... Linda e reconfortante.

     Antes que eu sequer me desse contra, já estava correndo em direção a porta e destrancando-a. O vento frio bateu no meu rosto assim que deixei o abrigo que as paredes e o aquecedor me proporcionavam.

    Meus olhos vasculharam o hall da casa, encontrando um garoto caído no chão, gemendo de dor enquanto pressionava a lateral da barriga com as duas mãos.

     — I-Igor...—  ele gemeu baixinho, encarando-me com aquelas enormes orbes azuis luminosas. Minha mente pareceu entrar em pane enquanto o observava. Queria perguntar como ele sabia meu nome, como veio parar aqui, como se machucou e outra centena de coisas, mas tudo que fiz foi me ajoelhar ao seu lado e estender a mão para tocar seu ombro.

    — C-como...— comecei, mas minha voz morre assim que vejo a quantidade de sangue vazando de um longo corte ao lado do seu abdômen. Eu observei seu corpo por completo pela primeira vez, notando pela primeira vez que...

     CÉUS!! ELE ESTÁ PELADO!!

     COMPLETAMENTE PELADO!!!

     NU COMO VEIO AO MUNDO!!

QUANDO O INVERNO ACABAR Where stories live. Discover now