Escrevi o nome, Fallen.

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TODOS UM DIA CONHECERAM A DERROTA, MAS NINGUÉM NASCE PARA VIVER NELA.

Escrevi: Sr. Fallen.

Tudo começou quando percebi que na minha existência não havia mais nenhum sentido. O que haveria de fazer no céu um anjo sem fé em seu próprio criador? É, eu era aquele que não acreditava, pois não conseguia vê-lo, não o escutava, eu era um sem propósito. Sentado vivia a procura de algo novo a se descobrir naquele lugar monótono cheio de paz. Eu era um andarilho em busca de um propósito, ou algum simples motivo para continuar vivo. Eu era uma casca, transbordando de vazio, até porque, o vazio também transborda; e acreditava que o céu não era mais meu lugar. Em meio as minhas mil caminhadas, me encontrei com um buraco, buraco aquele que quando olhei me assustei! Vi lá um lugar triste, onde pessoas se matavam a toda hora, onde homens faziam maldades com mulheres e crianças, onde pessoas pegavam o que não eram delas pra si, lugar aquele que pessoas usavam coisas que as tornavam insanas, aquele que os idosos eram maltratados, pais matavam filhos e vice versa. Sinceramente achei que fosse o inferno. Assustado, dei alguns passos para trás e naquele momento foi a primeira vez que encontrei alguém depois de muitos anos andando sozinho, era um senhor de idade bem estranho, ele tinha um cabelo e uma barba grande e horrível por sinal, mal feita, me desculpei pôr em seu pé ter pisado, e logo que olhei em seus olhos parei ao seu lado. Ele sorriu; e em relação as minhas desculpas, um acenar de cabeça e um - Tudo bem! - Senhor onde estas indo? - Perguntei. Não lembro exatamente o que ele havia respondido, era algo afirmando que ele estava perdido, mas já havia achado o que queria, eu. - Não é culpa do destino de nós termos nos encontrado - dessa frase eu me lembro muito bem, ele era bem estranho, e isso me assustou, não nego. Antes de nos despedirmos ele me deu um livro, um livro sem nenhuma letra se quer escrita ou número de páginas marcados, era um livro em branco que aquele senhor com cara de avoado havia me dado. Mas senhor não há nada escrito aqui - Eu meio confuso falei. - Escreva sua história jovem, agora tenho que ir por que mais pessoas devo encontrar. - E após dizer isso ele foi embora e não sei como não o consegui o alcançar. Naquele momento eu fiquei meio confuso, não entendi o propósito daquele senhor, muito menos daquele livro e a partir dali andei não mais a procura de alguém mas a procura daquele senhor, que havia me deixado lá sem respostas, não esquecendo aquele buraco que me deparei e ao ver seu interior me assustei. Aquele lugar horrível ficou na minha cabeça também, será que era lá que eu deveria estar? Será que haveria encontrado meu propósito? Levar a luz aquele lugar. Um único dia foi suficiente para me confundir por uma vida, e a partir dali todos os dias eu observava aquele lugar me perguntando se eu deveria descer. Semanas se passaram e o meu medo de chegar lá e acabar me tornando mais um daqueles monstros só aumentava. Será que eles são anjos com as asas arrancadas? Foi ai que em um olhar de relance naquela fenda eu avistei algo diferente, e naquele relance iminente eu vi a tal "luz no fim do túnel" que todo mundo fala. Ela era linda, sua alma era alada mas seu corpo não, ela era pura, seus lindos olhos azuis brilhavam de tanta bondade, ela era ruiva e suas sardas eram seu maior charme. A partir daquele dia, minha vontade de descer àquele lugar aumentava cada vez mais, como eu poderia deixar aquele lindo e bondoso ser no meio daqueles monstros. Mas meu medo ainda era grande, eu não tinha permissão de ir lá, então nunca chegaria lá voando, eu não tinha fé, então como com Deus falaria? Acho que a única alternativa seria pular, mas era tão alto. [...] E eu apenas caia, porém já havia imaginado que seria assim quando minha vontade de tentar me fez pular. O medo... a adrenalina está fazendo minhas asas baterem. Ai! [...] - Resmunguei - Dor foi minha primeira sensação, aquele momento que arrancava minhas penas sem nem ao menos conseguir olhar, era dor que eu sentia. Agora eu era um anjo sem asas, que caia para, um talvez, cumprir sua missão. Pode ser hipocrisia da minha parte mas sentir dor era algo tão maravilhoso que não conseguia entender como esse sentimento era tão rejeitada pelos humanos, era assim que eu estava me sentindo naquele momento, um ser mais humano, algo que sempre quis ser, e aquela sensação de que iria morrer era algo tão incrível, não sei explicar exatamente como é sentir isso mas acho que o nome disso era pânico, até porque eu estava em queda livre para um lugar que eu nem sabia onde ficava. E tudo aquilo durou apenas 3 minutos, mas parecia que havia durado uma eternidade. Eu temi, eu senti, eu caí, e o primordial, eu sobrevivi. Já estava no chão quando recuperei a consciência, não sentia a maioria das partes do meu corpo, foi aterrorizante, aquele monte de homens me colocando em uma cama móvel e me carregando para dentro de uma casa branca com uma cruz vermelha na frente, sinceramente quando vi aquilo achei que eram um grupo de homens que participavam de algum tipo de culto maligno ou algo do tipo, mas logo que acordei novamente depois de algumas horas desacordado percebi que aquele lugar era como se fosse uma casa de cura, lá tinha uma série de aparelhos, tais que eu nunca havia visto no céu. Minhas asas? Eu perguntei, e um dos homens disse - O senhor é louco de pular de um prédio? Estava querendo se matar? - Eu ainda estava debilitado então desmaiei novamente, e assim foi até eu me recuperar daquele trauma, desmaio após desmaio, susto após susto, até que consegui ficar de olhos abertos, confesso que foi bem diferente ver aquele monte de gente com as mesmas roupas comemorando o meu abrir de olhos, mas de certa forma eu gostei. Naquele momento eu só pensava nela! É, ela mesma! Aquele anjo perdido que eu havia visto aqui, nesse lugar que é mais iluminado que eu havia imaginado. Fiquei alguns dias refletindo e pensando nela, não podia levantar estava com o corpo sedado por ter tentado fugir dali uma vez, eu havia quebrado um dos meus braços e me lembro que um dos médicos disse que foi um milagre eu não ter morrido que era para eu agradecer a Deus por só ter quebrado um braço. Eu fiquei meio confuso, aquelas pessoas acreditavam em Deus e eu não, eu ex criatura celeste... Mas eu só tinha cabeça para ela, fiquei exatamente 7 dias de repouso até que em uma surpresa quem entra na minha sala? Sim ela! Ela trabalhava ali - Ah! Eu já sabia o nome daquele lugar "era hospital" aprendi com um dos caras que cuidava de mim. - Ela entrou ali toda radiante e ainda brincou comigo dizendo - Como você está rapazinho travesso? - acompanhado do sorriso mais lindo que eu já havia visto em minha vida. Lembro que respondi a ela que estava meio tonto, mas que o motivo era por sua beleza, ela riu como se eu estivesse brincando, mas eu não estava. Essa foi nossa primeira conversa, e confesso que foi a melhor de todas, ela olhou as máquinas e disse que daqui a alguns dias eu receberia alta, mas ficaria com o braço imobilizado por mais alguns dias. E entre nós já havia paixão, ela passou a ir lá todos os dias, me ver e conversar comigo, perguntou quem eu era, de onde eu vim. Ela achava que eu era louco, mas minha loucura era a mais lúcida do mundo. Nossas conversas iam só se tornando mais interessantes a cada dia, e dia após dia, nosso desejo de se ver ia aumentando, acho que ficar no hospital foi a melhor coisa que já havia me acontecido, e em uma de nossos leros, ela me convidou para ir a sua casa, e foi a primeira coisa que fiz quando recebi alta, e lá na casa dela foi onde aconteceu nosso primeiro beijo, meio desajeitado, e confuso até por que eu nunca havia beijado ninguém na minha vida, porém foi uma das melhores sensações da minha vida - beijo tinha gosto bom. - Jantamos, conversamos, bebendo um bom vinho, e ela perguntou se eu tinha lugar para ficar, falei que não, que não tinha parente, casa, nada, já que ela não acreditava na minha história. E foi no seu ato de compaixão de me convidar para ficar em sua casa em um quarto de hóspedes que nosso amor só aumentou. Foram as melhores semanas da minha vida, minha vida já estava estável, eu trabalhava em uma livraria e lá aprendi o gosto por livros e também onde aprendi muitas coisas que não sábia. Nós conversávamos muito e em uma de nossas conversas lhe disse que queria ser escritor, ela me apoiou na ideia, e me ajudou a pagar uma faculdade, estávamos meses juntos, nossa vida estava perfeita, mas como perfeição não existe, ela me disse que havia marcado uma viajem com as suas amigas, antes mesmos de me conhecer, eis que compreendi, e com lágrimas nos olhos deixei meu amor partir, e mesmo sem entender os caminhos de Deus lhe dei meu último adeus, e foi naquele aeroporto o mais bonito da cidade que as 5 da tarde, o sol e estava saindo e a lua estava surgindo. Ela era sol e eu lua, ela partia para que eu pudesse atuar na história, ela era sol e eu lua, e juntos éramos o pôr-do-sol. E ela se foi, se foi dali, daquela cidade, daquele país, da sociedade, o que pra eles não muita diferença fez. E é ai que entro na história, ela se foi, e o que restou era destruição e bagunça - eu - um amontoado de confusão e um amor excessivo, junto a ela o destino também levou suas três melhores amigas: Aana, foi com quem eu mais convivi, ela era loira e seus olhos negros hipnotizavam todo aquele que com quem a ela se deparava, ela era uma pessoa incrível, e sua escrita era algo contemplador, essa era a melhor amiga do meu amor; Louise era a mais distante de nós, menina avoada, não por ela ser aeromoça, mas por ela ser meio lerda mesmo, nosso motivo de risada, lembro quando ela tropeçou nos degraus de nossa pequena escada, estávamos desesperados e preocupados, e ela lá, rindo de montão, sentada no chão, como se nunca algo de ruim fosse acontecer; Vitória era a mais elegante, ela era bailarina, e em toda esquina ela enxergava um palco para dançar, era o que ela amava, bailar, independente de um espetáculo ou em uma simples dança de rua, ela dizia que dançar é o movimento de amar com o corpo, e quem não dança tem o cérebro oco. A vida as vezes prega peça na gente, as vezes não podemos controlar tudo, e foi o que aconteceu, o piloto não conseguiu controlar o avião que elas estavam e ele em um lugar lindo acabou caindo - Reza a lenda de que esse tal lugar de tanta beleza, foi algo feito por Deus para amenizar, toda a dor que aquele acontecimento traria. - Pena que essa lenda não funcionou, e quando soube do ocorrido, mais um coração partido nesse mundo quase dividido no meio. Atordoado eu fiquei - confesso - ela era minha rainha e eu sei rei, e agora que ela partiu o que me tornei? E lá estava eu vagando novamente, como se fosse um doente que internado precisava ser. Nascer, crescer, morrer, isso é iminente o problema é que algumas pessoas se vão nas piores horas. E aquele meu grande papel? Que achei que tinha quando vagava no céu. Papel? - Isso não existe, não existe isso de propósito no mundo, e eu só era mais um imundo que o céu larguei, descrente, que não acreditava em seu rei, em sua gente. - E novamente estava isolado, andando desolado não mais no céu, mas em terra - Era como eu chamava esse lugar, pois era na terra em que todos pisavam. - Eu estava em estado de choque, trancado no meu quarto fiquei, orei sem fé - e por isso nada melhorou- pedi de pé, - agora eu tentava acreditar - até que me desesperei e um de meus pulsos cortei, parei. O olhava de frente - meu pulso cortado - e via aquele corte talhado pelo filete de aço em meu braço, um corte horizontal que não se podia se chamar de triunfal, mas o que é o triunfo em meio ao desespero? E iam surgindo mais cortes, 56 no total, todos na horizontal, o sangue no chão era sepulcral, era um grande lago vermelho se formava e em meio àquela poça eu me amontoava, me entregava, e me afogava, em todo aquele desespero, terror, frustração e medo - claro que havia muito mais sentimentos em mim naquele momento, mas esses são os que consegui lembrar. - Deitado me preparei para o meu "grande final" um corte horizontal, que cortava do meu pulso até onde eu aguentar - eu tremia naquela hora, de frio, não me pergunte porquê. - E essa foi a minha pior lembrança, mesmo com muito esforço eu consegui levar a navalha até meu pulso, o corte cortaria todos os 56 traços horizontais no meio, Jesus teve a sua cruz, essas são as minhas, mesmo sendo muitas, não se compara a dele, mas mostra que a minha também não era leve. Estava tudo certo para o último corte, a última dor até o eterno sono que adormeceria a frustração de cair do céu em emoção para amar e todo aquele sentimento sobrar, e o pior se transformar, em algo tão paradoxo ao que era antes. Mas eu desmaiei, acho que era a morte perguntando se era realmente aquele destino que eu queria, se não estivesse apagado, eu sorriria e diria que sim, mas eu estava "inlucido", e pra mim, sabe quem apareceu? Meu amor! O que morreu. Ela estava lá, no meu sonho com aquele senhor - o louco senhor - que comigo falou no céu, e um livro me doou - tal em branco, sem quaisquer números ou letras - Ela retornava a minha memória, repetindo a mesma frase: "Amor, não se entregue, estarei sempre em sua memória, se erga e escreva sua história." E me lembrei que aquele tal senhor, bem ali de cantinho, meio doidinho já havia me dito algo parecido, me lembro muito bem: "Escreva sua história jovem, agora tenho que ir por que mais pessoas devo encontrar." Foi exatamente o que ele disse. Ainda desmaiado eu ali acanhado, olhando meu amor, sem sequer poder lhe dar um simples alô, ou um abraço, estou sendo modesto porque na verdade eu queria era beijá-la, abraça-la, e levá-la para casa e viver exatamente o "felizes para sempre", até porque não havia gostado daquele tal "Até que a morte nos separe" que todo mundo dizia. Quando caí em si, meu sangue tinha parado de jorrar e começava a sessar, foi então que vagarosamente me levantei - nessa hora a dor era eminente - e em meio que um rastejar, me levantei e o tal livro fui pegar, assim que eu abri nele estava escrito: "Escreva seu nome aqui, pois nenhuma história começa sem personagem." E foi ai que me dediquei ao pedido do meu amor, daquele dia em diante virei um grande escritor, e meus livros famosos se transformaram, e foi ai que decidi, que algo para todas aquelas pessoas que como eu decidiram cair - por um amor ou não - e se encontraram perdidos pois caíram em vão, decidi escutar histórias pois as vezes só precisamos ser ouvidos, mas principalmente, decidi relatar todos aquela dor que se encontrava no olhar de quem sofre, aquele livro se chamaria cartas dos derrotados, e ali todos os elos estarão ligados, até que o círculo se parta, então mande sua carta, pois se a vida não te matar a dor mata.

Todos um dia conheceram a derrota, mas, ninguém nasce para viver nela.

I'm Sad. Sorry.

Sr. Fallen

Cartas dos DerrotadosWhere stories live. Discover now