Entardecer sob macieiras

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Os entardeceres de Pudong eram meus preferidos, mas aquele entardecer ao lado de Jun na sacada do meu quarto foi meu preferido de todos.

O chá de morango sob a mesinha combinava com a doçura do nosso amor e com o rosa do horizonte.
Permanecíamos em silêncio, escutando as sinfonias em piano do Studio Ghibli, vindas da vitrola antiga de vovó. Minha cabeça ficou o tempo todo apoiada nos ombros largos de Jun, que, por sua vez, me envolvia em seus braços.

Não precisávamos dizer nada. As palavras poderiam simplesmente estragar a magia do momento. Entretanto, podíamos sentir tudo que significava estar ali juntos.
Muitos aromas compunham nossa tarde, mas o cheiro das macieiras do parque, trazidas pela brisa eram o que eu mais gostava. 

- Se eu fosse um jardineiro, plantaria uma macieira no seu terraço, Lili. - Jun disse, por fim.

- No meu terraço? - ri - Por que?

- Para que você se sentisse perto de mim quando eu estivesse longe.

- E você não pode comprar uma macieira, Jun.

- Não. Eu teria que plantá-la, para que nascesse de mim.

- Jun... Você viaja.

Nós rimos e quando o coro das nossas vozes cessou tive medo de perder aquilo.

- Quando você vai? - Perguntei, por fim.

- Em dois dias. - Ele respondeu sério.

Voltamos a ficar em silêncio por alguns minutos, até que Joe Hisaichi, compositor de "Merry Go Around of Life", começou a tocar os acordes delicados de sua melodia, quando eu, até então sorridente, comecei a chorar.

Jun se levantou imediatamente, no início da valsa de Howl's Moving Castle, e me estendeu a mão.

- Vamos, minha doce Sophie, temos um país para desbravar e um jardim para apreciar.
Sorri, ainda com a face úmida, e me permiti ser guiada por Jun nos passos de valsa improvisados que demos pela sacada, com o céu ainda rosa de fundo e o perfume das macieiras de Pudong envolvendo o apogeu do piano emotivo de Joe. 

A mão esquerda de Jun pousava delicadamente em minha cintura, enquanto a direita me guiava rumo ao horizonte desconhecido. Eu iria para qualquer lugar, com aquelas mãos.

- Eu te amo, Mai Li. De verdade.

Jun me beijou suavemente quando a música estava no fim.

Titia não se atreveu a abrir o quarto nenhuma vez e eu não poderia estar mais feliz.
Jun fechou as persianas do meu quarto e trocou o Piano para a melodia psicodélica de Fyllis.
Nos beijamos lentamente nos olhando em pequenos intervalos. Jun deslizou o tecido fino do meu vestido pelos ombros e depois segurou meu rosto com as duas mãos.
Fyllis estava no coro de "Lift me Up" quando Jun me tomou nua em seus braços e me levou para a cama, onde compartilhamos nossos corpos e os mais puros sentimentos de nossa alma.

Nada parecia tão certo quanto pertencer a ele e quando o crepúsculo chegou ao fim minha cabeça repousava sob o ombro do homem que eu amava.
Sim, o amava. Foi ali que percebi que, independente de minhas escolhas e preferências profissionais, meu amor por ele era um fato irrefutável. Eu poderia fazer qualquer coisa, mas nada anularia esse sentimento dominador em meu ser.

- Tem alguém que quer falar contigo amanhã, Lili. - ele revelou em tom doce, acariciando a pele da minha costa.

- Quem?

- Alguém que lhe fará bem conhecer melhor.

Jun beijou o topo da minha cabeça e eu me aninhei nos seus braços. Ali não existia nada de ruim ou que me fizesse temer. Eu podia enfim ter paz. A minha mente tão cheia e alta no falar, finalmente se calava. Jun era meu poço de paz.

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⏰ Última atualização: Mar 04 ⏰

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Lilili Yabbay (Wen Junhui)Onde histórias criam vida. Descubra agora