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Ully era uma Receptora. Era a única coisa que fazia sentido, dentre todas as outras teorias que a garota poderia ter tido. E, com a ajuda de Beatrix e seu livro misterioso, estava claro que essa era a resposta mais plausível de todas.

- Tecnicamente falando... - a fada da mente dizia de forma lenta, raciocinando enquanto voltava a ler - "Uma Receptora é uma fada que herda todos (ou quase todos) os poderes de seus ancestrais",

Beatrix ouvia tudo com cautela, acenando positivamente com a cabeça. As duas garotas se encontravam no dormitório da fada do ar, enquanto a manhã rodava fria do lado de fora.

Ully sentia-se mais disposta após uma longa noite de sono - apesar de todo o peso que ainda carregava nas costas. Não havia falado com Musa até então e seu celular tocava incessantemente dentro do bolso. Mas, a de cabelos escuros achou que seria justo, pelo menos uma vez, tentar ajudar à si mesma primeiro.

Mesmo que lá no fundo, se sentisse culpada por isso.

- Certo - Beatrix respondeu, antenada. - E aí diz como isso funciona? Quer dizer... como você descobre o que herdou?

- Eu não sei - a fada da mente riu, sem jeito. - A tradução está confusa, preciso de mais tempo para poder traduzir de forma um pouco melhor, estive meio ocupada nos últimos dias - deu de ombros, fechando o livro. - Bom, mas eu acho que se tentarmos listar às vezes em que minha magia fez coisas... estranhas, talvez possamos ter uma noção melhor.

A de cabelos castanhos avermelhados sorriu.

- É uma ótima idéia - concordou, colocando uma das mãos na cintura. - Porém, eu acho que você deveria atender seu celular primeiro, está começando a ficar irritante.

- Se eu atender, alguém irá me pedir para fazer alguma coisa e eu terei que me desligar disso aqui - apontou para si mesma com o dedo indicador. - E me preocupar com todo o resto do mundo.

- Pode estar certa - a fada do ar colocou-se de pé. - Só que, algo me diz que pode ter algo ligado com os seus olhos estarem roxos à pelo menos uma meia-hora.

Imitando o ato da amiga, Ully levantou-se em um pulo, confusa ao andar em direção ao espelho mais próximo que encontrou no quarto alheio. Passando as mãos com cuidado sobre o rosto, a fada sentiu um ponto de interrogação ainda maior se formando acima de sua cabeça.

- O quê?

•••

- É um efeito colateral da cerimônia - a voz de Aisha explicava, apreensiva.

A morena segurava nas mãos o cristal qual fora usado na noite anterior, para a tentativa da cerimônia convergente de Musa - onde cada uma das garotas segurou e tentou canalizar à magia para a tal "pedra brilhante".

Aparentemente, por não terem concluído o que começaram, a magia de todas elas continuava ligada diretamente ao cristal - fazendo-as agirem como não queriam, ou melhor dizendo, de forma descontrolada.

- Estamos canalizando com baixa intensidade, sem parar - continuou a fada da água.

Os olhos coloridos se encaravam, atentos.

- É, tem razão - Flora concordou, colocando uma das mãos sobre o peito. - Estou sentindo bem aqui.

Ully riu ironicamente, com as duas mãos cobrindo os ouvidos - ato totalmente inútil, ela sabia. Entretanto, precisava de um conforto diante as vozes "mentais" das amigas rodando de forma alta em sua própria cabeça.

- E eu bem aqui.

Quando estava com Beatrix, não pôde notar, afinal, não conseguia ler os pensamentos da garota nem quando queria. Agora, do trajeto do pátio, corredores e até mesmo ali dentro da sua suíte, Ully soube que havia algo fora do comum rolando.

- Por isso a Terra perdeu o controle - Stella confirmou, colocando uma das mãos no ombro de Ully, sentada no chão ao seu lado e lançando um olhar rápido para a fada da terra à sua frente, que logo lembrou de como, sem querer, havia usado sua magia contra Musa mais cedo. - O que faremos?

- Bom, eu... - Aisha foi interrompida ao som de batidas na porta.

A morena levantou-se com rapidez, ouvindo os resmungos nada contentes de Ully pelo som repentino perfurando com uma força maior seus ouvidos. Sem dar muito atenção à quem estava na porta e o que foi conversado, a fada da mente permaneceu na mesma posição, tentando focar apenas em seus próprios pensamentos.

- Aqui - Aisha voltou após alguns minutos, abaixando-se até estar de frente para Ully, que só então voltou à realidade. - Acho que só isso pode ser o suficiente... vamos ver.

- O que eu...?

- Apenas canalize sua magia.

Ully assentiu.

Respirando fundo, a garota segurou com cuidado o cristal em suas mãos. Olhando fixamente para ele, ela se permitiu relaxar, sentindo a magia fluir por suas veias a medida que à canalizava com cuidado.

Não demorou muito para os sons dos pensamentos ficarem cada vez mais baixos - até chegar no ponto em que não passavam de sussurros, onde ela poderia voltar ao seu normal e escolher em qual queria focar totalmente. No caso, não escolheu nenhum. Apenas deixou os sussurros - quase calmos -, rodarem sua mente, como sempre fizeram.

- Como se sente?

- Normal - murmurou, aliviada. - Caramba, vocês pensam demais.

As fadas riram em uníssono.

- Agora é só canalizarmos nossa magia de volta para o cristal - Terra sorriu, contente. - Tudo resolvido, então.

- Ainda não - Aisha voltou à dizer. - Eu preciso ligar para a Bloom.

••••••

𝐢. 𝐀𝐅𝐓𝐄𝐑 𝐓𝐇𝐄 𝐒𝐓𝐎𝐑𝐌. ! ༉ 𝗳𝘁𝘄𝘀Onde histórias criam vida. Descubra agora