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Alexandre Nero

Estava fugindo da Ana Vitória como podia. Que mulherzinha mais grudenta e irritante! Depois que colocou o endereço de sua casa no meu bolso e claro que não apareci por lá, pois fui direto para casa tentar entender por que havia desistido tão rápido da Giovanna, a louca inventava mil desculpas para cruzar comigo nas salas e corredores da CMG.

Aquela segunda-feira demarcava a primeira semana em que tentava fingir que Giovanna nada significava para mim. Percebia a sua introspecção com pesar,mas sem tomar atitude alguma. Seu sofrimento era tão visível que só fazia me deixar ainda mais assustado. Depois que passou não apenas a me ignorar, mas a todos na CMG, fiquei atento a cada um dos seus gestos.

Foi apenas na sexta passada que deixei meu orgulho um pouco de lado e liguei para Catarina. Sei que esperei demais. Sou teimoso e às vezes guardo muito rancor.

Mesmo sabendo que ela talvez precisasse de mim evitei ao máximo qualquer tipo de contato.

Catarina me disse que Giovanna também a ignorou durante quase toda a semana,bem como o capacho. Além do mais, havia passado a ir e voltar do trabalho de táxi,coisa que jamais aconteceu desde que “namora” o Jaime. Ela estava realmente muito esquisita, porém uma informação me deixou ainda mais intrigado: Catarina acha que Giovanna voltou a fumar. E eu nem sabia que a doida era ex-fumante, sequer imaginava. A situação inteira era para lá de preocupante.

A boa notícia era que Catarina me garantiu que não tinha faltado a mais nenhuma aula, e também que jogou todos os cigarros fora, apesar de a casa estar exalando cheiro de tabaco por causa da suposta recaída da Giovanna. Apesar de ainda ter vontades, Catarina vai fazer o possível para largar o vício. Pelo menos alguma coisa estava caminhando bem, já que o resto parecia desmoronar cada vez mais depressa.

Passei o fim de semana inteiro alimentando o meu ego. A minha vontade de ligar era quase insuportável. Quase, pois suportei valentemente. Nem com a Catarina busquei mais novidades, e ela também não me ligou ou mandou qualquer mensagem.

Achando que notícia ruim chega logo, fui deixando os segundos passarem até as cinco horas da tarde daquela segunda-feira sem graça. Giovanna era a minha fonte de alegria diária. Sem ela, era assim que as coisas ficavam: sem sal. Sem ânimo. Só o vazio tomava forma, o silêncio imperava e a infelicidade ria da minha cara.

Já estava cansado de sentir o vazio quando percebi que Giovanna não somente não tinha estado em nossa sala como também em toda CMG. Minha preocupação imperou. Piorou quando recebi o seguinte e-mail na minha caixa de entrada:

“Estarei de volta em breve. Estou trabalhando pesado mesmo longe da CMG, então nada de corpo mole. Podemos terminar na semana que vem.”

Claro que era dela, mas não havia sido enviado apenas a mim. Mais tarde,comprovei que o Rodrigo e o Júnior tinham tantas informações sobre o que tinha acontecido com ela quanto eu. Não deu outra, precisei lhe enviar uma mensagem de texto no celular, visto que a maldita fez questão de não atender à única ligação que o meu orgulho me permitiu realizar.

Depois de me responder de forma absolutamente grosseira,como era o esperado, acabei desistindo de buscar informações com ela e fui direto à minha principal fonte: a Catarina. Não ia dar para ficar no escuro, precisava saber por que Giovanna não estava em seu habitat natural, ou seja, no trabalho.

Uma parte de mim sabia muito bem que bicho a tinha mordido, pois era só me olhar no espelho. Só não queria ter este tipo de esperança. Odiaria abrir um leque de novos motivos para me decepcionar. Meu coração ainda doía toda vez que me lembrava de que nunca mais a teria para mim de novo.

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