22° Capítulo - Um Minuto de Paz

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Pego aquelas bolsas de sangue no chão e corri até Sienna desesperada por não escutar seu coração bater.

Rasgo aquela bolsa de sangue e abro a boca dela enfiando aquele sangue em sua boca.

Inicialmente ficou sem reação, mas quando o sangue começou a escorrer pela sua garganta despertou e pegou aquela bolsa da minha mão a esmagando fazendo aquele sangue adentrar sua boca enquanto o tomava sedenta.

Podia ver sua pele regenerar algumas escoriações, aquele aspecto ressecado foi alterando e ficando firme e hidratada, até seu cabelo ganhou mais volume e vida.

Sienna sugou as bolsas de sangue que tinham ali e ao finalizar fico estática ao ver o quão linda ela é, seus olhos nunca estiveram tão azuis, seus lábios volumosos e de um tom bonito, sua pele embora esteja suja, parece não ter imperfeição alguma e nunca vi um cabelo loiro tão bonito, mesmo sujo.

Sangue escorre na lateral de seus lábios e ao tocar aquele sangue e olhar sua mão suja começou a tossir como se engasgasse, chora assustada com o que fez.

Deito ela de lado dando alguns tapinhas em sua costa e deixando-a colocar para fora esses sentimentos ruins que está interiorizados.

Mesmo que não tenha matado alguém ainda, ela sabe que após se alimentar de sangue pela primeira vez, isso será inevitável.

Assim como ela sei o quão horrível é quando outras pessoas tomam decisões das nossas vidas por nós mesmas.

Mas nunca vou saber realmente como ela se sentirá sendo uma vampira, mesmo que conseguindo manter seu lado bruxa, ainda assim terá que matar para viver. E ela era médica, salvava vidas, agora vivera para tira-las.

Consigo me colocar em seu lugar e apenas a deixo chorar e extravasar todos os sentimentos pelo tempo que for necessário.

(Aron Wright – Heartbeats)

Sienna se afasta e senta em um canto mais escuro encostando-se a parede como se o peso do mundo estivesse sob seus ombros.

Me aproximo e sento ao lado dela, não preciso dizer nada, fazer nada, apenas estar ali. A última coisa que ela precisa nesse momento é se sentir sozinha. Sei bem como é passar por isso.

Ficamos ali sentadas por longos minutos, quando ela consegue colocar os pensamentos em ordem questiona:

— Como conseguiu? Como superou?

A encaro por alguns segundos, queria dizer que existia uma formula mágica para isso, que ficaria mais fácil com o tempo, mas não é verdade. A gente só encontra razões para querer sobreviver a essa nova vida e nos agarramos a isso.

— Você só continua. Um dia depois do outro. Mesmo quando doí tanto, a ponto de não conseguir nem mesmo respirar, você continua... Você sobrevive. E todo dia você inventa um novo motivo para não desistir até que em algum momento, não vai mais precisar inventar. Com o tempo e um pouco de sorte, vai se dar conta de que aquela dor se tornou parte de você, de uma forma que ela não terá mais o poder de te manter de joelhos, mas como um combustível que vai alimentar a sua força.

— Parece uma maneira cansativa de passar a eternidade.

Fico surpresa com a resposta, eu pensava exatamente assim. E em alguns momentos, quando não estou bem, ainda me pego pensando. Principalmente quando penso em tudo e todos que perdi.

Sienna voltou o olhar para o outro lado e indaga:

— Você tem olhos tão tristes. Foi algo que me chamou atenção quando te conheci. Fiquei me perguntando o que tanto escondia neles para serem tão tristes assim. Acho que agora tenho minha resposta.

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