Capítulo 27 °

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••°• Mellany •°••

Faz uma semana que Peter me deu meu cachorro, desde esse dia, quase não o vi, ele sempre saia antes que eu acordasse e chegava quando já estava dormindo. Somente duas vezes que o vi, mas nossos diálogos não foram grandes, foi mera cordialidade e isso me incomodou tanto.

Não deveria, mas... por que estou sentindo tanta falta dele? Estou de mau humor, me sentindo frustrada e propensa a tentar fugir só para ver se ele aparece para me impedir. Isso não é normal.

— Aaah, que raiva! O que está acontecendo comigo? – Me questiono, dando um soco na árvore devido a minha loucura aparente. — Não consigo parar de pensar nele! – Outro soco. — Sai da minha cabeça. — Choramingo. — Que raiva! — Desisto de me machucar, apenas encosto com as costas na árvore e me sento no chão. Tutty vem correndo deitar em meu colo.

— Oi! — Levanto meu olhar em desespero assim que escuto a voz do homem que mentalmente chamei. Engulo seco, ele se aproxima sorrindo com certa malícia. — Por que não consegue parar de pensar em mim? — E se senta bem ao meu lado, fico sem me mover para ver se consigo ignorar a existência dele.

— Traidor. – Não consigo me controlar quando Tutty corre pro colo dele e deita confortavelmente. — Não era para você escutar. Por que está aqui? Logo hoje resolve chegar cedo magicamente.

— Tenho uma audição muito boa, esqueceu? — Faço careta. — Mas, estava falando tão alto que sequer consegui sair, tive de vir para cá. Agora, me responda. Estava sentindo minha falta?— Pergunta inclinando a cabeça pro lado, por que ele é tão lindo?

— Você disse que não consegue ler meus pensamentos, certo? — Assente. — Não parece. — Reviro os olhos. — Enfim, não foi nada demais, apenas não gosto de ficar sozinha. Mesmo que você seja a companhia, é menos entediante. — Respondo tentando parecer indiferente. Não quero que saiba que, por algum motivo, sinto que estou gostando dele e não de uma maneira boa... para mim. Estou ficando maluca.

— Por isso, te dei o cachorrinho, para não se sentir sozinha. — Diz como se fosse óbvio. — Aliás, mesmo que seja eu a companhia? Poxa, me senti ofendido. — Leva a mão ao coração, fingindo que se ofendeu mesmo. Acabo rindo por isso, ele é muito chato. Acho que já não quero mais ele por perto. — Você fica linda quando ri, sabia? — Sinto meu rosto corar, deve estar igual um tomate. Por que ele vive falando coisas assim?

— Não se acostume, me pegou desprevenida. – Falo cruzando os braços e dando um sorriso de canto, mesmo tentando fazer bico.

— Fiz uma pesquisa com minha mãe, ela achou um livro que falava das cores dos olhos. — Olho para ele atenta, quero entender. Deve ser pelo contato com magia que estou tendo. — Por exemplo, os seus agora estão amarelos e estão lindos. Quer saber o que significam? — Assinto. — Bom, é raro existirem pessoas assim, mas vamos lá. Quando estão cinzas, significa que está com medo. Quando estão vermelhos, significa que está com raiva, quando estão azuis e verdes, é mais comum, pode ser felicidade, tristeza, chateação, é normal, pois pode ser a cor original do olho da pessoa, como é seu caso. Agora, quando estão amarelos... — Faz uma pausa, apenas para se aproximar de mim. — Significa paixão, amor e desejo, seus estão assim nesse momento, princesa.

Arregalo os olhos devido ao choque de suas palavras. Não tem como eu estar apaixonada por ele. Fico nervosa quando o homem começa a aproximar o rosto do meu, mas não ouso me mexer, estou abalada demais para fazer isso. Fecho os olhos com força, sem saber ao certo se devo fazer isso, esperando apenas para ver o que vai acontecer.

— Por que seu coração está acelerado assim? — A voz dele se faz presente e logo sinto a mão dele tocando na minha bochecha.

Não consigo falar, menos ainda esconder a sensação diferente que toma todo o meu corpo, e ele parece perceber, pois logo seus lábios estão sobre os meus. Entro em desespero, sem saber o que fazer. Meu coração parece prestes a fugir de meu corpo, assim como uma quentura que começa a crescer em mim, fazendo com que isso pareça tão correto, mas minha cabeça diz que não é devido a tudo que aconteceu.

Abro os lábios minimamente por impulso, isso faz com que a língua dele invada minha boca e tente intensificar o beijo. Levo as mãos ao peito dele, sentindo uma de suas mãos apertar com firmeza minha cintura e meu corpo reagir positivamente a isso.

Não! — Empurro o peito dele e afasto nossos lábios, isso faz com que feixes de luzes apareçam e um choque percorrer todo meu corpo. Me levanto com rapidez e olhando para ele impactada.

— Desculpa, eu é... não consegui me controlar. — Se desculpa enquanto se levanta, colocando Tutty no chão.

— Não, é, o.. O que aconteceu? Você também sentiu? – Pergunto cobrindo minha boca, ainda sinto a intensidade do que acabou de acontecer.

— Sim, isso acontece quando duas que foram feitas para ficar juntas se beijam, somos compatíveis e estamos apaixonados. — Diz como se fosse óbvio.

Não posso gostar disso, não posso gostar dele, não posso negar minhas convicções por alguém que me ensinou o que era dor.

Corro em direção ao quarto, minha cabeça está a mil e não sei o que pensar. Ao mesmo tempo em que minha cabeça me acusa, dizendo que é errado, meu corpo pareceu apreciar cada toque e sensação. É errado, muito errado.

Ele me raptou, me amedrontou e ainda abriu feridas dolorosas em minhas costas, além de me atacar em sua forma de lobo. Não é por me tratar bem, ser gentil e se tornar alguém que me faz falta quando está longe, que quer dizer algo. Não tem como eu perdoar algo assim a ponto de ficar junto dele.

Bato a porta assim que entro no quarto, tranco e me afasto lentamente, torcendo para que ele não venha atrás de mim. Preciso ir embora, tenho de voltar para casa, para meu pai, para Nana e para minha amiga, preciso da minha vida de volta e não sei se isso vai ser possível. Não quero estar apaixonada. Quero que ele suma da minha vida.

Eita, preula.

E agora? Será o ruir do rapto? 

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Um lobo em minha vidaWhere stories live. Discover now