Sem chance

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Antes de ir para o cursinho de matemática eu tive a infeliz idéia de  parar em uma loja de conveniência para comer algo rápido.

Normalmente eu não paro nesses lugares apesar da cafeína, dos energéticos, dos refrigerantes de cola e dos açúcares e carboidratos serem meus impulsionadores para me manter acordado e com energia para a minha massacrante rotina escolar, só quem se prepara para o Suenung sabe do que estou falando. Eu ainda tenho dois anos antes do exame de aptidões mas a minha programação de estudos já é excessivamente desgastante.
Nem quero pensar em como será o próximo ano, isso se eu sobreviver a esse, pois a minha mãe já está me sufocando demais, ela não me permite  descansar nem nos finais de semana, dormir 8 horas?

É impossivel, ela nunca me permitiria, segundo ela, enquanto os outros dormem eu venço em quantidade de conhecimento adquirido.
Falar isso parece leviano da minha parte, mas isso é só até você entender quem é a minha mãe, com certeza você mudará de opinião a respeito disso.

Preciso realmente de energéticos e alimentos que acelerem meu metabolismo e me mantenha acordado, durmo em média umas três ou quatro horas e minha mãe ainda acha muito, mas se isso fosse tudo que a minha mãe me forçasse a fazer eu estaria tranquilo.
Há uns três anos eu tenho feito uso de medicações controladas para manter o foco, as famosas smart drugs, uso ritalina e piracetam há alguns anos.

Minha mãe consegue com o meu tio médico, diga se de passagem que ele é bem anti ético ao me medicar sem que eu tenha alguma patologia.
Quando digo que minha mãe é anormal é realmente a verdade, como meu pai está sempre ocupado e por vezes fica as madrugadas de plantão ela acaba me pressionando demais, fico pensando se meu pai não tem medo de que eu faça o mesmo que o meu irmão fez, capaz de que ele não pense nisso, desde a morte do meu irmão ele se afastou demais de casa, acho que ainda não aceitou a morte dele, mas acho que ele pensa que a minha mãe tenha tirado o pé do freio, a minha rotina com a dele não se cruza, então ele não faz ideia de como eu estou e eu não quero ser o responsável por destruir o casamento falido deles, por isso eu tenho segurado a onda.
É só passar para a faculdade, não uma comum a Universidade de Seul, ai faço medicina e depois saio do país, sumo e nunca mais volto. No dia que eu ingressar na universidade será o último dia em que morarei com eles, irei para o alojamento dos alunos e só saio de lá formado. Como estarei muito ocupado estudando não precisarei conviver com ela. Sempre darei desculpas e nunca estarei presente.
Esse é o preço que ela terá que pagar, é uma pena, pois se ela acha que me exibirá como troféu e controlará minha vida, que vai arranjar um casamento pra mim, ela vai cair do cavalo. Tudo que estou aguentando é só para poder me livrar dela.

Sinceramente eu quero acreditar que ao ingressar na faculdade tudo melhorará, mas as vezes me pego pensando que a única forma de me libertar dela é seguindo os passos do hyung. Não há um dia sequer que eu não pense nisso, sinceramente sobreviver a minha mãe e a escola tem sido uma luta desumana, me sinto uma criança de 4 anos lutando com um lutador de sumô, sou massacrado diariamente.

Me encaminho para a loja de conveniência que fica na esquina do meu cursinho que é super disputado, as mães fazem fila para pegar senha e assim poder escrever seus filhos nesses cursos. Minha mãe não precisa disso, ela é advogada de um dos donos desse curso. Então, eu tenho entrada garantida neles, conhecimento é poder, essa é sem divida nenhuma uma grande verdade.
A loja de conveniência lucra muito com os estudantes, eles ficam abertos 24hs assim como as salas de estudos, muitos alunos vão para elas para estudar, são locais com computador, são lugares silenciosos onde muitos alunos vão para dormir, mas isso sem os pais saberem.

Quando estou prestes a entrar na loja, virando a esquina sou puxado pelo pulso e arrastado para a lateral do posto onde me deparo com o Wookyu com um olhar duro de desaprovação.

Mal conheço esse cara e sei que ele veio arrumar problemas comigo, é definitivamente eu não conseguirei passar o ano invisível aos olhos dos outros.
Infelizmente eu entrei no radar, esse cara não difere dos outros que me intimidaram no futuro, apesar dele mais cedo ter ajudado o garoto na escola.
Uma coisa é certa, sinto que os problemas estão apenas começando.
Tento me esquivar dele e puxar meu braço para me desvencilhar, mas infelizmente não consigo, ele aperta meu braço com força e ouço apenas algumas palavras

- Precisamos conversar seu otário. ~ Eu o observo e ele me olha de semblante fechado, ele é um cara que se destaca, sua aparência é diferente, ele é alto, esbelto, seu cabelo escuro com uma mecha azul, um brinco em  uma orelha, várias pulseiras e uma roupa básica com um casaco de moletom com Jeans, o visual dele é meio retrô,mas ao mesmo tempo fresco e moderno.

- Me solta!Eu não tenho nada para falar com você, eu nem te conheço. ~ Ele me olha e me empurra contra a parede me segurando pela gola do casaco, sinto  dificuldade de respirar. - Per favor eu não te fiz nada, porque você está fazendo isso comigo? ~ Falo de forma ofegante

- Realmente você não fez nada! Você deixou aquele garoto apanhar e ficou olhando, por acaso você é doente? Psicopata? Ver os outros apanhar é fetiche? ~ Ao dizer isso senti uma vergonha imensa, mas ao mesmo tempo senti medo ele é maior, mais forte e está muito revoltado. Parte de mim quer provocá lo, quem sabe ele me bate até a morte e eu me livro de uma vez de todo sofrimento e dor? Outra parte quer suplicar por desculpas e essa parte infelizmente não vence da outra

- É sou doente, estava só observando eles baterem nele, por que? Não posso apenas olhar? Quando era eu quem apanhava todos olhavam, riam e não faziam nada, realmente é gratificante ver outra pessoa sem ser eu apanhando.~ Noto que ele fica chocado com a minha fala e me solta. Respiro de forma ofegante

- Você não vale a pena, eu esperava uma resposta melhor, na verdade eu esperava que você dissesse que estava com tanto medo que havia sido paralisado, mas não era maldade mesmo. O melhor aluno do colegio é um escroto doentio, mas dá pra entender, gente como você não vale nada mesmo.

- Gente como eu? O que você quer dizer com isso? Como assim? ~ Ele não faz idéia de quem eu sou e me julgou por uma situação específica

- Gente como você sim, inteligente, bem nascido, você é igual a eles, só não bate nos outros. A próxima vez que eu te ver espreitando e se divertindo vendo alguém apanhar eu vou acabar com você. Quem avisa não pega de surpresa seu merdinha. ~ Ele se vira e sai em direção a principal sem olhar para trás. Respiro aliviado mas fico temeroso de que esse seja só o começo.

Retorno a minha rotina e entro na loja de conveniência, lá pego o que é nescessário para que eu me mantenha desperto nas aulas, sigo para o cursinho e lá fico por algumas horas, ao sair uma fila de carros estão na frente do curso, mães e pais buscando seus filhos depois de uma rotina pesada, no meu caso só me resta caminhar até o ponto de ônibus, minha mãe nunca me busca, seu tempo é precioso demais para vir ao meu encontro.
Entro no ônibus e o cansaço toma conta de mim e eu adormeço.
Desperto ao som do motorista que me avisa que chegamos no ponto final. Dormi por mais de 1 hora, desço preocupado e tento pegar outro ônibus, mas passa da meia noite e esse circular para de funcionar.
Procuro meu celular para ligar para a minha mãe mas assim como eu ele desligou por falta de energia.
Decido voltar a pé e ando por horas, o orgulho me impede de pedir ajuda, passo por varios telefones públicos mas mantenho minha dignidade e não peço nada a ninguém.
Chego em casa as 5 da manhã, morto de cansaço e com a lição de que tenho que estar sempre com o celular carregado.
Observo que a minha ausência nem ao menos foi notada, ninguém me esperando, nem mãe, nem pai e nem irmã. Mais uma vez me sinto invisível.

Entro no chuveiro, tomo um bom banho e me arrumo, afinal de contas daqui a pouco tenho aula. Tomo dois energéticos e duas xícaras de café e os meus remédios, antes que os demais acordem vou embora, decido comer algo a caminho da escola. Sinto meu coração acelerar, entro em uma cafeteria e peço mais um café e um sanduiche, como apressadamente e sigo para a escola.

Proximo a escola tem uma viela, um beco, ele conecta a rua principal da rua de trás do colégio, essa passagem é usada direto pelos estudantes e lá tem uma loja de conveniência que também é uma lan house e ao lado tem um karaokê, do outro lado um barzinho , além desses comércios,uma lavanderia, uma loja de materias escolares e um restaurante chinês.

O bar vive infestado de parasitas, desempregados, alunos que matam aula.  Quando estou no meio do caminho vejo o mesmo garoto ser intimidado recuo e quando estou quase saindo, mais uma vez por meu infortúnio encontro ele. Meu coração gela e não sei o que falar. Mais uma vez tento desviar

- Sem chance. ~ Diz WooKyu - Eu te avisei.

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