Kim Sunoo tem como animal de estimação uma Água-Viva imaginária, azul-mar, brilhosa, falante e eletrizante. O rapaz é de alma pura, bem moldada pelo tempo e olhos atenciosos com as estrelas, porém cabeça dura como uma pedra recheada de desconfianças...
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🪁
São sete e meia da manhã, Sunoo está devidamente arrumado — veste uma uma camisa branca de manga longa por debaixo de um colete de lã azul-bebê, calça preta estilo social, um all star branco que grita por substituição e, na cabeça, a tão costumeira boina, também preta — come com seu pai um bom café da manhã, que mais parece um jantar, visto que do lado de fora, ainda está escuro.
O homem, chamado Kim Junseo, tem em uma das mãos um jornal que fora jogado um pouco mais cedo por um rapaz de bicicleta — conhecido, vêm de Aurora, uma pequena cidade iluminada por cores roxas como lavanda; sofrido, desamparado. Sunoo sabe (imagina saber) devido suas roupas espalhafatosas — e na outra, a xícara que ganhou do filho no dia dos pais escrito "O Melhor Pai do Mundo" com desenhos que Sunoo jura ter sido ele a fazer quando criança, porque é idêntico.
Seus olhos estão atentos, movimentando-se contra letras informantes, fonte Georgia, meio cansativa, mais ainda pela bagunça que o país causa. Por uma fração de segundos, os olhos antes bem atentos, se tornam linhas retas, acompanhadas de uma risada baixa e meio rouca, além da cabeça balançando de um lado para o outro em negação, lentamente.
— O que há de tão engraçado? — Sunoo ousa perguntar, franzindo as sobrancelhas ao mesmo tempo.
O Kim mais novo encara Helga, que agora, está ao lado de seu pai, e logo começa a rir também, se deitando em cima da cabeça do homem porque não se aguenta com a graça. Ela precisa se segurar nas madeixas do outro para manter-se, porque suas gargalhadas são tão fortes que a faz escorregar. Sunoo não entende como o humor dos dois consegue ser tão parecido quando quem passa mais tempo com ela é o mais novo.
Helga é uma traidora!
Ou apenas chegou a conhecer seu pai quando ele era mais novo e ainda há apego de sua parte.
— Você conhece a piada do pônei?
— É mais uma das piadas sem graça? — o mais novo pergunta, revirando os olhos ao que seu pai assente com a cabeça, sem desmanchar o sorriso divertido e nem tão costumeiro dos lábios. — Eu não sei. Qual que é? — sabe sim, mas não quer acabar com alegria de seu velho.
Porque vê-lo superando tão fortemente a perda, a falta de uma terceira pessoa nessa mesa, todos os dias, tão puxados e cansativos, por vezes desesperadores, o dá forças para continuar fazendo o mesmo.
Há momentos em que Sunoo consegue ver a imagem de sua mãe sentada na cadeira vazia, mexendo com uma pequena colher o café que ela nunca gostou de tomar, mas que colocava porque queria se sentir incluída aos dois rapazes, os dois amores de sua vida; sorrindo boba enquanto intercalava o olhar cheio de paixão um ao outro. E que saudade que bate. Que falta que faz.
— Pô nei eu. — e então, o homem cai na gargalhada novamente, acompanhado mais uma vez de Helga.
Sunoo nega com a cabeça, rindo baixinho, porque é tão sem graça que chega a ser engraçado, mas ele não quer admitir isso tão claramente porque seu pai começará a se gabar de ser um ótimo contador de piadas. Por isso enche a boca com pão-d'uva, também tomando um bom gole de café-noitada.