Kim Sunoo tem como animal de estimação uma Água-Viva imaginária, azul-mar, brilhosa, falante e eletrizante. O rapaz é de alma pura, bem moldada pelo tempo e olhos atenciosos com as estrelas, porém cabeça dura como uma pedra recheada de desconfianças...
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🪁
— Por que as pessoas fazem a sua caveira?
— Como assim?
É intervalo. Meio do dia. Ou o dia do meio, metade de um bolo que nunca teve cobertura de chocolate, tampouco cenoura na receita porque Sunoo jurou de pés juntos que havia na geladeira. Quem sabe, a proximidade da noite. O momento em que as estrelas brilham e, finalmente, traz paz. Depende muito do ponto de vista de quem vive.
Mas Riki sente calor nesse inverno tão rigoroso.
Sunoo e Riki estão sentados em uma mesa afastada, quase perto da porta da cozinha, mas não porque não tem outras disponíveis, e sim porque o japonês sempre alega se sentir desconfortável meio a tantas pessoas desconhecidas, isso há quase um mês atrás — desculpas para estar sozinho com o Kim, vale contar. O tempo passa rápido, tão rápido que nem viram se tornar rotina. De uma parte, conforto, querer de verdade; de outro, ainda é obrigação ser conselheiro. Um sentimento de por que eu deveria? E, em seguida, um pensamento de será como os outros. Me conformo.
— Falam super mal de você.
Riki escutou e ainda escuta muitas coisas sobre Sunoo, isso o deixa nervoso, porque ninguém o conhece como ele conhece. Bem dizendo, não que Nishimura seja melhor amigo do boinitinho — uma junção estranha de boina com bonitinho, que mais parece um xingamento para chifrudo devido o boi da palavra — mas é um grande avanço para a sociedade que é essa escola.
— É mesmo?
Mas Sunoo não parece se incomodar com isso. Será que ele sabe das atrocidades que falam? Riki não pode nem mesmo conversar com essas pessoas e tentar colocar na cabeça delas alguma coisa, tão pequeno que é, tão inútil. É falar com criança que se acha superior, idade entre doze e treze anos, síndrome do vou-sair-por-cima-de-todo-mundo-porque-sou-aborrecente; entra por um ouvido e sai pelo outro, não vive no mundo, apenas existe em frases sem graça da internet.
Ele é maluco da cabeça. Já parou pra ver que fala pelos cantos sozinho? Me contaram que depois que a mãe dele morreu, começou a ver o fantasma dela. Não consegue aceitar de uma vez a morte? Kihyun, um garoto de dezesseis anos, contou, colocando a mão na frente dos lábios como se estivesse falando um segredo que todo mundo sabe e concorda. Ele é uma folha seca, caída da árvore no outono, sem esperanças, sem empatia, murcha.
Riki quase chegou a ser expulso da escola mais uma vez por ter batido a cabeça dele na mesa por causa desse comentário. Acredita que o rapaz nunca perdeu alguém na vida e passou pela fase de luto. O quão insensível o ser humano consegue ser? Seus pais não lhe deram educação? Ou eles são ainda mais estúpidos? Riki não entende mesmo — perdeu seu pai em um acidente de carro, alguns anos atrás, por isso se doeu.
Quando Sunoo fora informado sobre, Riki contou ao Kim que o rapaz não parava de importuná-lo por ser estrangeiro, que perdeu a paciência e por isso o machucou. Coisa de adolescente esquentado que se mete em briga por qualquer coisa. Ele acreditou, e ainda bem que acreditou, porque Riki não contará tão cedo que calou a boca de um sem sentimento apenas para amenizar as fofocas com o nome de Sunoo.