Capítulo 23: Verdades aparecem

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O cheiro da madeira molhada, e o som das águas se movendo lentamente ao seu redor, confortaram seu coração atordoado e cansado de sofrer. Seu corpo imerso, se deleitava com o gentil gesto de quem a ajudava no banho, e ela se entregava ao carinho, de olhos fechados.

Aquela sensação a lembrava de casa. Estava muito cansada, e pela primeira vez em muito tempo, sentia-se restaurada.

Olhou o reflexo dele nas águas. Os olhos claros olhavam cada parte de sua pele exposta, e a devoravam em um desejo que se escondia atrás de suas pupilas.

"Ele sabe se conter muito bem." Pensou Aurora olhando-o.

Mas, como se quisesse testar seu auto controle, a garota acariciou o rosto do jovem, indo de sua orelha até a boca, o que subitamente o fez enrubescer. Os olhos dele desviaram para todas as direções sem saber para onde olhar. Tentava esconder o desejo.

Mas ela se manteve firme.

— Obrigada Perseu. — Disse ela sorrindo.

Perseu segurou a mão que acariciava o rosto, e beijou a palma da mesma, lentamente colocando os lábios da superfície molhada, enquanto olhava-a fixamente. Dessa vez, foi ela que teve que se esquivar.

— Estamos juntos nessa.

Aurora queria perguntar o porquê dele ir atrás dela e protegê-la daquela forma. Mas não conseguiu, pois estava tão desconcertada que não conseguia pensar direito. Por isso, apenas procurou se esquivar da situação.

— Acho que agora estou limpa. Mas minhas roupas estão imundas, não posso vesti-las.

— Ah sim, pensando bem, tem razão. Tudo bem, espere aqui que eu vou ver se acho algo.

Ele saiu prontamente para procurar outras mudas, deixando uma toalha para que ela se secasse. Aurora deixou as águas, fazendo gotas pingarem no chão, e começou a se secar. Mas antes que tivesse terminado, ele retornou.

— Não se preocupe, eu entrei de costas. — Disse Perseu andando de costas.

— Tá, sei. Até parece que você já não viu tudo o que tem aqui.

— Então posso me virar?

— NÃO! — Gritou ela envergonhada. — Me dê o que você achou pra eu vestir.

Ele esticou as mãos para trás e estendeu uma peça de roupa toda branca.

— Não achei muita coisa, mas tinha uma sala cheia de roupas estranhas. Essa daí era a menos estranha.

Ela desdobrou a peça, que revelou ser um vestido longo branco, com um laço azul abaixo dos seios e todo solto no resto do corpo. Não era o modelo convencional de vestido, em que se deve vestir as anáguas, meias e espartilho, mas daria para o gasto.

— Acho que isso vai servir. — Respondeu já se vestindo. — Mas me diz uma coisa, como é que você fez o carcereiro te obedecer?

— Como assim?

— Ah, você só pediu pra ele as coisas e ele logo te atendeu.

A causa daquilo era aquela tal energia maligna que habitava em seu corpo. Aquilo que ele considerava um estorvo nos últimos meses, tinha se tornado algo importante e útil. Porém, não queria admitir, não queria se tornar orgulhoso como os outros dragões que conhecera, e que apenas usavam seu poder e status para discriminá-lo por ser um mestiço.

A princesa e o Dragão: O retorno - Segundo LivroWhere stories live. Discover now