o anjo da pequena morte, parte quatro

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agosto de 2018

ERA UMA NOITE DE VERÃO, E as estrelas banhavam o céu de agosto. Não havia nenhum sinal de chuva, só uma brisa leve que soprava o rosto, refrescando os ânimos. Abaixo do véu de estrelas, uma construção em estilo vitoriano, com seu negrume e suas formas pontudas, repousava. Era verdade que algumas janelas haviam sido destruídas e também era verdade que o jardim da propriedade estava implorando por ajuda, para dizer o mínimo.

Na frente da casa, em meio ao jardim, havia duas pessoas: uma delas era um homem alto, de cabelos brancos, ele usava uma venda preta e roupas escuras. Gesticulando com muita raiva, de frente para ele, estava uma mulher mais baixa, os cabelos cor-de-rosa dela estavam presos em um rabo de cavalo e ela usava uma longa blusa branca e shorts, alguns arranhões em suas pernas escuras se faziam tão visíveis quanto os cortes em seu rosto.

“Sinceramente, qual é o seu problema?

Angelle exclamou, exasperada. Os olhos dela brilhavam com fúria, e de fato, ela estava com muita raiva. Aquela era uma missão simples; Nanami, naquele dia, não pôde ir com ela — ele teve que cuidar de uma missão que necessitava de um feiticeiro de grau um, Angelle achava que era no interior (as coisas estavam ficando cada vez piores) e Nanami aparentemente era o único disponível por aquelas bandas. Mesmo com a supervisão de Angelle nas mãos, ele teria de ir. Era uma exceção e era urgente. A conversa acabou chegando aos ouvidos de Satoru e ele se ofereceu para acompanhar Marie Angelle, já que ele próprio tinha assuntos para resolver em Kanagawa, ela não tinha como negar, aceitou.

Em suma, a missão era bem simples: a propriedade, nos anos cinquenta, costumava ser um manicômio, as coisas ficaram absurdamente feias e saíram de controle, o lugar foi fechado e anos depois um inglês comprou a propriedade por um preço muito alto. Entre os anos setenta e metade dos anos noventa, havia relatos de que quem entrava naquela casa não saía mais. Nem o próprio inglês que comprara a propriedade e construira o prédio vitoriano era visto — e se foi visto, foi por uma fresta em alguma janela, esse tipo de coisa. Nos anos dois mil, a terra foi vendida, mas ninguém nunca entrou e ninguém nunca saiu de lá.

Resumindo, muitos sentimentos ruins ao longo de muitos anos igual a prato cheio.

Ninguém se prestou a dar uma olhada naquele local nos últimos anos, nenhum civil tinha sido dilacerado de forma estrondosa. Até que, alguns dias atrás, uma janela reportou que um grupo de seis adolescentes tinha entrado na casa. Um conseguiu sair, mas morreu logo depois — estava amaldiçoado. Pena.

Eles só precisavam entrar, fazer uma varredura, eliminar as maldições e limpar até o último trinco da última porta daquela casa e assim ninguém mais morreria naquele ciclo de quase setenta anos. Angelle conseguiria cuidar daquilo sozinha, mas tudo acabou indo para os ares.

Literalmente.

“Não, Marie, qual é o seu problema?”

Maintenant c'est de ma faute, enfoiré?”

Satoru retirou a venda, fazendo com que os cabelos brancos caíssem. A testa dele estava franzida, mas um sorrisinho de canto ameaçava aparecer em seu rosto. Angelle resistiu a súbita necessidade que sentiu de desviar o olhar. Gojo percebeu que Marie nem tinha começado a se curar, talvez ela nem houvesse percebido os ferimentos que as maldições haviam lhe causado. Ele, por sua vez, estava sem nenhum arranhão. 

“Primeiro: olha o linguajar. Segundo: eu tinha um plano. Era só você ter concordado em juntar.”

“É, mas eu te avisei que num espaço desses, não valia a pena abrir o Vazio.”

𝐅𝐋𝐎𝐑𝐈𝐂𝐈𝐃𝐄, gojo satoruDonde viven las historias. Descúbrelo ahora