One night

32

Jake Becker

Já havia se passado 2 dias que o Rafe não aparecia aqui, meu pai e a minha mãe perguntavam sem parar no meu ouvido sobre o porque e assim como eles, eu não fazia ideia.

Na verdade, eu até tinha alguma noção do que tinha acontecido, mas preferi não tocar no assunto com eles. Resolveria isso com a minha irmã, a possível culpada disso.

- Você só tinha uma responsabilidade, Jake: cuidar dessa casa por dois dias - meu pai me repreendeu pela décima vez

Não aguentava mais ouvir aquelas ofensas e a voz irritante dele soando pelo meu ouvido várias vezes.

- Rafe já é bem grande pra saber o que faz, além disso eu cuidei bem da casa, ela tá inteira não tá? - respondi levantando da mesa onde eu estava, sentindo o olhar da minha irmã sobre mim - Alissa, quero falar com você

A garota me olhou confusa e logo me seguiu até o meu quarto, encostei a porta e mandei ela se sentar na cama, logo sentando na cadeira da minha escrivaninha, a encarando.

- Sabe por que ele sumiu - afirmei e ela negou com a cabeça - Não mente

- Eu não tenho ideia - ela falou baixo - Para de tentar jogar a culpa em mim, não é como se eu tivesse mandado ele ir embora

- Por que brigaram depois da festa? - perguntei e ela franziu o cenho, meio confusa - Não finge que não sabe de nada, eu ouvi

- Jake, a gente só discutiu - ela falou e eu cocei a nuca, nervoso

- Você complica as coisas - falei e ela começou a falar, mas foi interrompida - Nem vem, Alissa, sabe por que ele veio pra cá?Porque Ward achou que aqui ele ia conseguir melhorar, tomar rumo - suspirei - Eu não sei porque ele pensou isso, mas eu tava tentando ajudar, eu realmente quero ver meu melhor amigo bem e na faculdade. Mas porra, você não ajuda, fica sempre tentando arrumar motivo pra discussão e..Eu sei lá que tipo de relação que vocês tem, mas você tem que saber lidar com as suas merdas - terminei de falar, não ouvindo uma resposta da minha irmã

Ela ficou parada na ponta da cama, com os braços cruzados e uma expressão pensativa. Fiquei esperando que ela perguntasse algo, que ela confessasse que eles tavam juntos, ou qualquer outra coisa, mas não ouvi nada.

Me levantei, deixando minha irmã sozinha ali, ela precisava de espaço e eu precisava achar meu melhor amigo.

Peguei as chaves do carro do meu pai e avisei que ia tentar acha-lo, nem que eu tivesse que rodar a cidade toda.

Ward e Rose apareceram em casa enquanto eu estava saindo, pareciam não muito preocupados. Ward tinha uma chave nas mãos e uma pasta grande, me fazendo questionar porque ele tinha aquilo.

- Acha ele Jake, confio em você - ele me deu um tapinhas nas costas, recebendo meu aceno com a cabeça.

Segui até Virgínia, com esperança que ia encontrar ele.

Rodei a cidade inteira de carro, perguntei às pessoas por ele, mas nada. Passei em frente a um lugar que eu reconheci logo de cara, me trazendo algumas memórias.

19 de agosto de 2019. Quando Rafe e eu matamos aula pra ir jogar poker em um hotel da cidade com o plano de conseguirmos pagar nossa viagem pra Australia.

Desci do carro, entrando e parando na recepção.

- Bom dia - a atendente loira me deu um sorriso - Posso ajudar? - ela perguntou passando os dedos pelo cabelo

- Tem como ligar pro quarto do Rafe Cameron? - perguntei

- Um instante - ela falou discando o provável número do quarto e logo em seguida falando que ele tinha visita - Pode subir, quarto 20

Subi a escada apertada que tinha do lado da recepção, com alguns quadros esquisitos na parede e manchas de cigarro no carpete, exatamente do mesmo jeito.

Bati duas vezes na porta, vendo loiro abrir com uma expressão visivelmente confusa, com uma camiseta regata branca e o cabelo raspado.

- Porra - falei vendo o cabelo dele - Raspou quando?

- Jake..Como..Como cê me achou? - ele perguntou perdido, me dando um abraço de lado

- Ainda lembro daquele dia - respondi e o vi dar um riso - A gente precisa conversar cara

•

O sol estava se pondo na nossa frente, Rafe e eu estávamos sentados nos bancos da sacada, encarando a vista que tínhamos o privilégio de ver todos os verões.

Avisei meus pais que tinha encontrado ele, mas não me importei em dar informações suficientes.

- Por que tá aqui? - perguntou acendendo um cigarro

- Eu quem devia te perguntar isso - respondi, vendo o loiro tragar duas vezes o cigarro - Por que não me avisou?Deixou todo mundo preocupado

- Preciso de tempo - ele respondeu olhando pra frente - Muita coisa pra pensar

- Foi a minha irmã, não foi? - perguntei e o vi me encarar

- Ela te contou?

- Eu ouvi vocês discutindo - falei - Ela não quis me falar o que aconteceu, mas eu sei que foi ela, o que é que vocês tem afinal? - perguntei buscando por respostas

- Nada - ele respondeu virando o rosto novamente - Nada - repetiu

- Não mente - falei

Ele ficou em silêncio, sem me dirigir uma palavra sequer. Rafe não abriria o jogo fácil, mas eu não estava nem um pouco afim de discutir.

- A Alissa, ano passado..Ela mudou - suspirei - Ela mudou absurdamente, começou a mentir, ficou com um cara 6 anos mais velho, começou a vomitar tudo que comia..Ninguém lidou bem com isso em casa - falei e o vi prestar atenção no que eu falava - Ela pode parecer madura e confiante agora, mas não é.

Ele lambeu os lábios algumas vezes, fechando os olhos.

- Gosto dela - Rafe confessou - Percebi que eu gostava dela desde aquele feriado ano passado no iate do meu pai. A gente transou, Jake, a gente passou madrugadas juntos, é só que não..não é igual era com as outras..Alissa é outro nível, outras ideias, é tudo diferente

- Me surpreende - falei - Me surpreende que ela transou com você - falei com calma, vendo ele tentar se redimir - Ela foi abusada, pelo nosso próprio avô - completei o vendo me encarar preocupado

- O que? - perguntou

- É, e é por isso que eu cuidava tanto dela, eu odiaria ver minha irmã sofrer a mesma coisa de novo. Se ela conseguiu superar esse medo com você, é porque confiou - terminei

- Desculpa - vi o loiro falar - Eu devia ter te contado - ele suspirou passando a mão no cabelo - Mas eu não posso continuar em Outer Banks - ele completou

Eu não entendia o porque dele sentir que era um incômodo e odiava o fato de ter sido o último a saber dos dois.

Mas eu precisava fazer com que ele soubesse que podia contar comigo, pro que quer que fosse.

Rafe podia parecer um filhinho de papai mimado, playboyzinho que conseguia tudo o que queria.
Em partes, ele era, mas só quando você realmente o conhece que percebe a realidade.

Ele criou um tipo de máscara pra tentar disfarçar a falta que o pai faz, a necessidade de ter alguém pra cuidar dele.

Era estranho porque eu sempre tive a sensação de que uma hora ele ficaria com a minha irmã, e fica mais estranho ainda se pensar que talvez isso estivesse certo.

Os dois são o caos, mas são o caos de traumas diferentes. Minha irmã por traumas do que fizeram com ela e Rafe por traumas do que não fizeram pra ele.