Capítulo 1

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Outubro de 2022

Liz

— Liz? — Beth me chamou. — Desculpa te interromper, mas a sua cliente das 10h já chegou, ela está à sua espera na sala de reuniões.

— Obrigada, Beth, já estou indo. — Ela sorriu se afastando.

Suspirei.

Tinha me esquisito completamente que a senhora a Araújo vinha hoje.

Bufei.

Odiava não estar preparada.

Fiquei em pé, alisando as dobras da saia lápis, preta para sumir com as rugas, fiz o mesmo na camisa. Foi em vão. Soltei o cabelo, devolvendo o lápis junto com os demais.

Peguei meu bloco de notas e a caneta que minha mãe tinha me dado de presente de formatura, um dos únicos objetos caros que tinha na minha vida. Eu não tinha dinheiro para gastar a rodo como essas mulheres ricas, comprando roupas, sapatos e bolsas de marca, é não era por falta de dinheiro, eu ganhava bem trabalhando como arquiteta na Samapio&Smith, mas tudo o que eu ganhava era inteiramente para o tratamento da minha mãe e pagar as demais despesas. E apesar do meu salário ser quatro dígitos, quase não sobrava nada no final do mês para mim.

Caminhei de cabeça baixa até a sala de reuniões, envergonhada por nem sequer ter me dado ao trabalho de tentar entender o que a senhora queria comigo, eu nunca fui desleixada com meu trabalho, pelo contrário sempre dei o meu melhor, mas nas últimas semanas minha mãe vinha regredido no tratamento, os antibióticos e as sessões de quimioterapia já não faziam mais efeito antes e os médicos acreditam que só uma cirurgia da remoção do tumor poderia dar um pouco mais de tempo para ela viver em paz, para completar a tragédia, o plano de saúde não cobria nem um quarto do dinheiro que precisava.

— Me desculpe pelo atraso, senhora Araújo. — Disse entrando na sala e fechando a porta de vidro. A mulher alta, de cabelos longos e escuros, estava de costas para mim, admirando a vista do lado de fora. A postura ereta e a elegância exalavam por todos seus poros, deixando claro, que ela não, era qualquer pessoa. — Quer um café? Uma água? — Ofereci.

— Uma água. — Respondeu sem olhar para mim.

— Tudo bem. — Murmurei baixinho. Você já atendeu clientes, muito piores Liz! Peguei a bandeja, com os copos e a jarra, caminhei até a mesa em uma linha reta de passos firmes. Servi seu um copo para ela, o oferecendo em seguida. — Aqui senhora, sua água.

Quando ela finalmente virou de frente para mim, tomei um susto, o copo escorregou da minha mão se espatifando no chão em mil pedaços, molhando todo o carpete. Arregalei meus olhos sem acreditar o que estava bem na minha frente.

Eu poderia jurar estar diante do meu reflexo!

Os mesmos olhos, narizes e lábios.

Tudo era igual ou ao menos muito parecido, nossas únicas diferenças eram nossas roupas, a maquiagem em seu rosto e seu cabelo que era um pouco mais curto que o meu. E com certeza nossas contas bancarias também eram

— Olá, queridinha. — Murmurou, sem demonstrar o menor espanto.

Senti minhas pernas vacilarem, o tom de voz mais forte e seguro de si, era totalmente oposto ao meu.

O que estava acontecendo?

Pisquei diversas vezes tentando similar a cada pontinho de interrogação que surgia em minha mente.

Como é possível ela ser idêntica a mim?

OK!

No mundo existia mais de 7 bilhões de pessoas e um estudo dizia que podíamos ter mais 74 mil sósias, mas quais eram as chances de uma delas aparecer bem diante dos meus olhos? É ser tão igual a mim?

O Lar que eu Roubei | ** DEGUSTAÇÃO**Where stories live. Discover now