13 Dark

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Natasha Duskin

Vejo meus pais deitados sobre as macas do IML, suas peles pálidas lembrando as paredes frias do local. Parecem estar dormindo, em um descanso eterno, sem machucados ou cortes visíveis. O laudo aponta traumatismo craniano, parada cardíaca e parada cardio respiratória. Segundo o que o moço explicou para minha irmã, eles não sofreram. É uma informação que deveria me trazer alívio, mas tudo o que sinto é um vazio imenso.

Enquanto estou ali, ouço uma conversa paralela no corredor sobre um jovem assassinado em frente ao hospital, e meu pensamento vai imediatamente para Seife. A lembrança dele, da sua amizade e do que aconteceu, é como um punhal atravessando meu coração.

Sinto-me vazia, como se tudo ao meu redor continuasse acontecendo, mas eu estivesse paralisada no tempo. É como se eu fosse uma página em branco, e o autor não tivesse criatividade suficiente para me dar vida.

Sempre busquei a luz, encontrei refúgio em livros de fantasia onde imaginava ser uma vampira forte ou uma bruxa poderosa, talvez até uma loba, embora achasse a ideia de comer humanos meio sádica. A verdade é que, apesar de buscar a luz, a escuridão sempre me cercou. Nunca consegui ser vibrante como Sara, sensual como a Candice ou carismática como meu falecido amigo Seife.

O que falta em mim? Quão doente eu sou para olhar para meus pais agora e não conseguir derrubar uma única lágrima? Eu chorei até agora, mas aqui, diante de seus corpos, sou fria.

Neste lugar resfriado, que tenta manter os corpos intactos para o reconhecimento, sinto a dor em meu rosto dos socos que levei daquele capanga do Camorra. Meus pulsos doem e minha cabeça parece querer explodir.

Além de tudo o que está errado em mim, sou diabética. Preciso cuidar da insulina para não ficar grogue e debilitada, como ocorreu hoje. Fui tão obcecada em conseguir o dinheiro dos Bratva e me esqueci completamente de minha saúde.

A culpa e o arrependimento me devoram por dentro. Quis ajudar meu amigo, mas acabei colocando todos nós em perigo. E quem pagara o preço mais alto, é Sara.

Olho novamente para os corpos deles, e finalmente uma lágrima escorre pelo meu rosto. É uma mistura de dor, tristeza e autorrepreensão. Eu poderia ter sido melhor, poderia ter sido mais cuidadosa, poderia ter sido uma filha mais presente e responsável.

Enquanto meus olhos permanecem fixos nos corpos dos meus pais, prometo a mim mesma que vou enfrentar a escuridão que me cerca. A partir de agora, serei forte, lutarei por justiça e seguirei em frente, honrando a memória deles e buscando redenção por todos os meus erros. Não importa o quão difícil ou perigoso seja, estou disposta a enfrentar tudo isso para encontrar o caminho da luz e me libertar das sombras que me assombram.

— Vamos. — Sara diz suavemente, colocando a mão em meu ombro com carinho, buscando transmitir seu apoio.

Eu aceno com a cabeça, sentindo o conforto de sua presença, e a sigo. 

O moço ruivo, do lado de fora, abre a porta do carro para nós. Seus olhos se fixam em Sara de uma forma encantada, como se ela fosse uma figura mágica em meio ao caos. Engulo em seco, sentindo pena do rapaz por se deixar envolver por sua beleza em um momento tão inapropriado.

Dentro do carro, Sara coloca a mão sobre a minha, e dá um sorriso leve, como se quisesse me acalmar e me transmitir força.

— Para onde agora, senhorita? — o jovem rapaz pergunta com educação.

— Para a casa funerária. — Sara responde com frieza, mas seus olhos revelam a tristeza que tenta esconder.

— Senhora, está tudo organizado... — percebo que ele hesita um pouco antes de continuar. — O senhor Smirnov incumbiu sua equipe de organizar tudo.

O ASSASSINO DA NAVALHAWhere stories live. Discover now