16 Farewell

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Natacha Duskin

Estou sentada em uma cadeira no banheiro, observando o espelho diante de mim enquanto Sara cuidadosamente penteia meu cabelo. A suave iluminação do ambiente destaca o brilho prateado do espelho.

Engulo em seco, enquanto meu reflexo abatido me encara, como se estivesse testemunhando a batalha interna que enfrento.

— Você tem certeza disso? — A voz de Sara, suave como um sussurro, deixa entrever uma pitada de incerteza.

Inspiro fundo, meus lábios formando um sorriso leve. Assinto com a cabeça de forma afirmativa. No entanto, um sorriso triste se forma em meus lábios, lembrando das palavras do Seife sobre minha inclinação a economizar palavras, e a saudade dele atinge meu coração, fazendo meus olhos se encherem de lágrimas.

Observo o meu cabelo, que permaneceu intocado por quase cinco anos, as pontas revelando de maneira contundente o meu descaso com ele. Mas algo dentro de mim mudou; uma urgência interior clama por uma transformação.

Com confiança, Sara pega a tesoura de prata, suas mãos habilidosas iniciando um processo que vai além de simples cortes. Cada movimento é meticulosamente calculado para evitar qualquer desconforto, seu cuidado evidente em cada toque. A cada corte, uma estranha sensação de libertação parece se desenrolar dentro de mim. 

Lembro-me de como minha irmã costumava cortar seu próprio cabelo; ela havia aprendido essa habilidade em um dos concursos de beleza em que competiu. Ela sempre me ofereceu seus serviços para cuidar do meu cabelo, insistindo nisso, mas este é o primeiro momento em que eu peço por sua ajuda.

Quando Sara finalmente conclui, ela se afasta ligeiramente, permitindo que eu aprecie o resultado. No espelho, nossos olhares se encontram, transmitindo uma compreensão mútua que as palavras mal conseguiriam alcançar.

— Você está linda, meu amor. — As palavras de Sara são como um suave toque na minha pele, complementadas pelo carinho de seus dedos.

Engulo em seco, meu coração batendo um pouco mais rápido enquanto reúno toda a coragem. Encaro o reflexo dos olhos azuis de Sara no espelho, vendo além das palavras não ditas.

— Me desculpe... — Minha voz ecoa no ambiente tranquilo do banheiro, revelando vulnerabilidade e sinceridade.

Sara inclina-se, seus lábios depositando um beijo suave no topo da minha cabeça, um gesto de carinho que ultrapassa qualquer necessidade de explicação. Em seguida, ela se abaixa com uma graça serena para recolher os fios de cabelo cortados, espalhados pelo chão, transmitindo um apoio silencioso que é mais valioso do que palavras.

— Não é sua culpa. — Sua voz é contida, mas penetra o silêncio momentâneo, carregando a verdade. — Alexei tem elaborado este plano há anos, é uma trama que foi tecida muito antes... Sempre foi o plano dele ter controle sobre minha vida.

Um breve sorriso triste curva seus lábios, uma mistura sutil de resignação e cansaço, enquanto ela deixa o banheiro.

Desvio o olhar para os fios de cabelo dispersos pelo chão e, num movimento delicado, deslizo o moletom preto que visto para cima, seguido pelas minhas peças íntimas. Diante do espelho, não posso evitar notar as marcas roxas que pontuam meu corpo. 

Engulo em seco, a lembrança da dor ainda recente se mantendo vívida em minha mente. Com um suspiro cansado, ligo o chuveiro e me deixo envolver pelo calor da água, fechando os olhos enquanto suas gotas relaxantes traçam um caminho pela minha pele. O aroma do xampu de baunilha me envolve, trazendo à tona lembranças de um lugar e tempo mais serenos, como um refúgio fugaz da realidade sombria que estou enfrentando.

O ASSASSINO DA NAVALHAWhere stories live. Discover now