Capítulo 22 - Dois podem jogar esse jogo

116 16 0
                                    

Bella

Não vou mentir.

Vê-la naquele estado me assustou e muito.

Desde que a reencontrei, ela sempre era tão alto astral e descontraída que eu não cogitei a possibilidade dela estar falando a verdade sobre as crises de ansiedade e tudo o mais. Mas agora que eu presenciei um desses episódios, me fez lembrar do dia em que o Miguel me abordou no Roni's e me chamou pra conversar no terraço, durante a semana em que a Lexa foi atrás da ex-mulher, depois do nosso primeiro beijo.

Entrei no bar e logo comecei a procurar a Lexa pelo lugar mas antes que eu tivesse qualquer chance, o Miguel se aproximou de mim, pediu pra conversar comigo e nós seguimos pro terraço.

— Olha, primeiro de tudo eu gostaria de me desculpar com você pela maneira como eu te tratei aquele dia na sua casa — ele falou depois de enfiar as mãos nos bolsos da calça jeans que usava.

Ok...

Por essa eu não esperava, Universo!

— No final do dia você também foi uma vítima de tudo o que aconteceu e eu não tenho porque colocar o seu caráter e motivações em dúvida. — Apesar de tudo o que falava, sua expressão era ilegível. — Mas eu quero te dizer pra tomar cuidado...

— Você tá me ameaçando, Miguel? — eu questionei o interrompendo e ele arregalou os olhos.

Estava muito bom pra ser verdade.

— Não, de maneira alguma, você não me deixou terminar de falar. — Ele ajeitou o cabelo que estava caindo sobre seus olhos. — Eu quero te pedir pra tomar cuidado com o coração da minha irmã.

Oh.

— Olha, eu sei que você tem todo o direito de querer saber toda a história, mas esse assunto desgraçou a nossa família e machucou muito e ainda machuca a minha irmã. Por isso, eu te peço em nome do sentimento que a Lexa está começando a nutrir por você, que você proteja o coração dela e não mencione o que aconteceu. — Seus olhos eram suplicantes. — As consequências de tudo o que aconteceu ainda hoje cobram um preço muito alto dela e ela não precisa reviver aquele inferno. Só pensa nisso, por favor. — falou por fim e me deixou ali sozinha tentando entender o que ele falou.

Eu ainda não sabia o que pensar sobre esse pedido dele, porque antes do último final de semana e antes de eu ver a Lexa naquele estado, eu estava disposta a ignorá-lo com todo o prazer do mundo, mas existia algo no olhar angustiado dela aquela noite que me fazia pensar duas vezes nessa história de vingança. Ela podia inventar uma história para justificar o fato de fingir que não me conhecia, mas nenhum ser humano era capaz de inventar que tinha uma doença mental e provar isso. Eu sabia que ela não estava fingindo, não tinha como alguém fingir com aquele nível de realismo e eu pesquisei o remédio que ela tomou depois, e realmente era um calmante fortíssimo.

No final do dia talvez eu nem precisasse mais me vingar dela, porque se o que aconteceu for algo recorrente em sua vida, como ela afirmou e o irmão dela também me fez acreditar, a vida já estava fazendo ela pagar por tudo que me fez.

A última vez que vi ela foi na segunda-feira depois daquele final de semana cheio de acontecimentos memoráveis, quando eu saí a caminho do meu apartamento, já atrasada pra minha primeira aula na universidade, e ela ainda tava dormindo. Nos dias seguintes, a gente conversou brevemente por mensagem, já que ela estava ocupada com a vida dela e eu com a minha, que inclusive estava acabando com a minha sanidade, literalmente. A minha formatura estava se aproximando e somando isso ao TCC e o resto dos trabalhos pendentes, eu não tive praticamente nenhum tempo livre, mas hoje eu tive que arranjar algum horário pra Lexa, porque eu aparentemente estava "negligenciando ela e nosso breve relacionamento". Por isso, ela ficou de vir me buscar na UNB no final da tarde, e nesse momento eu estava a sua espera, quando senti mãos masculinas taparem meus olhos.

Galáxias AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora