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Capítulo dois

Dois dias atrás...

Xiao Zhan

Meu pai iria voltar do mar e eu queria preparar algo saboroso para que ele pudesse comer naquele dia, então eu saí de casa e fui até um amigo que possuía uma horta e às vezes me dava legumes e verduras.
Como a nossa pequena casa era bem às margens da praia, o solo arenoso não me permitia plantar nada que vingasse, sendo impossível ter algo parecido. Porém, felizmente, morávamos em um lugar onde todos tinham pouco, mas se ajudavam da melhor forma possível. Assim não passávamos fome e tínhamos o mínimo.
Desde a morte da minha mãe, quando eu tinha apenas dez anos, éramos apenas nós dois e fazíamos o possível um pelo outro. Meu pai nunca teve muito para me oferecer, mas dava o seu melhor e me fazia valorizar isso.
Com exceção dos outros moradores da ilha, ninguém se preocupava conosco. Num vilarejo pobre perdido em meio às milhares de ilhas chinesas, era como se nem existíssemos. Assim, eu nem tinha grandes ambições.
Queria poder ajudar o meu pai, que já estava ficando velho e cuidar dele como havia cuidado de mim.
Estava descalço, caminhando pela areia de fim de tarde até chegar a pequena estrada sem asfalto que levava até a casa de Zhuocheng. Havíamos nosconhecido na escola do vilarejo e éramos próximos desde criança.
Os pais dele haviam conseguido uma antena e acesso à internet.
Depois da aula, nos últimos anos, íamos para lá para assistirmos programas ou vasculharmos a vida de famosos. Vendo histórias e descobrindo coisas que nunca faríamos.
Zhuocheng era um alfa que morava com os pais e mais uma irmã ômega e eu ficava observando a vida deles e pensando em como seria se a minha mãe não houvesse morrido.
Por mais que o meu pai tivesse dado o seu melhor por mim, esse era um buraco que ele nunca conseguiria preencher.
Aproximei-me da porta de madeira, velha e consumida pelo tempo e dei algumas batidas, esperando que alguém abrisse.
Cruzei os braços e olhei para o sol se pondo atrás da montanha. Meu pai chegaria logo e eu precisava correr se quisesse ter a comida pronta antes que ele chegasse.

— Zhan! — Zhuo abriu a porta e me encontrou com um enorme sorriso.
— Ei!
— Que bom ver você. Não sabia que viria hoje.
— Meu pai está para chegar e eu queria saber se você pode me dar uma batata e uma cenoura da sua horta. Queria fazer uma sopa.
— Ah, claro! — Deu um passo para trás.
— Entra que eu vou lá buscar.
— Obrigado.
— Seu pai está no mar?
— Sim. — Olhei para a sala. O pequeno sofá, o aparelho de televisão e um rádio.

A família da Zhuocheng também não tinha muito, mas pareciam, assim como eu, levar uma boa vida.
— O meu saiu tem uma semana. Minha mãe está preocupada, mas eu sei que ele vai voltar, ele sempre volta.
— Às vezes foi para mais longe. Eles fazem isso, em busca de peixes melhores.
Meu amigo fez que sim. Eu sabia que ele estava preocupado e muitas vezes compartilhava daquele sentimento. Não conseguia imaginar o que seria de mim se meu pai nunca mais voltasse para casa.

— Vamos até a horta, minha mãe está na cozinha. — Assim que Zhuocheng segurou o meu braço e me puxou com ele, fomos surpreendidos com um estrondo.
Levei um susto e demorei a perceber que alguém tinha entrado na casa.
— Onde está o Ziteng?!
O sujeito era alto, truculento e falava como se estivesse rosnando. A cada passo que ele dava, eu sentia o chão vibrando como se ele fosse derrubar tudo. Para piorar, não estava sozinho, havia mais três homens com ele, tão assustadores quanto.
— Meu pai está no mar — respondeu Zhuocheng, um pouco mais confiante do que eu.
— Mentira! Ele desapareceu com o nosso carregamento.
— Que carregamento? — Meu amigo levantou a sobrancelha, confuso.

— Onde está a droga, garoto? — O primeiro o agarrou pelos ombros e o sacudiu no ar.
— Droga? Que droga?
— Que o seu pai estava transportando para nós.
— Meu pai não mexe com essas coisas não — gaguejou.
— Parece que esse alfa imbecil não sabe de nada. — Riu um que estava junto.
— Eu não quero nem saber. Só preciso do meu produto.
— Devem ter se enganado — arrisquei-me a dizer e me arrependi logo em seguida.
— Se eu fosse você ficava na sua. Lançou-me um olhar ameaçador que fez com que eu recuasse alguns passos, completamente assustado.

—Procurem pela casa — ordenou aos outros que começaram a vasculhar tudo.

— Cuidado! — Zhuocheng gritou quando empurraram a televisão e a jogaram no chão.
Ele começou a chorar alto e acabou levando um tapa no rosto.
— Fica calado, garoto parece um ômega !
— Achamos mais essa. — Os homens voltaram do interior e jogaram a mãe de Zhuocheng no chão, de joelhos.
— E a droga? — O que pareceu ser o líder, insistiu, porém, não conseguiu a resposta que esperava.
— Não achamos.
— Porra, e agora? O que vamos fazer? Quando o chefe chegar vai nos matar.
Parecia que havia alguém acima deles que eu não queria conhecer.
— Vamos levar eles — outro sugeriu ao alternar os olhos entre mim e Zhuocheng.
— Levar? — A mãe de Zhuocheng arregalou os olhos. — Por favor, deixe-os em paz.

— Cala a boca, sua velha! — gritaram com ela.
— Não sei o que o meu marido fez, mas eles são apenas crianças... Parou de falar quando recebeu um tapa no rosto que gelou o meu sangue.
— O que faremos com eles?
— São bonitos, podem servir para acalmar o chefe ou fazer com que o Ziteng apareça com a nossa droga.
Um deles caminhou na minha direção e eu dei dois passos cambaleantes para trás. Fitei os seus olhos e vi a maldade neles. Seja lá o que o pai de Zhuocheng havia feito, ele acabou se envolvendo com pessoas muito ruins.
— Não se encoste em mim. — Empurrei a mão do homem quando ele tentou me tocar.
— Cala a boca, seu putinho! – Agarrou o meu cabelo com tanta força que deixou o meu couro doendo.
Tentei empurrá-lo e fiz toda a força do mundo para me soltar, mas era inútil. O sujeito assustador era muito mais forte do que eu. Ele deveria ter quase uns dois metros de altura e antebraços mais grossos do que as minhas coxas.
— Me solta! — Zhuocheng também se debatia.
— Larga eles! — A mãe tentou se impor, mas confrontou um muro que a empurrou para trás e fez com que caísse sentada no chão.

Em nenhum outro momento da vida, eu estive tanto no lugar errado e na hora errada. O pai do meu amigo se envolveu com homens muito perigosos e acabei sofrendo as consequências disso.
Lutei com todas as minhas forças e tentei não ser arrastado, mas era inútil. Mordi o braço do cara enquanto esperneava e ele me deu um soco, fazendo com que eu ficasse tonto e perdesse os sentidos por alguns instantes.

Ele me pegou e jogou sobre o ombro, levando-me para longe de tudo que eu conhecia e amava.

(....)

Comprado pelo alfaWhere stories live. Discover now