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Capítulo dez

         Wang Yibo

O sol já estava tingindo o horizonte com os seus primeiros raios quando descemos no heliporto particular na minha ilha. A minha mente ainda se enchia com imagens da noite terrível. Só de pensar no que aqueles porcos promoviam ali meu estômago revirava. Negociavam homens e mulheres como se fossem objetos sexuais. Davam preços e aceitavam o lance maior.
Em outras circunstâncias eu não teria pagado um cêntimo para fomentar aquele crime, mas tirar Xiao Zhan em segurança era a minha maior prioridade. Não conseguiria arrancá-lo de lá à força e oferecer dinheiro a quem prezava por isso acima de tudo foi a melhor alternativa.
Depois do que havia acontecido com o pai dele após vir me pedir ajuda, aquele ômega havia se tornado a minha responsabilidade e pagar pela segurança dele era o mínimo que eu poderia fazer.

— Contate a Interpol — falei com o investigador quando descemos do helicóptero.
— Já fiz isso.
Xiao Zhan estava fraco e sonolento e eu precisei apoiá-lo com as mãos para que ele não caísse. Ele necessitava de comida e repouso o mais rápido possível.
— Onde está o meu pai? — Voltou a agarrar a gola da minha camisa e fez com que eu o encarasse. — Quando eu vou vê-lo?

— Sinto muito, ômega. — Não havia forma fácil de dizer aquilo e achei melhor ir direto ao ponto. Ele já havia passado por muita coisa e aquela poderia ser a pior de todas.
— Sente muito pelo quê? — Seus olhos ficaram marejados e nem precisei contar para que começasse a chorar.
— Seu pai está morto.
— Morto? Não! Não pode...
— Infelizmente é a verdade.
— Não! — Ele se derreteu em lágrimas enquanto amassava a minha roupa.
Fiquei calado enquanto ele chorava, soluçava e tremia, tentando absorver mais uma notícia terrível.
— Foi no mar? O barco teve algum acidente? Falei para ele que aquela carcaça velha precisava de manutenção.
— Não foi no barco. Ele tentou encontrar você sozinho.
— Mataram ele?
Apenas balancei a cabeça em afirmativa.

Xiao Zhan deixou as mãos escorregarem da minha camisa e foi descendo para o chão em câmera lenta até que caiu de joelhos. As lágrimas pesaram nos seus olhos e o choro ecoou mesmo em céu aberto.
— Não...
— Vamos entrar. — Tentei tocar no seu ombro, mas ele se esquivou de mim.
— Meu pai... Ele era tudo o que eu tinha. —Bateu com as mãos no chão e tombou a cabeça para frente, fazendo com que seu cabelo tão negro como a noite escorregassem até cobrirem a sua face.
— Eu vou cuidar de você. — Ofereci a mão esperando que ele segurasse.
— Por quê? — Levantou o rosto e o moveu até encontrar os meus olhos.
— Devo isso ao seu pai.

Se eu não houvesse enxotado o velho quando ele veio falar comigo era possível que ele não estivesse morto. Eu me sentia diretamente responsável pelo que tinha acontecido com Xiao Jianmin e o mínimo que poderia fazer era proteger seu filho e dar-lhe conforto.
— Vou ter que ficar aqui? — Olhou de um lado para o outro.
— É a minha casa e vai ser a sua por enquanto.
— Onde eu e meu pai vivíamos...
— Deve estar no mesmo lugar, mas aqui, perto de mim eu posso impedir que o que aconteceu se repita.
Ele engoliu em seco, provavelmente pensou em dizer qualquer outra coisa, mas acabou mudando de ideia e ficou em silêncio.
Movi a mão, balançando diante dos seus olhos e incentivando-a a segurá-la. Xiao Zhan precisou de um pouco mais de tempo para criar coragem até que aceitou a minha ajuda e se levantou, deixando que eu o guiasse para o meu hotel.
Iria esperar que ele se acomodasse e recuperasse um pouco do trauma antes que decidíssemos o que faríamos a seguir.
Uma parte de mim esperava conseguir convencê-lo a fazer faculdade no continente. Poderia mantê-lo em uma residência estudantil ou mesmo em um apartamento particular enquanto estudava e traçava o próprio destino.
Xiao Zhan teria uma grande oportunidade e eu o manteria longe, sem deixar de lidar com a responsabilidade que tinha com ele.

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