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Gabriel

Assim que Lia estacionou o carro na garagem sai entrando em casa.
Subi as escadas e me tranquei no quarto. Senti mais uma vez o ar dos meus pulmões indo embora e a unha perfurando a palma da mão.

Minha respiração já estava mais que acelerada, quase impossível de controlar. Abri alguns botões da camisa na tentativa de respirar melhor o que não adiantou de nada.

Me sentei na cama e fechei os olhos contando de um até dez tentando ficar melhor.

Ouvi a porta sendo aberta mas nem dei importância e continuei de olhos fechados quando senti alguém tocando minhas mãos.

Abri os olhos lentamente e lá estava Lia, de joelhos segurando minhas mãos de um modo gentil.

-Eu só vim saber se... se você ta melhor ou sei la- ela deu de ombros.

Sorri de lado e passei a mão no cabelo.

-Pra falar a verdade não.-Respondi.-Eu nunca gostei de ir em jantares ou coisas do tipo na casa dos meus tios, é sempre como o que quase aconteceu hoje.

Lia se levantou sentando-se ao meu lado, notei que ela tinha tirado os saltos ficando mais confortável sem eles.
Ela franziu o cenho pegando uma gilete que joguei em cima da cama mais cedo, seu olhar saiu de meigo pra sério em segundos.

-É serio isso?- Perguntou ela ainda segurando o objeto.

Não respondi e voltei meu olhar para um ponto fixo do quarto.

-Não é nada legal querer acabar com a dor causando mais dor- praticamente deu um sermão.

Apertei a mão em punho novamente forçando mais ainda, Lia percebeu e deixou de lado o objeto cortante.
Ficou ao meu lado em silêncio olhando para o mesmo lugar que eu estava encarando.

Comecei a balançar a perna involuntariamente sem parar até que ela pôs sua mão ali para acalmar.

-Sabe, quando meus pais se separaram eu tinha dezesseis anos e no começo foi difícil, até que um belo dia eu tive a brilhante ideia de fazer isso-mostrou o punho onde tinha uma cicatriz quase que imperceptível.- Eu não soube como lidar com a dor de ver meus pais se separando depois de anos juntos, fui imatura mas foi o que eu achei que seria legal pra amenizar a dor que sentia.-Finalizou.

Apertei os lábios sentindo a respiração voltar ao normal.

-Minhas crises começaram quando... Quando minha mãe morreu-engoli o nó que se formava em minha garganta-, também não consegui de principio lidar com a falta que ela me fazia, também fiz isso- levantei um pouco a camisa mostrando o corte-de primeiro aliviou mas depois foi tudo piorando.

Pisquei varias vezes afastando as lágrimas.

Lia permaneceu em silêncio ficamos assim por longos minutos. Minutos que pareceram segundos, mas que me fizeram ficar mais calmo acho que nunca falei tão pouca coisa a respeito de mim para alguém.

Retirei o terno jogando na cama, olhei para Lia que agora me olhava também.
Olhei no fundo dos seus olhos observando o brilho deles, coloquei uma mecha de cabelo que estava em seu rosto atrás da orelha, vi ela engolir em seco com meu toque.

Me aproximei o bastante para que nossos rostos ficassem próximos, fechei os olhos aproximando nossas bocas.

Coloquei minha mão em sua cintura a puxando mais para perto intensificando o beijo, Lia em momento algum hesitou, passou a mão em meus cabelos puxando de leve.

Nossas bocas tinham entre si um encaixe tão perfeito o sabor do gloss de uva em seus lábios e o de uísque nos meus deixavam tudo mais perfeito. Coloquei minha outra mão em sua nuca a trazendo mais pra mim, Lia soltou um suspiro entre o beijo o que fez ficar melhor ainda. Por um segundo pensei em afundar minha lingua em sua boca mas hesitei.

Lia nos afastou e sua respiração estava acelarada, ela engoliu em seco e suas pupilas estavam dilatadas.

-Desculpa... É que...-falei vendo a burrada que fiz.

Lia não disse nada, apenas desviou o olhar.

-É... Ta livre amanha?-Fiquei surpreso com sua pergunta.- Depois da faculdade é claro.

-Ta me chamando pra sair?

-Se você não se lembra temos um passeio pendente, porém eu que escolho o que vamos fazer dessa vez.- Declarou.

-Ok então-concordei.

Ela não disse mais nada e saiu.

-Ah e, obrigado.- Disse e ela apenas concordou com a cabeça saindo.

(...)

Dia seguinte, 10:00am

-Me tragam esse trabalho na próxima aula, turma.- Professor finalmente parou de falar nos liberando.

Não tinha mais aulas pro resto do dia, ou seja, vou ficar de bobeira por ai.

Na verdade ia esperar a Lia pra gente ir sabe Deus aonde depois daqui.

E por falar nela, avistei-a saindo do banheiro junto com um amigo que não conheço. Juro que passou tantos pensamentos pela minha mente mas tratei de afasta-los quando ela veio em minha direção.

-Posso perceber que você também não tem mais aula então, vamos- falou e logo me arrastou faculdade afora.

Lia colocou o GPS pra funcionar e eu estava prestes a jogar o celular pela janela de tanto que aquele negócio tava me irritando.
Tempo depois chegamos ao cinema, Lia já tinha comprado as entradas para assistirmos uma comédia romântica dos anos dois mil.

Por Deus, quem assiste uma coisa dessas!?

Pela educação que tenho comprei dois combos de lanche pra gente assistir o filme só que, além de comer o dela Lia comeu o meu também.

Desde a hora que o filme começou eu estava contando carneirinhos pra ver se o tempo passava mais rápido, de cinco em cinco minutos me pegava sorrindo quando olhava pra Lia atenta e reclamando sobre cada acontecimento do filme.

Não posso negar que a escolha foi boa. Mas não sou louco de dizer isso à ela.

Passada as duas horas mais os minutos de musiquinha pós agradecimentos fomos embora.

Agradeci aos céus por aquela tortura ter acabado.

Agora estávamos caminhando pelo shopping.

-Prefiro pular de paraquedas a ter que assistir isso mais uma vez-comentei-, adquiri diabetes-fiz um certo drama.

Lia riu pouco alto e teve que colocar a mão na boca pra abafar o riso.

-Por favor. É só um filme clichê dos anos dois mil. Melhor do que daquela vez que você me levou pra pular de um penhasco-relembrou.

Revirei os olhos.

Entramos em uma sorveteria e fiz os pedidos.

-Aliás, sobre ontem- me ajeitei na cadeira-, você dirige bem até pra uma garotinha- dei de ombros.

Lia abriu a boca e fez a típica cara de deboche dela.

-Garotinha? Eu so tenho vinte anos, ok?!- Levantou o dedo em riste.

Soltei uma risada nasal.

-Ah idosa, quer que eu compre o quê? Materias pra você fazer trico?-Debochei.

Lia se forçou a não revirar os olhos mais foi quase impossível.

-Quantos anos você tem então, senhor adolescente?

Nossos pedidos chegaram e dei logo uma colherada no sorvete antes de responde-la.

-Vinte e cinco.

Ela aderiu uma expressão de surpresa.

-Agora sabemos quem irá começar a fazer trico- sorriu debochando.

XXXXX

Preciso ter aulas com o Gabriel de como não perder as oportunidades.

Quis trazer um pouco de um personagem que sofra de ansiedade, fazer a coisa mais realista.

Último do dia e se preparem pq vem coisa boa nos próximos capítulos😏

O Filho Do Meu PadrastoOnde histórias criam vida. Descubra agora