Capítulo 9

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As ondas estavam começando a ficarem violentas, o barco sacudia devido a agitação das águas. Todos os tripulantes do barco faziam o seu melhor para que nada fosse perdido e nem ninguém ferido. Era comum tempestades noturnas no meio do oceano e os navegantes estavam acostumados, porém, uma tempestade tão violenta assim é de deixar o melhor navegador com medo e perdido.

O oceano não está sob seu poder, por mais que tente controlar o barco, a tempestade mostra quem está com o verdadeiro controle.

As águas invadiam a embarcação, deixando os tripulantes mais agitados e desesperados. Nada parecia amenizar a situação e a noite estava apenas começando. O quanto eles durariam até que fossem a pique?

O Jovem Alef estava sentado na parte debaixo do barco, totalmente encharcado. A violência das ondas deixavam suas marcas, esclarecendo para todos que não durariam muito.
O desespero estava no olhar do viajante, que desejava sair dali com vida. Já não bastava o fato de está preso há cinco dias . Tudo o que ele possuía fora arrancado do jovem, sua mochila e todos os seus míseros pertences já não estava mais sob seu poder. Suas mãos acorrentadas dificultavam sua tentativa de sair daquele ambiente e diminuíam sua chance de sobrevivência.

Para seu maior desespero, a madeira de uma parte do barco que aparentava está fragilizada se rompeu, fazendo com que grandes quantidades de água tomassem a embarcação. Alef gritou por socorro, seus gritos queimavam a garganta e agitação de seu corpo o machucava mais do que o soltava de suas apertadas correntes. Seu desejo por vida e liberdade eram suas únicas aliadas, elas o preenchiam de persistência e coragem para o fazer acreditar que conquistaria seus desejos.

Ouviu-se gritos vindo de fora e mais barulhos de madeiras sendo rachadas, não era dessa forma que o jovem imaginou que morreria, após passar por tamanhas humilhações como um escravo. Está sob o poder de alguém torna qualquer um insignificante, fazendo o perder seus pensamentos e vontades. No entanto, esse não era o caso de Alef. Apesar de preso, seus pensamentos estavam tão próximos da liberdade do que qualquer uma pessoa. Ele nunca imaginou que a liberdade poderia ser tão dolorosa mas ao mesmo tempo tão suave e amigável, ela é fiel a todos que se apegam a ela.

- Salva-me, Iter! Salve-me! Tira-me desta tempestade outra vez! Mostra-me uma saída! - Gritou Alef em plenos pulmões.

Os desejos de quem muito crê são fielmente atendidos quando agradam aquele que ouve. Entretanto, a forma de sua realização é um mistério para todos e costuma acontecer de forma inesperada, totalmente contrária daquilo que imaginamos.

As águas se recuavam para a direita e o barco parecia está sendo erguido. Uma onda gigantesca se formara, engolindo por completo toda a embarcação, levando consigo qualquer sinal de esperança para os tripulantes.

↞↠

Hoje é o dia em que irei seguir o caminho de Iter. Parece surreal o fato de que eu o estou seguindo. No entanto, não tenho nada de útil a fazer, é por isso que eu vou. Esse com certeza é o único motivo.
Após preparar a minha bagagem com as míseras coisas que roubei e conquistei, saí do meu esconderijo em direção ao Norte.

- Devo seguir essa direção?

- Sim.

- Eu vou encontrar o quê no final desse caminho desconhecido?

Não ouvi sua resposta e com isso, não pude deixar de ri. Ele com certeza não é muito de falar, ou apenas estou fazendo as perguntas erradas.
Eu caminhei bastante neste dia ensolarado e bastante quente. Tentei diversas vezes falar com Iter, mas ele respondia somente algumas perguntas, como por exemplo: para qual lado devo ir? Ele me direcionava de forma surpreendente e isso me deixava satisfeito. Quando a noite tomou o céu, eu me sentei perto de uma árvore imensa com longos ramos e folhagens verdejantes, porém a minha temporária cobertura não tinha muita iluminação, a árvore cobria totalmente a visão da lua.
Confesso que não gosto muito de florestas, ainda mais escuras assim, mas essa até que é diferente das outras.

Pequenas luzes começavam a aparecer juntamente com o som noturno da natureza. Eram vagalumes, que traziam consigo uma atmosfera segura e claridade para essa região tão escurecida.

- Não gosta do escuro? Eu também não gosto muito, apesar de viver bastante com ele.

Acho que vagalumes caem muito bem para quem vive no escuro.


↞↠

Quando os meus olhos se abriram, não pude deixar de expulsar a água que engoli. Além disso, percebi que estava vivo e que eu não afundei, havia algo duro abaixo de mim. Era um pedaço de madeira grande, que sustentava o meu corpo enquanto boiava sobre o mar. Ao olhar em volta, não vi mais nenhum destroço do barco e nenhum tripulante a vista.

Apenas eu saí com vida?

No entanto, eu não estava sozinho. Avistei uma espécie de ilha. Bom, ao menos parece uma. De imediato, comecei a remar com minhas mãos acorrentadas, era bem difícil, mas eu fui assim mesmo.

Após algum tempo remando com dificuldades, finalmente cheguei na costa da gigantesca ilha. Eu estava faminto e exausto, completamente sem forças. Meus pés se arrastaram para a areia da praia desejando descansar. Eu só queria comer e dormir por muitos dias até recuperar as forças que perdi. E foi assim que fiz, ao menos um dos meus desejos eu realizei.
Meus olhos mergulharam na imensa escuridão, levando-me a um sono bem profundo.

...

Senti mãos firmes me segurarem e isso fez com que meus olhos se abrissem lentamente.
Ao abrir completamente os olhos, uma rocha estava diante de mim e atrás dela havia um homem com um machado nas mãos acima de sua cabeça, pronto para golpear com força.

Não pude deixar de gritar e me agitar, mas ele foi mais rápido do que eu. As correntes se separaram de minhas mãos, as fazendo cair no chão.

- Acalme-se! Você está livre das correntes agora. - disse um dos homens que me seguravam.

Me afastei deles os observando, tentando adivinhar quem eram. Eles estavam vestindo roupas simples e pareciam mais velhos do que eu. Um deles possuía pequenos fios de cabelos brancos por toda a sua cabelereira negra, enquanto outro tinha uma pele mais escura e outro totalmente careca. Nenhum deles me parecia familiar.


- Quem são vocês e onde estou?

- Você está em Albenylos, uma cidade bem distante de Speculo. Diria até que é uma das mais odiada de todo o reino. Se é um ladrão, aqui não encontrará nada de valor para roubar. Se é um assassino, não sairá daqui com vida, pois há muitos guerreiros aqui. Apesar de tudo isso, somos receptivos com pessoas algemadas.

- Algemadas? Por que?

São criminosos? Algum grupo de mercenários e assassinos? Pois somente indivíduos assim tolerariam pessoas acorrentadas!

- Grande parte de nós conheceram prisões, algemas, correntes, chicotes e guerras. Apesar de está acorrentado, você não parece ser alguém que cometeria algum crime. Não aparenta ter coragem para isso. - disse o homem careca que segurava o machado. Ele era mais alto do que eu e com certeza mais forte.

- Eu tenho coragem sim! Fui um ótimo ladrão.

- Nenhum "ótimo ladrão" admitiria isso.

O homem de pele mais escura ria de meu comentário.

- Antes de espernear, você deseja comer? Parece faminto. Arrumaremos uma cama para você e comida. Vasis irá o levar para que possa trocar suas roupas e depois o levará até a sua refeição. Aliás, eu me chamo Armis e o homem do machado se chama Lupho. Como se chama?

- Alef, eu me chamo Alef.

- Seja bem-vindo, Alef.

Armis e Lupho se retiraram, deixando apenas eu e Vasis.

- Venha comigo, senhor "ótimo ladrão".

Sua risada era escandalosa e irritante. Desejei bate-lo, porém, viver parecia uma opção melhor.
Eu o segui até a floresta a frente e uma pequena cidade apareceu diante de meus olhos. Não parecia haver riquezas e nem pessoas nobres. Aqui parecia ser uma cidade simples e humilde. Havia feiras espalhadas pela cidade e homens afiando suas espadas e machados. Por que havia tantos guerreiros aqui? Eles sofrem invasões sempre?

Crianças brincavam por todos os lados. Parecia que todos se davam bem.

- Arrependam-se de todos os seus maus caminhos! - esbravejou um homem perto de um poço com algumas pessoas sentadas a sua volta.- Todos nós precisamos encontrar a Vida e seguir a verdadeira Verdade. Não há caminho correto se não sairmos dos maus caminhos. Portanto, arrependam-se de segui-los e somente assim, encontrarão o caminho da Verdade. O Caminho o iluminará.

Os meus ouvidos ficaram atentos à voz daquele homem. A palavra "Caminho" sempre chamou a minha atenção.

- Ele é um pregador da Verdade.





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