DESESPERADA

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Lenora

Eu estava quase chegando a fazenda. a imagem de Paola ali no chão tão frágil e machucada me chocou imensamente, não só pela mulher forte que ela era, mas também pela habilidade de montar que ela tinha, ela nunca cairia do cavalo, era uma ótima amazona.
Passei pelos portais da fazenda e vi o capataz pegando um carro pra cidade com as malas, ao olhar seu rosto estalou uma chave na minha memória e lembrei que tinha visto Paola sair com ele a cavalo, apenas ignorei. se ele tem alguma coisa a ver vamos investigar, mas somente depois de socorrer Paola.

___ Adélia! Atílio? Pelo amor de Deus alguém me ajuda!
Eles entram correndo na sala.

__ meu deus ! Por que esse desespero o que houve ?
Adélia perguntou preocupada, o vinco entre as sobrancelhas se destacando.

___ foi alguma coisa com a Consuelo ?pergunta Atílio mais preocupado ainda.

___ o que ? Não ! Consuelo está bem, é a Paola, está inconsciente e muito machucada, acho que alguém a machucou! Vamos ! Peguem o carro e vamos socorre-la

Não me lembraria do trajeto que fizemos se não fosse por Atílio e Adélia perguntando a cada minuto o que aconteceu, eu estava abalada demais pra responder a qualquer pergunta, tentando encaixar peças, saber se poderia fazer uma acusação daquele tamanho a Ernesto, mas a cada linha que eu traçava, mais eu tinha certeza que ele tinha feito aquilo, quase como um sexto sentido.
Quando chegamos eu pude ouvir o silêncio do choque no rosto de Adélia e Atílio, seguido pelo soluço das meninas, clara estava com a cabeça de Paola no colo, Emílio com a blusa rasgada tentando limpar os ferimentos e Consuelo com a cabeça entre os joelhos pra não ver a cena. Alice e Aurora estavam tentando explicar como a encontraram mas os soluços não deixaram então eu assumi a deixa.

___ gente por favor, não e hora de procurar culpados nem de entender o que houve, vamos colocar ela no carro e seguir para o hospital, ela tá muito machucada, não sabemos a gravidade dos ferimentos, nem quanta água ela aspirou!

___ Lenora tem razão gente, papai, o senhor consegue dirigir ? Vou inclinar o banco da frente e colocar ela, as gêmeas podem ir atrás.

O lapso de tempo foi incisivo enquanto o senhor Atílio e as gêmeas levaram Paola ao hospital, nós fomos pra fazenda deixar os cavalos e as instruções para os empregados da fazenda, clara disse que iria ficar, eu também estava muito cansada mas precisava falar o que estava me incomodando com Atílio, então fomos imediatamente para o hospital juntos, emiliano e eu, o momento de tensão o deixou muito sério, a expressão dele era de pura preocupação.

___ Emílio , há uma coisa que preciso contar para o seu pai.

Ele me olhou e nos olhos dele eu vi que ele também sabia o que era.

___ foi Ernesto não é? Nós vimos eles saindo juntos, sabíamos que ele estava interessado nela, e ela o demitiu.
___ sim, eu o vi saindo da fazenda com as malas, eu não suspeitei dele até até olhei no rosto dele, sabe, era como se ele tivesse realizado seu maior sonho, estava atento, mas ao mesmo tempo relaxado, eu não sei explicar.

___ eu entendi o que quis dizer minha flor, mas precisamos saber se ela está ao menos estavel, para que possamos preocupar ainda mais o meu pai e as gêmeas.

O resto do caminho foi silencioso, até chegarmos no hospital e ver quatro rostos desolados.

___ papai como ela está ?
___ os médicos ainda não vieram falar com a gente estamos sem saber de nada desde que chegamos.

      Nesse momento um médico baixinho e senil veio com outros dois médicos o seguindo.
___ boa noite, são os familiares de Paola Montenegro?
___ sim somos nós, como está a minha esposa ?
___ bem senhor sou o doutor Abelardo, sua esposa apesar de ter passado um trauma muito grande está estável , o pior já passou e ela está inconsciente pelos analgésicos. Meus colegas querem conversar com você, eles tem perguntas a fazer.
___ pode nos acompanhar senhor Montenegro?

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ATÍLIO
O doutor Abelardo me conduziu por um corredor até uma sala privada, eu estava desnorteado, sem ver minha esposa, era completamente absurdo que aquela mulher impetuosa e durona estivesse em um hospital ferida, não era natural, simplesmente incabível.
__ sente se senhor Montenegro.

Me sentei diante de três médicos com uma angústia crescente.

__ senhor Montenegro, sou o doutor Contreras sou o ginecologista e obstetra deste hospital, e devido os ferimentos de sua esposa o doutor Abelardo me chamou para examina-la junto a outros especialistas e um médico legista.
__ bem creio que esse não é um momento para formalidades, minha esposa está ferida, não está grávida, quero vê-la.

     Falo sem paciência, não entendia por que antes de ver Paola, teria que passar por um interrogatório.

__ sim senhor, compreendo sua angústia em vê-la, mas antes de qualquer coisa tenho que pôr o senhor ciente de toda a situação, sua esposa aparentava ter sido cruelmente espancada, e a julgar pelos ferimentos o doutor Abelardo suspeitou de que se tratava de um caso de estupro, sendo assim, me chamou pra examina-la o que confirmaram suas suspeitas.

     Meu mundo caiu por terra, Paola, minha esposa, estuprada... senti um vazio tão imenso, dentro do meu peito parecia que eu iria congelar em vida.

__ não é possível doutor, eu não sei o que dizer, estou em choque... posso vê-la? por favor preciso vê-la!!
__ eu irei levá-lo até ela mas preciso que alguém registre a denúncia, informei aos policiais que ficam de plantão na recepção e o delegado está vindo para coletar informações e suspeitos!
__ por favor, procure uma moça chamada lenora, está na recepção junto de meus filhos, ela dará todas as informações desejadas mas eu preciso vê-la nesse instante! Preciso ver minha mulher!
__ me acompanhe por favor, e senhor Montenegro, não sabemos se ela se lembrará do ocorrido, mas se não lembrar, terei que dar a notícia mesmo assim...
__ deixe que eu darei, se ela não se lembrar eu mesmo direi a ela!

     Mais corredores, minha visão estava turva, a cabeça a mil, pensando no quanto eu fui negligente deixando-a sair sozinha pelos pastos, sem proteção, sem companhia... meu Deus me perdoe...
Ao adentrar o quarto onde ela estava, não pude acreditar na imagem que vi, minha mulher, a mulher mais linda e forte que já vi, sedada, com o rosto inchado e cheia de curativos, lábios rachados e pálida como algodão, parecia morta a não ser pelos fracos movimentos do seu peito, que respirava com dificuldade.

__ meu amor, meu amor me perdoe...

   Nesse momento ela se remexeu, suspirou e abriu os olhos, vidrados, como se saísse de um pesadelo.
__ Atíli... alguém me ajuda... por favor!
__ Paola, amor, você está bem, está a salvo, ninguém mais vai te fazer mal, eu estou aqui!
__ Atílio... Ernesto... ele... ele...ah...

Ela nem sequer conseguiu concluir a frase pra eu supor que ela se lembrava exatamente de tudo que aconteceu. os soluços que ela dava e as lágrimas torrenciais me confirmavam que ela não só lembrava, como ainda se sentia em perigo e ainda mais traumatizada.

__ shiiu, não precisa me dizer nada, eu estou aqui, pode não servir pra curar a sua dor nesse momento meu amor, mas não deixarei você, estarei contigo e farei esse desgraçado pagar pelo que fez, eu prometo!
__ eu achei que fosse morrer, pedi a Deus por isso, eu não sei se consigo superar essa dor de novo Atílio, não sei...
__ irei te ajudar, prometo sanar cada uma de suas dores, dedicarei minha vida a fazê-la feliz, não abrirei espaço para que vc se lembre desse dia amor, por favor, confie em mim! Vamos superar isso, você e eu juntos...

Prometi a ela, talvez o meu amor não fosse o suficiente, mas eu pagaria pra ver, faria o possível e o impossível pra curá-la, conquista-la e fazê-la se sentir uma mulher de novo...
E pobre de Ernesto quando eu por as minhas mãos nele, farei ele pagar com sangue o que fez a Paola, que Deus tenha misericórdia da sua alma e permita que a polícia o encontre antes de mim!

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⏰ Last updated: Sep 20, 2023 ⏰

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No Coração Da feraWhere stories live. Discover now