Heart Over Mind | Sevmione

17. É apenas algo que preciso fazer

Severus Snape pensara - ou melhor, esperara - que, uma vez que Hermione tivesse se afastado de Hogwarts e deixado de ser uma fonte constante de agitação, seu notório equilíbrio imperturbável e sua dedicação obstinada ao trabalho voltariam rapidamente e ele poderia se considerar livre de uma distração tão tola. E, embora ele estivesse menos tenso na ausência dela do que nos últimos dias em que passou evitando-a, Snape ficou desconcertado com o fato de ter permanecido distraído por vários dias após a partida dela, constantemente com a sensação de que algo brilhante e vital estava faltando a cada momento do dia.

Era desanimador, para dizer o mínimo. Preocupava-o o fato de que o pensamento nela ou o conhecimento de sua ausência de sua vizinhança física pudesse lhe causar tais mudanças de emoção e concentração quando ele havia passado a maior parte de duas décadas tentando dominar tais impulsos.

Snape tentou ignorar o fato, mas algumas coisas estavam além de sua capacidade de negar.

Determinado a se corrigir diante de falhas pessoais tão graves, Snape se dedicou intensamente ao seu trabalho com poções, dedicando-se ao corpo, se não à mente e ao espírito. Mas Snape não era nada se não teimoso e sua devoção falsamente motivada à pesquisa o mantinha obliquamente enterrado em seus aposentos subterrâneos, sem nada como companhia, exceto as lembranças enlouquecedoras de Hermione e seus próprios pensamentos traidores.

Apesar de sua infelicidade com os companheiros fantasmagóricos que o assombravam, Snape ficava ainda menos empolgado quando irritações de carne e osso decidiam invadir sua solidão na forma sorridente e cantarolante de Albus Dumbledore.

"Ah, aí está você, Severus", comentou o diretor idoso com uma leve surpresa, como se tivesse realmente experimentado a emoção quando encontrou Snape com a cabeça inclinada sobre uma pilha de livros com cheiro de fumaça sobre técnicas medievais de sublimação mercurial, como se tivesse ficado em dúvida sobre a localização do professor. "Vejo que foi aqui que você escolheu se enterrar."

"Não há necessidade de melodrama, Albus", respondeu Snape com firmeza, não poupando o diretor de outro olhar enquanto permanecia concentrado no texto em latim desbotado. "Não acho que 'enterrar' seja uma descrição apropriada."

"Se você chegasse à superfície, talvez minhas tendências melodramáticas não fossem desperdiçadas com você e com o ambiente que o cerca", respondeu Dumbledore, com um tom enganosamente suave e gentil.

Snape fechou o livro. "Há algo de que você precisa, Albus, ou está aqui simplesmente para me distrair do meu trabalho?"

Dumbledore olhou para ele por cima da borda de seus óculos de meia-lua, com um olhar azul cortante. "Vim apenas para ver se você está trabalhando demais, como sempre. Desde que a Srta. Granger foi embora, acho que você quase não saiu deste escritório ou do laboratório."

Por mais que tentasse lutar contra esse impulso ridículo, Snape estremeceu levemente ao ouvir o nome de Hermione, pois as palavras ditas em voz alta o lembraram do conflito interno que ele estava tentando dissipar. Dumbledore, mais perspicaz do que sua idade, percebeu a reação.

"Talvez seja porque finalmente estou tendo o espaço e o tempo adequados para trabalhar em projetos há muito negligenciados devido à presença intrometida da Srta. Granger", ofereceu Snape com frieza, pegando outro livro da pilha à sua direita. "Não era muito propício ter a garota entrando e saindo do meu laboratório."

"Eu entendo, é claro, Severus", concordou Dumbledore, sorrindo. "A Srta. Granger pode ser muito distraída, pelo menos foi o que me disseram."

"De fato."

Dumbledore se sentou na única cadeira disponível e se recostou contra a madeira antiga e rangente, como se estivesse se preparando para permanecer ali por um bom e longo tempo. Interiormente, Snape gemeu, mas, aparentemente, permaneceu concentrado em seu trabalho. "Devo admitir que tenho um motivo oculto para esta visita", admitiu o velho diretor, com os olhos brilhando.