TRINTA E TRÊS

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Valentim

Minha irmã só pode tá me torturando, as vezes eu acho que a Camila tem um problema de senso.

Ela me pediu para levar a Carmem na casa do Rojas e que merda do caralho, tem anos que eu não piso naquele lugar.

- Tío, llévame. Quiero ver al abuelo y a Jones- a vozinha dela tem um certo poder sobre mim, mas mesmo assim eu não posso ceder é uma tortura.

- Es sólo un pequeño Valentim, Carmen te echa mucho de menos- a Cami tem razão, eu venho muito pouco a Colômbia.

- Tío, te vas hoy y no sé cuándo volveré a verte. Llévame un rato, te prometo que no haré un desastre- isso é um abuso psicológico, não posso deixar de aceitar.

- Está bien. Iremos un rato, el tío no puede tardar mucho.

A Carmem me pede coisas difíceis. Quando chegou no cabelo a Camila teve de dar mamar para o Mariano e a tarefa ficou pra mim.

- Que coisa difícil- eu resmungo e ela ri.

- Hablas raro, tío- ela é uma criança muito esperta.

- ¿Te gusta?- o cabelo dela está amarrado em um rabo de cavalo horrível, mas é o máximo que consigo fazer.

- No, está torcido- mas é reclamona.

- Ayúdame, no sé cómo hacer esto. Mira- eu aponto para meu cabelo- Es corto.

Depois de muito tempo e insistência eu consegui fazer uma trança muito feia, e agradeço mentalmente a Martina por ter me ensinado na escola, mas depois que coloquei um laço melhorou. Deus, por favor não me dê filha, eu não sei pentear cabelo e com certeza vou surtar só dela falar algo de algum menino.

Descobri que o Rojas tem algo importante para me entregar, segundo ele é uma memória da minha mãe e eu nunca vou negar nada que seja dela

 - Tío, ¿por qué le hablas raro a la tía Jimena? No entiendo nada- a Carmem é muito esperta para idade dela, a garota tem quatro anos e fala perfeitamente, creio que esta no sangue, porque o idiota do pai dela é um gênio. 

- Eres un cotilla, ¿no? Escuchando la conversación de su tío.

- Tú eres el que habla a mi alrededor y no es cotilleo si no entiendo lo que es- como que pode uma criança perceber isso? Minha irmã tá ferrada com essa menina.

- Qué gracioso. El tío habla español, portugués, inglés y un poco de latín. Pero lo que está oyendo es portugués y suena mucho a español y latín- eu fui obrigado a aprender inglês, passamos boa parte da infância entre aqui e o país do Tio Sam- - ¿Quieres aprender?- ela acena que sim e eu tento ensina- lá, mas só o básico porque gramática é um saco, ainda mais no português.

- Fala assim: eu amo o tio Valentim

- Amo... tio Valentim- sai um pouco engraçado

- Eu gosto de melancia

- Eu... no guesto de meçanlia- eu caio na risada. Meçanlia? meu Deus- No te rías, tío- tadinha, é impossível não ri, ela falou tão fofinho.

- Lo siento, ¿vale? El tío no se reirá más de ti- ela faz um bico enorme, típico das mulheres. 

Chegamos em frente a casa e meu coração começa a acelerar. 18 anos sem passar perto desse lugar, quem dirá entrar. O portão se abre e pra minha surpresa a casa continua a mesma, mesma cor, mesmo piso, mesmo jardim, tudo do mesmo jeito que estava.

- Buenos días- um homem cumprimenta. 

-  Valentine, ha pasado mucho tiempo-  a Celeste surge do nada e me abraça- Qué hermoso y fuerte te ves- ela quem cuidou de mim e da Cami quando éramos crianças e também cuidou do Rojas, não sei porque ela ainda vive aqui, já passa dos 70 anos.

A PROTEGIDA- UMA HISTÓRIA DE CARTEL (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now