🧕Capítulo 1🧕

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Lorena Aubinet
Annecy - Alpes Franceses
26 anos depois

Lorena AubinetAnnecy - Alpes Franceses26 anos depois

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Respiro fundo e saio do carro. Olho para os dois lados e atravesso a rua indo em direção à clínica. Passo pelas portas de vidro e ando calmamente até a recepção. Preciso me despedir dela, minha tia está me ajudando com seus cuidados e visitas. Nossa família sempre foi muito unida e há alguns anos, quando a caçula foi abandonada grávida, meus avós e tios se uniram e nunca lhe deixaram faltar apoio e carinho, fui criada com muito amor. Me identifico na recepção e colo a etiqueta de autorização de entrada com meu nome no blazer.

Ando pelo corredor e fico pensativa, preciso conversar com minha mãe, tenho que viajar à serviço. Devo ficar pelo menos três semanas no oriente médio. Nunca imaginei que um dia visitaria um desses países por causa do meu pai. Apesar de o conhecer somente pela foto que minha mãe guarda, sei seu primeiro nome e tive que aprender sua língua natal e cultura. Quando menina era encantada por ele, minha mãe contava histórias e a cada festa ficava ansiosa esperando pelo seu retorno, mas a inocência de criança com o tempo acabou e minha esperança virou um sentimento de dor pelo abandono. Minha mãe sempre teve esperanças do seu retorno, a minha espera virou decepção, pois ao crescer entendi que sou a filha que ele nunca desejou. Não preciso de seu dinheiro para nada, sou uma mulher independente e realizada profissionalmente.

A empresa de buffer na qual tenho sociedade há cinco anos está com um contrato muito vantajoso para o casamento da filha do Sheik mais famoso do oriente médio e sua esposa solicitou a presença de um representante que falasse sua língua e conhecesse seus costumes para fazer a inspeção de todos os detalhes.

Atendendo à seu pedido, vou tratar de todos os preparativos pessoalmente. Hoje agradeço minha mãe em insistir que eu aprendesse a língua do meu pai, o homem que nunca conheci, além da foto. Minha mãe ainda tem esperanças de que um dia ele possa voltar e atualmente com o quadro avançado de Alzheimer ela sempre fala sobre seu retorno em suas confusões metais.

- Bom dia! - Cumprimento e a enfermeira sorri.

- Bom dia, senhorita Lorena. Sua mãe está no jardim. Hoje ela está muito animada. - Agradeço.

Ando pelos corredores que conheço há quase cinco anos. A internamos quando ela saiu de casa sem rumo, tentando voltar para um trabalho que ela não fazia há mais de vinte anos. Para nossa sorte os vizinhos a viram sair e quando a encontrei ela repetia que tinha um encontro com meu pai que ele a esperava em seu quarto no hotel. Os sintomas da doença apareceram algumas semanas após a uma crise nervosa. Seus gritos e choros sem sentido nos deixaram desesperados, tivemos que chamar a emergência e eles a doparam, quando o efeito da medicação passou, ela ficou quieta e chorando pelos cantos. Fiquei ao seu lado, e em uma noite ela pediu para que eu guardasse meu velho urso de brinquedo, ele sempre foi meu preferido e ela o guardou com muito carinho.

Chego no belo jardim, ando pelo caminho cercado de flores e escuto sua voz.

- Logo meu namorado vai chegar e não posso estar desarrumada.

Karim - Degustação Where stories live. Discover now