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Não importa quantos anos se passem, a única certeza que eu definitivamente sempre terei na minha vida é que esta cidade de merda nunca vai mudar. As mesmas pessoas de dez ou quinze anos atrás continuam, com suas vidas fúnebres, nas mesmas casas, que permaneceram inalteradas. Todos se vestem igual, usam os mesmos sorrisos falsos e falam as mesmas porcarias. Acho que, de alguma forma, eu me conformei com isso. Uma cidade idiota, cheia de crenças idiotas.
Enfim, bem-vindos à Salem - a fantástica, fantasiosa e misteriosa Cidade Das Bruxas -, onde todos são igualmente tolos e insuportáveis.
Toda essa perfeição de fachada é o que eu mais odeio aqui. Todas as coisas em seus respectivos lugares, como um palco de marionetes. Salem é, sempre foi e sempre será, a mesma cidade pacata e sem graça, onde nada acontece de imprevisto. Nas ruas que nunca foram asfaltadas, as poucas pessoas que passam não se importam com nada. A igreja central sempre ensaiando o mesmo cântico irritante que, embora bem elaborado, é entoado por vozes desafinadas.
Mas eu não posso me excluir disso, já que também não fujo de uma rotina monótona de ações: acordar, escovar os dentes, tomar banho, pentear o cabelo, pegar uma roupa qualquer, me vestir e sair de casa.
Peguei uma roupa no armário de forma aleatória: era um vestido vermelho e justo que ia até o meio das minhas coxas. Calcei um par de saltos da mesma cor do vestido. Saí de casa, deixando os lençóis da minha cama desordenados.
Fui até a lanchonete Clark's, onde o proprietário, Fernando, me comprimenta me pergunta meu pedido. Sempre peço a mesma coisa: um café preto, sem açúcar. Ele tenta puxar assunto comigo, mas nenhuma palavra sai de sua boca. Nada acontece de diferente, nunca. Ele me pergunta como vai o trabalho na Jackson's Legace e eu digo que está tudo tranquilo. Eu pergunto sobre o movimento da lanchonete, ele diz que está tudo tranquilo também.
Do Clark's, sigo para o prédio Jackson's Legace. Afinal, é lá onde eu, infelizmente, trabalho como secretária. Um lugar onde todos que chegam tem a liberdade para me encarar e comentar entre si em relação ao meu corpo, enquanto eu ando até meu escritório que, como previsto, está sempre revirado.
Reviro os olhos, sem me surpreender. Afinal, é aqui onde o nosso queridíssimo Bernard Jackson, um advogado tão influente e tão aclamado pela cidade trai sua mulher com qualquer puta que lhe aparecer. Bernard Jackson é um dos maiores advogados da região e, para minha infelicidade, meu chefe. Embora eu o veja como um velho maníaco e pervertido, que fode com qualquer mulher, mesmo que ela não queira.
- Olá, Manson. - diz uma mulher de voz anasalada, que prendia seus cabelos descoloridos enquanto esperava o café da cafeteira ficar pronto. Ela é alta, tem o corpo curvilíneo e um par de olhos azul-esverdeado que me encara de canto, com desprezo. Ela põe um filete de seu cabelo para trás da orelha, exibindo a aliança dourada em sua mão esquerda, que provavelmente vale mais do que todos os meus órgãos internos juntos. Aquela é Amber K. Jackson, esposa de Bernard.
