Jurei a mim mesmo que, se deixasse Hawkins para voltar à Salem, teria a paz em que lá nunca encontraria no trabalho. Uma doce e idiota ilusão, reparei, ao receber a ligação de algum policial do departamento:
— Alô? Delegado? Encontramos um corpo. Encontre-me em frente à Jackson's Legacy. — desligou.
Suspirei fundo, pegando as chaves da viatura do suporte. Segui com o veículo pelas ruas nas quais eu nunca mais havia passado. Passaram-se dez anos desde a última vez que estive aqui. Dez anos, e nada parecia diferente.
Estacionei a viatura algumas ruas antes do prédio de dois andares. Militares envolviam o prédio com faixa de perímetro de precaução, que embaçaram minha visão ao receber a iluminação dos faróis de uma segunda viatura. A mulher que dirigia o veículo estacionou, saindo e guardando as chaves no bolso. Ela saiu, colocando para frente dos ombros o par de longas tranças louras. Ela sorriu, cumprimentando uma mulher de óculos, perguntando-lhe algo, inaudível para mim, por causa da distância. A mulher de cabelos escuros apontou em direção a minha figura encostada contra o capô da viatura, ainda morno. A loira agradeceu, vindo até mim.
— Bem-vindo de volta. — ela sorriu, exibindo os dentes de formato arredondado, estendendo a mão direita para que eu a cumprimentasse. — Eu planejava algo melhor, uma festa de boas-vindas, ou sei lá. Se lembra de mim, certo?
Seus olhos eram verdes como duas esmeraldas iluminadas pela luz da lua, trazendo neles o brilho que refletia sua esperança de que eu a trouxesse um "sim" como resposta. Nada me vinha à mente, mas eu sabia que já vira aqueles mesmos olhos verdes antes.
Reparando minha confusão, persistiu:
— Meu nome é Holly. Holly Carver. Você morava em frente a minha casa... Você me chamava de Holly Bear, lembra? Nos conhecemos no casamento do meu irmão, Marcus.E então, me viera um choque de memórias daquele dia. Era um domingo; August Carver era ex-militar e um grande amigo meu que estava casando seu segundo filho. Eu era um dos padrinhos, junto com uma mulher de cabelos negros, da qual sequer me recordo o nome.
Da porta da igreja, eu a observava.
Holly estava do outro lado da ponte, acompanhada de algumas amigas do colégio de freiras. Conversava empolgada com as duas outras garotas, que pareciam ter a mesma idade.Um homem estranho se aproximou, pegou a bolsa dela e saiu correndo. Holly não pensou duas vezes e saiu em disparada atrás dele, segurando algo que retirou do cinto que segurava sua saia.
Eu reconheci o objeto; o reconheceria a qualquer distância: uma arma.
O que ela fazia com uma arma? Uma garota com uma arma escondida por baixo do cinto, na saída do colégio!
O bandido entrou no carro de um comparsa, que o esperava na esquina.
Eu ainda era apenas um aspirante a policial, mas mesmo assim, não podia deixar que algo ruim acontecesse com a garota.