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O meu corpo não soube retomar os movimentos

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O meu corpo não soube retomar os movimentos. Tudo o que eu sentia era a voz daquele homem ricochetear na minha cabeça como um eco sem fim. O escuro me impedia de ver seu rosto com lucidez, o que o fazia parecer apenas um borrão. Um arrepio percorreu por toda espinha quando vi o rosto de Bernard.

- Vamos embora... - a voz que antes parecia suave e acolhedora tornara-se desagradável, como se uma agulha arranhasse com força linhas tortas em meus tímpanos. Seus olhos tinham cor de sangue e seus dentes estavam manchados da mesma de um líquido da mesma cor. O céu, antes azul escuro inundado de estrelas, também se tornara um tempestuoso vermelho.

- Por favor... Por favor, não se aproxime de mim... - foi tudo o que eu consegui dizer, que soou mais como um murmúrio. Ele tornou a se aproximar, vindo com suas mãos em meus ombros. - Não! - gritei, arrancando de meus pulmões o ar que já me faltava. Senti o gosto salgado das minhas próprias lágrimas tornar-se amargo como vinho seco. Tentei golpeá-lo nos ombros ou braços para que se afastasse, mas nada parecia funcionar, já que os ataques não o atingiam.

Sentindo minhas últimas forças irem embora, vi tudo sucumbir à escuridão ao meu redor; a última coisa que eu senti antes de desmaiar foi o impacto do meu corpo contra a estrada asfaltada.

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Foi o som leve e aconchegante do sino-dos-ventos que me fez acordar. Abri os olhos, tentando reconhecer onde estava: era uma sala inundada pela luz dourada do sol que vinha do lado de fora atravessava sem dificuldades as cortinas bege, que dançavam conforme o vento tedioso as levava. O rack onde estava a TV de tubo era cor de marfim, cheio de revistas enfileiradas e porta-retratos. O tornozelo que eu havia torcido agora estava enfaixado e já não doía tanto. Ouvi um ronco leve, então olhei e, bem a minha frente, vi um homem que estava sentado numa poltrona, com seus braços e pernas cruzados. As olheiras evidentes abaixo de seus olhos indicaram a noite mal dormida. Sua cabeça pendia-se para o lado, me fazendo pensar que ele caíra no sono contra sua própria vontade. É uma cena um pouco engraçada de se ver.

Ele levantou a cabeça tão rápido que parecia ter levado um susto. Fitei-o, vendo que ele não tinha nenhuma semelhança com rosto que vi ontem à noite. Sua pele morena, um pouco bronzeada, e sua barba era bem feita e nenhum fio era visível sobre sua pele. Seus olhos cor de avelã eram estreitos e quase desapareciam quando ele abaixava as sobrancelhas pesadas. Seus lábios eram finos e avermelhados. Seus cabelos encaracolados que tinham o tom de castanho claro estavam desalinhados. A luz dourada da manhã o fazia parecer um protagonista de alguma pintura renascentista.

- Oh, vejo que você acordou. - sua voz era tranquila e seu olhar tinha uma doçura inexplicável - Bom, sou Tanner Summers. Eu te ajudei ontem na estrada e, como você desmaiou, eu te trouxe até a minha casa, já que era mais próxima e também porque não sabia onde você morava. Peço perdão se te assustei. - foi o suficiente para que me fizesse pensar que ele fala bastante. Não considero isso ruim, de modo algum. Foi a primeira vez há tempos em que alguém fala comigo como se eu fosse... Normal, talvez.

O T H Ξ Я S I D ΞWhere stories live. Discover now