Tudo pode piorar.

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MARÇO DE 1994

A televisão passava um programa qualquer, Mad podendo ouvi-la da fria varanda. A primavera se aproximava abrandando todo o clima congelante, no entanto, resquícios ainda estavam ali presentes. Bufou entediada, desejando mais que nunca um cigarro, porém, contentando-se com os chocolates que ganhou de Samantha e a caneca de chá fumegante contrastando da paisagem. Faziam quase três semanas que chegara em Salem, onde foi recebida de braços abertos. Não é preciso dizer que acabou abrindo o berreiro e sem muita delonga, contando sobre a gravidez. Deixou detalhes importantes de lado, somente explanando o fim do relacionamento com Cobain e a inocência dele sobre sua condição. Não recebeu questionamentos e pelo jeito, não os teria. Entendiam que ela sabia de sua vida e como guia-la. Encarou a rua vazia, ponderando sobre o que fazer a seguir. Dave ligaria mais tarde, resumindo o que acontecia na viagem. A cada dia o coração apertava mais, Kurt lhe vindo a mente frequentemente. Pensou ser saudade, a falta que ele lhe fazia, contudo, algo mais habitava aquilo. Era como um pressentimento, uma preocupação que elevava-se num novo patamar.

  - Mad! – Ouviu Gabriella gritar. – Mad, vem aqui! Rápido! – Ela continuou, o tom com uma urgência alarmante. Não demorou nada e a mais velha surgia pelo hall, preocupada. – Olhe. – Apontou o aparelho televisivo. – O Kurt. Aconteceu algo com ele.

  - O que... – A guitarrista iria indagar, porém, a repórter começara a falar, tomando sua atenção.

  - Interrompemos nossa programação para noticiar o ocorrido com Kurt Cobain. O músico, líder da banda Nirvana, sofreu uma overdose acidental e fora encaminhado para o hospital mais próximo. Pelo que conta nossas fontes, o rockstar teve os primeiros atendimentos ainda no quarto de hotel, fator predominante na estabilização do quadro. Courtney Love, ex mulher do cantor e que estava presente no momento, também ajudou a socorrê-lo, sendo quem chamou a emergência. Ainda é desconhecida a condição de Cobain, até que saia os primeiros boletins médicos. A única certeza, que não corre risco de morte... Voltaremos a qualquer momento com mais informações. – A mulher terminou, um vídeo da ambulância chegando ao complexo hospitalar e Love mostrando o dedo do meio para os paparazzi, enquanto seguia a maca com um Kurt inerte, rodando e atingindo os espectadores de formas distintas.

  - Preciso sentar. – Foi tudo o que a ruiva conseguiu expressar. Deu alguns passos para atrás, quase caindo. Respirou fundo uma e outra vez, a visão escurecendo depressa.

  - Meu Deus, Mad! – Gabi gritou, assustada. Segurou a irmã, a conduzindo até o sofá e forçando a deitar. Era óbvio que a outra estava quase desmaiando. – Mãe! A Mad tá passando mal! – Chamou pela progenitora, receosa em demasia.

  - O que houve?! – Viviane apareceu no instante seguinte, os olhos arregalados. Passou o foco de Gabriella para Madison, que jazia estirada no estofado, os olhos fechados e a face pálida.

  - O Kurt está internado. Teve uma overdose. – A jovem explicou, sabendo que era necessário. – A Mad deve ter ficado abalada com a notícia.

  - Filha... – A matrona chamou, parando ao lado da ruiva e lhe acariciando os cabelos. – Gabi, pegue um pouco de sal e um copo com água, por favor. – Pediu, vendo a garota sumir apressada para a cozinha.

  - Eu tô bem, a pressão que baixou. – Mad explicou, mesmo não sendo preciso. – Muitas emoções, não é mesmo? – Riu fraco, buscando a mão da mais velha. – Preciso falar com Dave. Pode ligar pra ele, por favor? O telefone do hotel está na minha agenda. – Tentou soar neutra, escondendo o quanto tudo aquilo lhe afetou.

  - Tem certeza? Não é melhor esperar? Depois vemos isso. – Viviane argumentou, recebendo uma negativa. – Tudo bem. - Deu-se por vencida. Não adiantaria discutir. – Só coloque o sal embaixo da língua e depois que ele derreter, tome a água. – Instruiu, antes de se afastar e ir fazer a chamada.

SaPPyWhere stories live. Discover now