CAPÍTULO OITO

296 33 7
                                    






Eu olhava pelas ruas da cidade, como se fosse a primeira vez e tudo me parecia fascinante, de outro mundo. E realmente era a "primeira" vez, já que eu não tinha ido ainda àquele lado da cidade. As únicas vezes em que eu saí da mansão Delacoir, foi afim de procurar um emprego, na região do nosso bairro mesmo, o que não deu certo por razões óbvias, e a outra vez foi há muitos anos atrás, quando eu tive que enterrar a única pessoa que me amou e se preocupou comigo nessa vida.

As pessoas andavam com pressa, de um lado para o outro. Todavia, era uma mistura, de crianças brincando no parque, cachorros correndo e jovens pintores se inspirando nas praças. A chuva fina que caía sob o céu cinzento deixava o dia ainda mais bonito, pelo menos na minha perspectiva. As singelas gotinhas escorrendo pelo vidro do carro, em movimento e o vento fresco que adentrava pela fresta que eu deixei aberta, da minha janela também colaboravam.

Um menino que aparentava não ter mais que uns cinco anos, segurava um sorvete gigante de umas três bolas, enquanto dava a mão para uma moça elegante, e parecida consigo — provavelmente a sua mãe. — o que me fez lembrar da minha, com carinho e ternura. Haviam poucas lembranças armazenadas dentro de mim, mas as poucas que tinha, me faziam muito feliz.

O garotinho com o sorvete agora, derretendo sobre sua mãozinha pequena e gordinha, olhava para a mãe pedindo por ajuda, acabei sorrindo. Ele era parecido comigo, negro, de cabelos afro, e um sorriso tão brilhante, tão puro. Fiquei pensando se minha mãe e eu tivéssemos tido as mesmas oportunidades que ele e a mãe dele, com certeza estaríamos iguais, na praça tomando sorvete e ainda que o tempo estivesse nublado, seria um dia perfeito, porque estaríamos livres e alegres.

Mas infelizmente, não são todos que têm as mesmas oportunidades. Mas eu ficava feliz pelo menino do sorvete. Inclusive, eu só conhecia o que era tal doce, porque eu e Laras e os demais colegas da mansão Delacoir, sempre pegávamos escondido, as sobras dos patrões.

— Está tão calado, Jake. — comentou quando paramos no semáforo. — No que está pensando?

Suspirei finalmente conseguindo desviar os olhos do menino e mãe, que ficavam para trás e olhei para a morena ao meu lado.

— Em nada. — disse forçando um sorriso. — É muito longe, a floricultura do seu avô?

— Não, já estamos quase chegando. Você vai gostar. — ela diz e quando o sinal se abre, prosseguimos com o trajeto.

— Você acha, que ele vai gostar de mim? E vai querer me contratar? O seu avô? — disparei nos questionamentos, pois eu estava inseguro. Na minha cabeça, o avô de Ashley poderia ser algum senhor preconceituoso, assim como Marie.

— Claro. — ela sorriu. — Eu já conversei com ele, disse que você precisa e que também é muito bom no que faz. Te elogiei horrores para ele, e agora ele está animado para te conhecer!

— Ainda não entendo porque está fazendo isso tudo por mim. — digo confuso. — Você realmente não quer nada, em troca? — a encaro.

— Não, sua amizade já é o suficiente, bom, isso se você quiser. — ela sorriu. — Eu sei que você ainda não acredita totalmente em mim, e sei que tem motivos para isso mas, eu realmente quero te ajudar.

— Por quê? — perguntei a encarando seriamente.

— Porque acho que você merece, Jake. Merece ser feliz, merece viver de verdade, e não sobreviver. — ela suspirou e então pegou reto a avenida que se seguia e até virarmos a primeira rua no final dela, ela ficou em silêncio. — Chegamos. — e então estacionou em frente ao que seria aparentemente a floricultura, pelo menos eu achava que era, já que nunca tinha estado em uma.

ESCRAVIZADO [DARK ROMANCE] ✓ Where stories live. Discover now