Maldita traidora

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"E era por isso que ela gostava daqueles (a)braços. Os apertados. Porque era ali. Era ali que ela encontrava tudo o que tinha de mais bonito."

          - Caio Fernando Abreu





[Amanda]

Saí do banheiro depois de muito tempo, e só depois de lavar o rosto e arrumar o cabelo, aquela mania que eu tinha de puxar ele quando estava chorando alguma hora ia me ferrar muito, afinal eu não queria que soubessem.

Deitei minha cabeça sobre a mesa, olhando para o outro lado. Eu não queria conversar, na verdade eu não queria ter que olhá-los nos olhos, não sabia o que faria se o fizesse.

- Amanda? - Amberly perguntou. Tomei um leve susto com sua voz me chamando do nada. - Está tudo bem?

Não. Nao estava.

Eu queria lhes contar a verdade, queria chorar e abraçar eles até me sentir melhor, mas como eu faria? Eles não poderiam saber.

Eu era uma traidora.

- Claro. - Menti. - Por que não estaria?

- Sei lá, você ficou quieta de repente...

- Só estou com um pouco de sono. Só isso.

- Vamos poder descansar bem quando voltarmos para a pousada. - Disse Vanessa. - Tem quartos o bastante para nós. Escolhi logo a maior e mais cara. - riu.

- Isso que dá ter amiga rica. - Scoot comentou. - Fica mimada fácil.

Ela desfez o sorriso.

- Ah, cala a boca.

Eles estavam tão animados... eu não poderia contar. Mas eu também não sabia o que fazer.

Por que tinha que ser tudo tão difícil?

Quando os nossos pedidos já estavam prontos fomos embora. Durante todo o caminho eu mantive a cabeça baixa e as mãos no bolso, me incomodava os fios em meu rosto mas não os tirei, atrapalhava minha visão mas pelo menos assim nenhum deles veria minha cara. Era melhor assim, para mim. Do restaurante até a pousada eles brincaram e riram, Scoot e Luccas carregavam as sacolas bem a contra gosto, mas foi uma aposta justa no zero ou um, então não puderam reclamar tanto. Foi um longo caminho de volta.

- Voltamos. - Anunciou Luccas quando passamos pela porta.

Emma ainda dormia tranquilamente no sofá, quando saímos ela estava encolhida e ocupando pouco espaço, agora estava com cada parte do corpo em um canto diferente, tão espaçosa quanto suas cadelas que dormiam estiradas no chão. Era uma cena até que engraçada, ela conseguia ser tão folgada.

As três mexeram os funcinhos então acordando, do jeito que mexiam os rabos deveriam ter sentido o cheiro da comida. Uma correu até nós e cheirou as sacolas enquanto as outras duas mexiam com a Emma, se esfregando nela ou lambendo seu rosto para que acordasse. Bom, funcionou, seu rosto se contraiu em desgosto por estar sendo acordada, com preguiça ela se sentou no sofá, olhou para tudo a sua volta e encarou o edredom, processando todas as informações.

- Boa noite, bela adormecida! - Scoot deu um peteleco em sua testa, sorrindo. - Gostou do sono da beleza?

- Não enche. - O afastou. - Onde estamos?

- Na pousada que a Vanessa nos trouxe. Você dormiu, hein?

- Hm...

- Olha bem em volta. - Amberly se aproximou deles - Agora não tem nada de errado, ou tem?

Emma bocejou, bem a vontade.

- Não. Tudo normal.

A garota sorriu e voltou para a cosinha, bem mais aliviada. O estômago da Emma roncou.

Meio Sangue- Missão de resgateOnde histórias criam vida. Descubra agora