luar

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— Alexandre, o que você quer dizer com isso? — Ela segurou seu rosto entre as mãos e encarou seus olhos tentando reconhecer o homem que amava dentro deles.

— Eu vou ser um péssimo pai pra nossa filha, Giovanna. Ela vai me odiar!

— Para de falar besteira, você vai ser um bom pai. Alexandre, você já é um bom pai. A nossa filha vai te amar. Para, meu amor. — Voltou a abraçá-lo. — Nós duas te amamos, Ale. Para, por favor. — Giovanna começou a chorar pelo desespero de vê-lo tão redundante em algo negativo.

— Não é verdade, nenhuma de vocês duas merece alguém como eu.

— Para! Olha só o que você tá falando! Para! Isso é a maior besteira que eu já ouvi. Você foi a melhor coisa que me aconteceu na vida. Eu te amo, você é o cara mais incrível que eu já conheci, para de falar tanta merda. Olha pra gente, olha pra tudo o que abrimos mão para estarmos aqui, olha pro quanto você mudou! — Bateu no peito dele como se isso pudesse lhe trazer de volta à realidade.

— Eu não posso, Giovanna. Eu não vou conseguir ser o pai que a Lua precisa ou o marido que você merece. — Ele seguia se martirizando.

Giovanna não sabia mais o que dizer ou fazer para que ele se acalmasse. O bebê em seu ventre pareceu sentir o estresse e começou a chutar com força. Num ímpeto, a única coisa que a morena conseguiu fazer foi agarrar as mãos do marido e colocar uma em seu coração e outra no local em que Lua chutava.

— Tá sentido? Isso é real, eu não sei o que você sonhou, mas foi só um sonho. A realidade é essa, nós três juntos. Eu preciso de você, a nossa filha precisa de você. — Alexandre encarava a barriga já avantajada da esposa como se estivesse em transe.

— Desculpa. Eu só... eu não quis te assustar. Foi a merda de um pesadelo, acho que o filme ativou um gatilho e desbloqueou a memória do acidente que sofri com os meus pais. — Respondeu envergonhado e a puxou para seus braços.

— Você estava no carro? — Perguntou com cautela.

— Estava, mas nunca tinha me lembrado nitidamente. Foi horrível. Os meus pais morreram porque estavam discutindo por minha causa. — Alexandre a apertava em seus braços e cerrava os olhos com força.

— Não foi por sua causa, amor. Eles tinham os problemas deles. Isso não vai te impedir de ser o melhor pai do mundo pra nossa filha... você vai ver. — Afastou-se dele e o olhou nos olhos. — Lembra quando descobrimos a gravidez? — Ele confirmou balançando a cabeça. — Eu achei que não conseguiria segurar de novo, achei que viveria tudo outra vez e você ficou lá, me acalmando. Você me acalmou a cada medo que surgiu. Nós podemos fazer isso juntos. — Acariciava seus cabelos com carinho.

— Eu não queria te assustar, não queria te deixar assim e muito menos prejudicar a neném. Me perdoa. — Alexandre sentia o corpo pesado passada a descarga de adrenalina.

— Tudo bem, minha vida. Só não faz mais isso. Eu não suportaria te perder, não conseguiria cuidar e criar essa pequenininha sem você. — Outra vez colocou a mão dele e sua barriga e descansou a testa na dele.

— Conseguiria sim, você consegue qualquer coisa. Lua tem sorte de ser você a mãe dela. — Lhe deu um selinho.

— Para de bobeira... vamos lá na cozinha tomar um chá e dormir.

///

Alexandre estava observando o sol nascer da varanda acompanhado de Sorte e um cigarro entre os dedos. Até tentou se contentar com o chá, mas não conseguiu voltar a dormir.

Pela primeira vez, desde que estava com Giovanna, ele percebeu que não poderia evitar suas dores para sempre. Não se ele quisesse ser um bom pai. Ignorou por tantos anos o que refletia em seu interior e agora parecia estar sendo atropelado.

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