38: Noite das garotas.

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Aurora

Comer é a única coisa que eu sei fazer. Não sei cozinhar, não sei fazer todas as tarefas domésticas, tanto que quem faz a maioria é o Enzo. Não sei como trocar um pneu é mais fácil do que lavar a casa, o pano sai da droga do rodo toda hora. Não tenho paciência.

Uns dois dias atrás o Enzo saiu, volto, e saiu de novo e só volto de manhã, ele disse que o Ruan ligo para ele como se isso explicasse tudo.

Balanço a cabeça, foco na conversa das garotas. Sentamos no gramado da faculdade na hora do intervalo. Mastigo a minha maçã.

— Que vontade de comer um churrasco! — Vitória comenta.

— Sim, por favor. — Tereza concorda.

— Sou vegana, mas adoro um legume temperado e assado. — Lola bate papal animada como se tivesse achado um assunto em comum.

— Eu quero achar um lugar pra morrer! — Resmungo acariciando a minha barriga, se eu encontrar quem invento a droga da cólica eu mato também.

— Mas você já tomo remédio. Ainda dói? — Lola hesita antes de pôr a mão no meu ombro. — Não é melhor pegar atestado na enfermaria e ir para casa. É o que eu sempre faço!

Respiro fundo. Sinto muita inveja de quem foi abençoado e quase não sente dor. Elas foram escolhidas por Deus, só pode. Ou tem alguma coisa errada com a genética.

— Um pouco. Tenho um limite de quanto um bolsista pode faltar. Tenho que ter no mínimo 75% de presença, e ser uma das melhores na turma.

— Sério? Então é isso que significa ter uma bolsa. Achei que fosse simbólico, tipo um rei sem coroa. Ele tem o título, mas não tem poder. — Enrola o cabelo loiro no dedo.

— Tá mais para direitos e deveres, uma coisa pela outra. — Gabriele fala pela primeira vez, deixando o celular de lado.

Quando estão comigo passam menos tempo no celular. Meu telefone é de botão, simples e prático. Uso para o básico. Não vejo utilidade em redes sociais, pelo menos para mim. Estamos sentadas na toalha de piquenique que a Tereza trouxe, é bem grande.

O céu está nublado. Me curvo, sentindo uma pontada:
— Já podem cavar a minha cova!

— Dramática. Toda vida é a mesma coisa. — A morena joga um salgadinho em mim.

— Sou mesmo!

Enzo está sentado no banco de pedra debaixo da árvore, faz um tempo. Ele mexe no celular, já recebe um monte de notificação. Ignoro, estou praticamente do seu lado.

— Senta aqui. — Chamo ele.

— Sai do time de futebol porque não gosto de grama.

— Fresco! — Digo.

— Com muito orgulho!

Quando riu, minha barriga dói:
— Não me faz rir, droga.

— Meninas, tive uma ideia. Vamos fazer uma noite das garotas na minha casa! — Lola propõe.

— Pra mim não rola. — Aviso logo.

— Não. Digo, não vai ser a mesma coisa sem você — ela olha para as outras buscando apoio. — Podemos fazer na sexta, então.

Penso. Acabo concordando. Não gosto de dormir fora, principalmente se não posso levar o meu coxão. O Enzo é estranho, mas é ainda mais estranho dormir sem ele.

[ … ]

Assim como combinado. Na sexta à noite fomos todas para casa da Lola. Estamos na cozinha fazendo pipoca, fico apenas olhando elas.

Garotos cruéis! - Livro 01Onde histórias criam vida. Descubra agora