Prólogo

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"Se eu não posso estar perto de você, eu vou me contentar com o seu fantasma

Eu sinto sua falta mais do que tudo na vida, e  se você não pode estar perto de mim

Sua memória é êxtase, eu sinto sua falta mais do que tudo na vida."

Ghost­ ­­— Justin Bieber

WEDNESDAY

6 meses atrás.

Eu estou aqui, mas ao mesmo tempo não. Meu corpo está, mas minha consciência já me alerta de que eu deveria ir embora. Estou parada olhando fixamente para um ponto. Não consigo me mover, minha cabeça está um verdadeiro nevoeiro e eu sinto minhas pernas paralisadas.

— Wednesday, querida. Você está bem? — Uma senhora pergunta a mim.

Consigo saber que é alguém de mais idade pelo tom de voz com qual é proferido.

Só consigo acenar com a cabeça, algo que no dia de hoje se tornou tão maquinal. Sorrio falsamente, escondendo minha dor através dele, algo que também já se tornou costumeiro.

— Eu sinto muito — murmura a Senhora. — Sabe, faz anos que conheci seus pais. Eu me lembro de você...

Quanto mais a mulher vem com essa conversa de "conheço seus pais faz tempo" mais meu ouvido não filtra. Esse falatório é tão enjoativo. E eu definitivamente não preciso disso.

Ao terminar o falatório, a mulher se aproxima de mim e me abraça. Meu corpo inteiro se endireita e eu não retribuo. Não preciso de abraços falsos e pessoas dizendo que são amigos ou conhecidos dos meus pais, quando na verdade eles são meros intrometidos. Reviro os olhos. Não sei como e nem porquê Goody deixou que o pós-enterro fosse aberto para quem quisesse.

O caminho inteiro até aqui foi silencioso, agradeci mentalmente assim poderia ficar em paz. Eu não queria ter vindo até aqui, mas meus irmãos me obrigaram dizendo que era a reunião pós-enterro e quando eu estava prestes a negar mais uma vez fui puxada contra a minha vontade por Goody que me colocou dentro do carro e partiu rumo ao lugar que definitivamente estava em último na lista para fazer uma visita.

A mansão Addams, aquela que um dia foi rosa hoje está totalmente em preto, combinando com o céu chuvoso, porra! Eu só queria ir para casa fumar e não ficar escutando baboseiras de pessoas que acham que porque tiveram poucos contatos com os meus pais que tem que vir aqui falar ou ficar por aqui.

Quando Goody disse que chegamos eu respirei fundo e engoli o nó que estava se formando novamente em minha garganta, a fim de esconder o que estava sentindo. No enterro eu tive que falar o discurso e até que falei bem, não transpareci que estava prestes a desabar, já sou expert nisso, acho que posso me considerar como atriz já. Pugsley estava o tempo todo me perguntando se eu estava bem porque eu parecia pálida, respondi que sim balançando minha cabeça e lhe dando o maior sorriso falso e um aperto em sua mão que estava segurando a minha. A verdade é que eu só desejava poder sumir ou tentar de novo e conseguir, quem sabe dessa vez dá certo e eu consigo ficar pertinho dos meus pais.

Subo para o segundo andar e me enfio no meu quarto. Aproveito que aqui não tem ninguém e retiro uma caixa, sacudindo-a e pego um do maço. Acendo e trago, olhando diretamente para a janela. Enquanto a fumaça saia da minha boca, observo o grande jardim. Ele antes era coberto por rosas pretas, minha mãe amava e meu pai fez questão de encher um jardim com elas, agora elas estão murchas, sem vida, igual a esta mansão.

Minhas pernas tremem e meu coração se dilacera dentro de mim. Eu tentei aguentar, tentei ser forte, mas nada apagará essa dor. Se eu me enfiar na bebida e nas drogas, talvez consiga ter um relaxamento e uma paz.

Preciso dar um jeito de ir embora daqui. Penso.

Meus olhos explodem por detrás das pálpebras me obrigando a aperta-los para conseguir enxergar a tela brilhante na minha frente.

Retiro meu celular do bolso e disco para Yoko.

— Tanaka, onde você está? — Minha voz está totalmente rouca.

— Na cozinha. Por que? Aconteceu algo? — pergunta, preocupada.

— Quero que me leve para casa — respondo e ela suspira, parecendo entender.

— Me dê cinco minutos.

Desligo e desço, estou tonta. Minha cabeça gira e eu tenho que me apoiar na parede e descer devagar as escadas.

Encontro Goody e Pugsley.

— Wednesday, onde vai? — ele questiona.

— Vou embora, não estou bem — respondo sem dar muitos detalhes.

Eles, ao verem o meu estado entendem e só me entregam um abraço no qual eu não consigo retribuir. Eu não possuo forças.

Encontro Tanaka e ela me conduz até o carro. E eu espero nunca mais pisar nessa mansão.

— Você está bem? Quer que eu fique? — Durante o trajeto, essa pergunta é feita diversas vezes.

Nego com a cabeça.

— Eu só preciso de um tempo sozinha.

Muito, muito tempo aliás.

Ao chegar, Yoko deixa um beijo na minha testa.

Agora a única coisa que me importa é eu e meu companheiro.

Dark Obsession - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora