Novo caso

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Simone Tebet

L'appel du vide é o nome que se dá a sensação de estar no topo de um lugar muito alto e, por um milésimo de segundo, a única vontade que se sente é de se jogar. Ir de encontro a imensidão que há no fim daquele pico e que com certeza te resultará em um grande problema.

Ontem, o que eu mais queria era dormir com ela, mas depois de um ano sem frequentar sua cama, eu simplesmente não podia fazer as mesmas escolhas e nos sujeitar a um final conhecido. Há dois meses atrás, tivemos outras dessas tantas recaídas em meu escritório, e foi incrível, sempre é. Estar com Soraya é um l'appel du vide. Ao lado dela, eu sempre vou querer pular e me perder na imensidão que é ama-la e deixar ser amada, mesmo sabendo que o final é bem diferente do começo. E por mais que eu quisesse me perder no corpo e no cheiro da minha mulher, porque sim, na cama, ela ainda era a minha mulher, eu precisava que dessa vez, o final fosse diferente. Sem arrependimentos, sem brigas e desculpas. Dessa vez, quando eu a tivesse, seria por completo e não só por uma noite.

A manhã chegou muito mais rápido do que eu esperava, meu dia seria caótico. Com a chegada de Leany, nós daríamos início ao caso que Renata trouxe, e isso não seria nada fácil, porém me manteria bem longe de Soraya e de todo o meu propósito com ela.

— Bom dia, Denise! — a cumprimentei e fui seguida por ela até minha sala.

— Bom dia, doutora. Já encaminhei todos os documentos que ficaram pendentes ontem. Hoje a senhora tem quatro reuniões, sem contar a de agora cedo com a Dra. Renata e a Dra. Leany.

E é por isso que eu evito me ausentar, ficar fora sempre acumula trabalho e a volta é uma loucura.

— Ah, ia me esquecendo, o Dr. João não vem hoje. Mas é isso, por hoje, por enquanto é só Doutora.

— E você ainda me diz que é só isso, Denise — Brinquei — Vamos lá então, antes de tudo, preciso que você me faça dois favores — Ela concordou e eu prossegui — O primeiro, é fácil, preciso de um café. A noite foi difícil, não dormi bem. E o segundo,é mais pessoal, por favor, não aceite nenhum caso que envolva a polícia federal, principalmente a jurisdição da Soraya — Denise concorda, com uma grande cara de dúvida, mas acreditou ser melhor não me questionar.

— Tudo bem, senhora. Já trago o café — Saiu da sala, me deixando sozinha e pensativa.
Aquele era um grande passo para tentar concertar o que restou da minha relação com a Soraya.

Minutos depois, Denise trouxe meu café e avisou que minhas amigas já haviam chegado, e que a reunião começaria em 15 minutos. Peguei os documentos que Renata havia me enviado e segui para a sala de reunião.

— Bom dia, minha amiga — Leany me cumprimentou sorrindo e muito afetuosa.

— Pensei que não voltaria mais — Rimos cordialmente.

— Capaz de vocês irem me buscar.

— E isso não é uma mentira. Como foi o julgamento? — Leany viajou a trabalho e depois ficou uns dias pelo Rio de Janeiro.

— Tudo na mais perfeita harmonia, ele saiu sem nada e ela ainda ficou com metade da empresa do sujeito — Piscou.

— Eu tenho dó de quem vai contra você nos tribunais e na vida — Me sentei, me preparando para as discussões sobre o caso.

— Você sabe, eu tento ser piedosa, mas eles despertam o que há de pior em mim — Brincou, antes de prosseguir — Aproveitando que todas nós voltamos de viagem e estamos neste clima de descontração, o que você acha de uma festa?

— Eu só ouvi a parte da festa e vou logo dizendo que topo. Adoro as festas organizadas por você — Renata entrou na sala, envolvendo-se com a conversa — Bom dia, e sim, eu acho de extrema importância uma festa.

Veredito de Uma PaixãoWhere stories live. Discover now